terça-feira, 29 de maio de 2007

Educação

O dossiê Qualidade da Educação, publicado pelo Estadão , é um dos melhores nos últimos anos sobre o assunto. É triste que esta discussão fique “entre quatro paredes”, pois um ótimo caderno como esse mereceria ser comentado em todos os cantos. São doze páginas com muita informação e comentários interessantes que me deixaram ruminando o assunto durante vinte dias. Não quero aqui resumir a matéria, pois seria impossível, devido à amplitude e à qualidade dos textos. Só lendo mesmo e guardando com carinho para conferir as mudanças (ou não...) dentro de algum tempo.

Tenho criticado a grande mídia, mas desta vez me surpreendi positivamente. Tomara que O Estado venha a mostrar o mesmo empenho na abordagem dos problemas pontuais do ensino público, no que tem “estado” bem ausente...

Vou apenas dar uma idéia do que achei interessante no caderno, dentro do meu ponto de vista de mãe de ex-alunos de escolas públicas, que sentiu na pele os problemas estruturais da rede e continua recebendo as mesmas denúncias de pais e alunos do País inteiro.

Apesar dos elogios, vou começar com uma crítica ao dossiê, que passou por cima de um ponto muito importante. O conceito de que o Brasil conseguiu universalizar o acesso à escola não está correto. Podem ter havido melhoras extraordinárias, mas o País ainda está longe de oferecer vagas para todas as crianças e principalmente para os adolescentes. Existe uma grande manipulação das vagas escolares por diretores de escolas, políticos etc., principalmente em municípios menores, mas também nas periferias dos grandes centros, que impedem a milhares de alunos o acesso e principalmente a permanência à escola pública próxima de sua residência. Pode não parecer, mas isto afeta enormemente a aprendizagem. Uma criança obrigada a andar durante dois quilômetros na ida e dois na volta, muitas vezes sem alimentação adequada, rende muito pouco na escola, se é que não abandona os estudos. Este é um dos fatores do grave fenômeno da evasão escolar.Além disto, muitas escolas negam vagas aos alunos repetentes, com a alegação de que “nesta escola só estuda quem estiver a fim de”...

Outro problema sério, exaustivamente documentado , é a expulsão de alunos pelo Conselho de Escola, uma prática comum em todo o Brasil e que culmina com a exclusão de muitos adolescentes.Já sei que vou receber críticas por estas colocações, pois o assunto é considerado irrelevante. Quem discute educação na sociedade são pessoas de classe média, incluindo professores e diretores de escola, que não dão a mínima para as dificuldades de alunos carentes, excluídos da escola por politicagem ou perversidade. O maior preconceito no Brasil não é contra o negro, o homossexual ou o deficiente, é contra o pobre...

O dossiê do Estadão consegue mostrar a dificuldade de se dar um rumo à educação no Brasil como um todo. E o problema não é o tamanho do país ou as diferenças regionais. O Brasil é um dos poucos países do mundo que, apesar de suas dimensões, tem uma língua compreensível de norte a sul! Muito diferente de pequenos países da Europa, por exemplo, onde o cidadão de uma região não entende o dialeto da região vizinha. Por que tanta dificuldade em ensinar a ler e escrever para as crianças brasileiras, que entendem tão bem o que se fala e que têm uma vivacidade e inteligência tão evidentes?

Uma das informações importantes desse caderno é que os cursos de pedagogia não ensinam ao professor como dar aula. O antigo curso de magistério foi substituído pela exigência de uma faculdade que não supre a necessidade básica do professor. Só se ensinam teorias. Isto é muito grave e se espera seja corrigido em breve. Os cursos de qualificação de professores, dados pelas redes públicas de ensino, têm se revelado máquinas de jogar dinheiro pra o ralo. Durante quatro anos, o Governo do Estado de São Paulo manteve o programa Teia do Saber para a qualificação de 85.000 professores, o que aparentemente não surtiu efeitos em sala de aula, só serviu aos profissionais, que receberam pontuação para sua carreira...

O Estadão acerta em cheio ao mostrar diversos projetos bem sucedidos, ilhas de excelência onde a qualidade de ensino é uma realidade, muitas vezes em regiões pobres e onde a população é pouco instruída. Outros projetos são desenvolvidos paralelamente ao ensino convencional, com os mesmos professores e nos mesmos ambientes, mas com resultados plenamente satisfatórios. Para bom entendedor, meia palavra basta...

E finalmente a matéria aponta a grande solução para a educação: a informação e a troca de experiências, com critério e competência. Exatamente o que falta! Nenhuma escola procura buscar conhecimentos onde há experiências bem-sucedidas, não há integração nem interesse em trocar informações, mesmo em escolas da mesma rede. Isto tem tudo a ver com a falta de espírito comunitário e o individualismo da nossa sociedade, onde ninguém quer mostrar suas deficiências nem dar o braço a torcer para o vizinho. Por troca de experiências não se entendem intermináveis reuniões e bate-papos regados a cafezinho, bem ao gosto nacional. É o estudo de dados concretos aplicados à realidade, no sentido de encontrar o rumo certo. Já está na hora de implantar uma política educacional que funcione a curto, médio e longo prazo. Uma política que consiga sobreviver após as trocas de governo. O Brasil já perdeu o bonde da “década da educação”, iniciada em 1996 com a nova LDB. Quanto tempo ainda vamos ter que esperar para ver o País cumprindo a meta mínima de alfabetizar as crianças em letras e números?
Giulia At

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