domingo, 29 de abril de 2007

Quanto vale um professor?

Recebi hoje cedo do meu amigo, professor Cézar Silva, um e-mail que trata de um assunto muito pertinente para os professores e conseqüentemente para futuro do Brasil. É um artigo de Zuenir Ventura sobre a valorização do magistério, assunto tratado pelo governo federal mais como discurso, do que propriamente como ações efetivas para a verdadeira revolução da educação em nosso país. Confira abaixo.


Quanto vale um professor?

Por mais que se torça a favor, é difícil acreditar que o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) colocará o Brasil "em pé de igualdade com qualquer país do mundo desenvolvido", como espera Lula, quando se vê que um dos pilares desse processo, o professor da rede pública, vai ganhar - na melhor das hipóteses, se aprovado o novo piso salarial- R$ 850 por mês para trabalhar 40 horas semanais. Isso num país em que um deputado federal recebe R$ 12.847, ou seja, quase quinze vezes mais por três ou quadro dias por semana de comparecimento à Câmara (em breve deverá ir para R$ 16.250).

Pode-se alegar que pelo menos esse plano fará o que nem isso os governos anteriores fizeram. Tudo bem. Mas para uma educação que está entre as piores do mundo, como mostram os índices calamitosos divulgados ontem, esperava-se que o choque de qualidade começasse pela valorização do magistério por meio de remuneração decente. Em vez disso, o PDE prefere investir em tecnologia. Até 2010, todas as 130 mil escolas públicas de educação básica receberão R$ 650 milhões em computadores. Só este ano, serão instalados 5 mil laboratórios de informática em escolas rurais e mais de 8 mil em escolas urbanas de 5a 8asérie do ensino fundamental.

Nada contra. Não se desconhece a importância dos meios tecnológicos de comunicação para o aprendizado da criança.

São fundamentais. Mas é preciso tomar cuidado com o endeusamento da informática. Por si, ela não opera milagres no reino da pedagogia. Ajuda e muito, mas não substitui o professor ou a professora numa sala de aula. O economista Naércio Menezes, do Ibmec, citado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, chegou à conclusão de que o uso do computador nas escolas públicas não melhora de maneira significativa o rendimento dos estudantes.

Ao analisar o perfil socioeconômico de 218 mil alunos do ensino fundamental e médio de 5.600 escolas em todo o país, ele descobriu que não são os laboratórios de informática que fazem a diferença. O que faz o estudante avançar nos estudos são velhos fatores como ambiente familiar, ajuda da mãe, livros em casa, pré-escola, enfim, tudo o que antigamente fazia a escola ser risonha e franca, e mais humanizada.

Quem é desse tempo, da "normalista vestida de azul e branco", sabe a importância da "professora primária" que nos ensinava a fazer conta, que nos mostrava as primeiras letras, que nos abria a porta para o mundo encantado do livro. Atrás de um grande leitor ou escritor havia sempre uma delas, lá na infância. É um erro achar que a máquina deve expulsá-las das salas de aula.

No Brasil, a verdadeira revolução na educação virá no dia em que a mestra (ou o mestre) não for trocada pelo computador e valer 15 ou 20 deputados, não o contrário.

Publicado no jornal O GLOBO Por Zuenir Ventura 29/04/2007

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