domingo, 22 de abril de 2007

A crueldade da Educação no Brasil

Em minhas leituras dominicais, encontrei hoje na revista educação um assunto pertinente. A desvalorização e a frustração do professor brasileiro.Como a revista tem acesso restrito a assinantes transcrevo:

"Foi o desânimo de ser professor"

Reflexo da Educação brasileira:
para recuperar a saúde
psíquica,Celsa teve de
abandonar a sala de aula

No documentário "Pro Dia Nascer Feliz", de João Jardim, uma professora de literatura conta que sofria de depressão em razão dos problemas enfrentados na escola. Celsa Pastorelli, 28 anos de idade, dez de profissão, é a docente em questão. Leciona há oito anos em uma escola estadual de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Seu problema não é com a escola onde trabalha, que tem qualidade acima do padrão do ensino público brasileiro, mas com a crueldade da educação no Brasil. O que mais afetou sua saúde foi perceber que seu trabalho é cada vez mais desvalorizado e que não consegue tirar gente talentosa da pobreza em razão da falta de oportunidades. Afastada das funções de docente, Celsa conta, a seguir, sua experiência.


O que aconteceu com você?

O médico disse que meu problema era profissional. Foi uma depressão, e eu já estou em tratamento há cerca de quatro anos. Agora estou "readaptada": trabalho na secretaria e junto à coordenação da escola. Vou ficar fora da sala de aula por dois anos.

Por que ficou deprimida?

Foi frustração procurar sempre melhorar a aula e não ver interesse do aluno nem ter condições de trabalho. O professor, para ter uma vida mais digna, tem de trabalhar em várias escolas, dar aulas o dia inteiro e esquecer a vida pessoal. É aquela coisa de ver a sociedade do jeito que está, as condições de trabalho, tentar fazer algo, mas o resultado é demorado. Isso tudo se juntou num tipo de estresse.


Houve algum motivo específico?

Foi o desânimo de ser professor, de não ter apoio e de ser mal remunerado. Foi mais pelo problema social da educação, não que meus alunos fossem a causa. Trabalho em uma escola em que os índices de violência são bem baixos. Não temos alunos drogados, o que é comum nas outras escolas. Foi por ver alunos com talento sem oportunidades.

Houve problemas com indisciplina?

Sim, mas isso é comum até nas particulares. Acaba deixando a gente frustrada, pois você prepara a sua aula, com vontade de ensinar, e o aluno está desinteressado.


As coisas pioraram nesses dez anos de profissão?

Sim. A escola tem uma avaliação que é a progressão continuada em que é praticamente impossível reter o aluno. Então, passar o aluno que não sabe vai deixando o professor cada vez mais desestimulado. Não que a retenção seja uma punição, mas ele tem de saber que não estudar terá uma conseqüência. Ele só percebe isso depois que sai da escola. Temos vários alunos que, depois que terminam o terceiro ano do ensino médio, pedem para assistir às aulas.


Quando você identificou que algo estava errado?

Ficava freqüentemente doente, não comia, não dormia direito, tinha pesadelos, alguns espasmos e não ficava em lugar nenhum. Se estava em casa, não queria estar em casa, se estava na escola, não queria ficar na escola. Aí comecei a passar muito no médico, fiz vários exames e nunca dava nada. Depois de um tempo, ele me encaminhou para a psiquiatria.


Que tipo de transtorno foi diagnosticado?

No atestado vinha baixa tolerância à frustração, dificuldade de concentração e labirintite, pois não conseguia ficar em lugares com muito barulho. Lugares com muita gente falando ao mesmo tempo me davam um zumbido no ouvido e eu perdia o equilíbrio, às vezes desmaiava. Desenvolvi também a Síndrome do Pânico. Ver um monte de adolescentes era como ver um monte de assassinos juntos. O coração disparava e tinha falta de ar. Uma situação bem difícil de administrar.


Há muitos colegas na mesma situação?

Sim. Depois que você começa a terapia e fala dos problemas, as pessoas vêm conversar, dá para perceber que sentem exatamente aquilo que você estava sentindo. Arriscaria dizer que 50% dos problemas de saúde dos professores vêm do estresse e da depressão.

Você acha que as direções das escolas não estão preparadas para lidar com esse tipo de problema?

Acho que ninguém está preparado. Os pais também não estão preparados para serem pais. Os professores não estão preparados para lidar com esse tipo de aluno. O diretor, mesmo que tente fazer alguma coisa diferente, acaba esbarrando na lei.

Pretende voltar para a sala de aula?

Gostaria de trabalhar com projetos, mas acho que a sala de aula não dá mais para mim. Pelo menos enquanto não mudar essa situação que a gente tem na escola.


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