Na mira do MP, prefeita afastada de Natal tem gastos de rainha
Folha salarial de
dezenove funcionários domésticos, como motorista, faxineira, governanta e
secretária: 21 500 reais. Gastos com roupas e relógios: 5 800 reais. Viagens
internacionais: 35 000 reais. Reparos na casa: 11 600 reais. Esses são alguns
dos gastos mensais de Micarla de Sousa (PV), afastada da prefeitura de Natal no
mês passado sob acusação de desviar dinheiro de contratos públicos. A conta
chegava a 180 000 reais por mês - mais do que todo o ganho declarado por
Micarla durante um ano, de 168 000 reais (seu salário era de meros 14 000
reais).
A investigação do
Ministério Público do Rio Grande do Norte começou em 2011 e detectou problemas
em várias áreas da prefeitura. Os primeiros indícios de irregularidades
surgiram em contratos da Secretaria de Saúde, que somavam 65 milhões de reais -
e, segundo os promotores, eram superfaturados. O episódio alcançou, por acaso,
a pasta da Educação. Em apreensões feitas nas casas de secretários municipais,
foram encontradas planilhas sobre distribuição de propina. Esses documentos
informavam que Micarla ficava com 10% do valor total dos contratos de uniformes
escolares e merenda. O marido da prefeita, Miguel Weber, levava 5% dos
uniformes e 2% da merenda, de acordo com as planilhas. Só nesse caso, concluiu
o Ministério Público, o casal amealhou 194 000 reais. Foi nesses arquivos que
os promotores localizaram as tabelas com os gastos pessoais da prefeita
afastada de Natal, totalmente incompatíveis com os seus rendimentos - ao menos
os oficiais.
A irregularidade típica
do dinheiro sujo - que não cai todo mês na conta, como o salário dos
funcionários honestos - ajuda a explicar o malabarismo que assessores de
Micarla tinham de fazer para lidar com os problemas bancários da chefe.
Francisco de Assis, coordenador da Secretaria de Saúde mas na prática
secretário particular da prefeita, era um dos mais atarefados. Em uma das
interceptações autorizadas pela Justiça, Micarla lhe enviou a seguinte mensagem
de celular: “Assis, dá uma olhada na minha conta e nos meus cartões. Me diga
quanto eu tenho disponível e veja se minha conta tá o.k. ou se voltou algum
cheque”. Em seguida, Assis respondeu: “Saldo devedor de 27 500 reais. Temos que
resolver essa situação, pois os cartões estão no momento bloqueados”. Em outra,
ele ligou para a gerente da prefeita no Banco do Brasil. Perguntou como estavam
os saldos da conta-corrente e dos cartões de crédito de Micarla, porque ela
viajaria para Miami. A gerente informou: “Entrou um cheque hoje e faltaram 200
reais. O total do saldo devedor é 32 900 reais. O cartão dela está com
restrições”. Em algum momento, pressupõe-se, a conta deixou o vermelho, já que
Micarla continuou com crédito. Mas só no banco. Entre a população, não se pode
dizer o mesmo: a rejeição é de 92%. Descrédito total.
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