Imperialistas do século 21, por Carlos Tautz
O que eu vou dizer agora não está escrito em canto algum,
não consta de qualquer documento, nem é vontade admitidade por qualquer
autoridade. É, apenas, fruto da observação de quem acompanha a economia
brasileira pela via da economia política, com olhos que tentam ver além do
factual.
É, portanto, passível de erros. Mas, nem por toda essa
incerteza, pode deixar de ser dito: o Brasil já começou a se expandir
economicamente de forma vigorosa na África e precisa estar alerta para os
altíssimos custos sociais e ambientais que a presença de corporações
verde-amarelas, quse sempre financiada pelo BNDES e viabilizada politicamente
pelo Itamaraty, causa naquele continente.
Por exemplo, a presença da Vale, em Moçambique, e da
Embrapa, em outros países africanos, não tem qualquer sentido humanitário de
criar empregos nem de ajudar a produzir mais e melhores alimentos. Muito menos
a Odebrecht se interessa pelo bem estar dos angolanos.
Em todos esses casos, trata-se de uma exploração econômica
convencional, uma atuação que consome recursos intensivamente e os carreia para
suas matrizes. Embora não pareça, é uma relação exatamente igual à que as
multinacionais da Europa e dos Estados Unidos mantêm conosco em nosso território
e que sempre chamamos de imperialismo. Não temos o direito de repetir esse erro
histórico na África.
Essa reflexão precisa ser feita por nós, brasileiros,
imediatamente. Estamos a pouco mais de um mês da 5a reunião dos governos dos
BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, quando poderá ser
fundado um banco de “desenvolvimento” do bloco, destinado a financiar a
implantação de infrastrutura – rodovias, portos, ferrovias etc –e ações de
“desenvolvimento sustentável” - leia-se, financiamanto a soluções de mercado
para a crise climática.
E a prioridade dessa nova institutição financeira
multilateral (IFM), que vai ser debatida em Durban, África do Sul, será,
provavelmente, a atuação na África.
O nosso BNDES – um banco que deveria ser público mas que se
orienta por interesses privados – serve de modelo para o banco dos BRICS. Em
verdade, essa nova IFM integra a estratégia de expansão internacional do BNDES,
que planeja se tornar um jogador de peso no capitalismo esverdeado
internacional, ainda que viabilizando os piores tipos de megaprojetos
econômicos.
Ocorre que nada disso está sendo esclarecido à sociedade
brasileira. Esse é, portanto, o momento de o Brasil fazer um debate público
sobre o nosso papel no mundo e de como não repetir, como no caso das
corporações brasileiras na África, os erros históricos de que fomos vítimas.
Não podemos ser os imperialistas do século 21.
Carlos Tautz é jornalista e coordenador do Instituto Mais
democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
0 comentários:
Postar um comentário