terça-feira, 10 de junho de 2008

QUEM FOI MASSILON?


Hoje, passados mais de oitenta anos da invasão de Mossoró pelo bando de Lampião, ainda não foi devidamente escrita a história de dois personagens secundários que participaram direta e ativamente do episódio: refiro-me a Isaías Arruda e Massilon.

Tem outros, que o tempo se encarrega, lentamente, de jogar no esquecimento. Não, entretanto, com a dimensão do ex-Chefe Político do Cariri, Delegado e Prefeito de Missão Velha, e o ex-cangaceiro cuja família deitou raízes sólidas no chão sertanejo da aba da Serra de Luís Gomes, no Sítio Japão.

Isaías é uma figura maior, historicamente falando. Pertence ao ciclo áureo dos barões feudais nordestinos que usavam o título de Coronel. Sua vida, os episódios por ele vividos no Cariri, tudo quanto acontecido nas primeiras décadas do século XX nesse Sertão dos coronéis, do cangaço, do misticismo, está sendo contado muito devagar, no mesmo ritmo dos seus mistérios e segredos, aguardando o somatório dos talentos passados, presentes e futuros de homens contadores de estórias e histórias, repentistas, cordelistas, declamadores, ratos-de-biblioteca, fuçadores de papel, escrevinhadores agalardoados ou não, enfim, dessa imensa fauna que constrói, aos poucos, e sempre, o espírito de uma época.

Massilon, por sua vez, historicamente é uma figura menor. Até por que sua vida no cangaço foi muito curta. Um nonada. Algo da qual ele se afastou logo, queixando-se da sorte, indo em busca dos “eldorados” do Norte.

Foi, pois tinha encontro marcado com a morte. Tivesse ficado, sendo filho de sua época e avesso, por fim, ao cangaço que abraçara cavalgando as circunstâncias, teria, talvez, morrido cedo e da mesma forma, violentamente: era de praxe acontecer com tantos e tantos por aqueles dias.

Mesmo assim deixou sua marca. Gravou seu nome na nossa história de forma definitiva. Não há como se falar em Lampião, Mossoró, 1927, sem que seu nome seja trazido à baila. Sempre é, aliás, embora não com a devida importância.

Importância esta que aparece tão logo alguém se faz a seguinte pergunta: teria havido Mossoró sem Massilon? Pois que Massilon foi muito mais do que lhe pintam a figura e os atos, eu dou fé. E afirmo que ele é maior que os registros existentes, hoje, de suas andanças e feitos. Isso por que ele é um símbolo de como as coisas aconteciam no feudalismo sertanejo.

Ele é o símbolo do feudalismo sertanejo. Naquilo que de melhor e pior tal feudalismo pudesse ter. E tinha muita coisa ruim. Entender Massilon, saber quem ele foi, por que foi, como foi, quando e onde foi, é dar um passo grande na caminhada que é fazer história.

Caminhada que por maior que seja, tem sempre que começar com o primeiro passo. E é necessário dar esse passo, e outros tantos, para conhecer a folhada do nosso presente através das raízes do passado.

Basta, pra entender esse raciocínio, analisar todo esse rico material a partir de uma perspectiva somente: o fio-condutor que é a existência do Poder e seus desdobramentos ontem e hoje: como era? Quem o exercia? Hoje, como é? O que mudou?

Massilon é uma figura emblemática, simbólica.

Peça no jogo de xadrez do Poder da década de 20. Não houve nem há Sertão sem pessoas como ele. Não há Nordeste sem Sertão. Não há Brasil sem Nordeste. Ele, enquanto cangaceiro ou jagunço, Padre Cícero, o Coronel Isaías Arruda, todos são uma das faces de nós, os sertanejos do Nordeste do Brasil.

Honório de Medeiros é advogado, professor e ex-secretário de Recursos Humanos do Natal e do estado

Foto do blog :carlos.blog

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