domingo, 21 de abril de 2013

A cultura do medo


(*) Célio Pezza
O medo é uma reação que surge a partir do contato com algum estímulo físico ou mental que gera um alerta no organismo. Este processo dispara uma resposta fisiológica que libera hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol, preparando o indivíduo para lutar ou fugir. Antes dessa reação temos a ansiedade, onde o individuo teme e sofre por antecipação. Na verdade crescemos familiarizados com o medo e, desde pequenos, nossos pais nos incutem algum tipo de medo, como o medo do escuro, das pessoas desconhecidas, do homem do saco, do bicho papão, das bruxas, dos fantasmas e assim por diante.
Quando crescemos, continuamos sob a cultura do medo: medo da morte, medo de se perder numa rua vazia, medo do pecado, medo da inflação, medo de tudo. A cultura do medo é a melhor forma de manipular as pessoas e muito utilizada para controle das massas. Já Maquiavel aconselhava o Príncipe a instigar o medo nos seus súditos, porque este era mais potente e duradouro que o amor. Governar pelo medo! Esta era a sua orientação, sempre seguida fielmente pelos tiranos e opressores.
A própria educação se deu historicamente através de castigos e do medo. Na verdade a maior parte do mundo é educada pelo medo, para o medo e com medo. Uma criança com medo torna-se obediente e incapaz de impor sua vontade e desta forma o medo torna-se uma limitação do seu potencial. Na vida adulta a cultura do medo continua e temos medo de guerras, de terroristas, de bandidos, de pessoas mal encaradas, de sair nas ruas.
Também temos medo das autoridades, da policia, da morte, dos castigos divinos, das ofensas aos santos, das blasfêmias, de perder o emprego, de ficarmos doentes e assim por diante. Os governos usam e abusam da cultura do medo e com isso vão restringindo a nossa liberdade, nossa criatividade, nosso questionamento e nosso conhecimento. Andamos cheios de medos e essa é a melhor forma de sermos manipulados. Basta uma série de reportagens sobre um tipo especial de gripe e no dia seguinte temos filas para tomar vacinas.
As noticias sobre atentados terroristas, nos fazem ver bombas em todos os pacotes e isso dá margem a aceitarmos de formas humilhantes uma série de imposições das autoridades durante viagens internacionais. Na verdade, uma grande parte das noticias têm exatamente a intenção de nos manter em constante medo. Quanto mais medo, melhor. Quanto mais medo, mais fácil de manipular. Nas religiões também é desta forma; medo de pecar, medo de fazer qualquer coisa que possa provocar a ira divina e como consequência, um grande castigo, como ir para o inferno e sofrer penas atrozes pela eternidade. Onde existe o medo não há espaço para a sabedoria, mas, infelizmente, fomos criados para temer a tudo.
Platão disse que podemos perdoar uma criança que tem medo do escuro, mas a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz. A verdade é que a maior parte dos medos desaparece com o conhecimento e, sem medo, começamos a questionar e não mais aceitar muitas das tolices que nos dizem. Por isto, os Príncipes de Maquiavel espalhados pelo mundo tanto se esforçam na manutenção da ignorância e dos medos.

(*) Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, A Palavra Perdida e o seu mais recente A Nova Terra – Recomeço.

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