domingo, 19 de maio de 2013

O retorno que a Copa não dará


Da coluna Política, no O POVO deste sábado (18), pelo jornalista Érico Firmo:
O jornalista brasileiro mais bem informado sobre os subterrâneos da Fifa, Jamil Chade, do jornal O Estado de S.Paulo, noticiou que a Copa do Mundo de 2014 já é a mais lucrativa da história. Estimativas indicam que o faturamento da Federação Internacional de Futebol poderá superar em mais de 100% a receita obtida em 2006, na Alemanha – recordista anterior. A perspectiva é de a entidade embolsar 5 bilhões de dólares. Já na última quarta-feira (15), o repórter João Bandeira mostrou, no O POVO, que a Copa das Confederações, daqui a um mês, deve ter impacto praticamente nulo na rede hoteleira de Fortaleza. Isso se a ocupação não for menor que no ano passado, pois a estimativa para o período é de 80%, contra 84% de ocupação média no mesmo período de 2012.
No Rio de Janeiro – com capacidade muito maior – estima-se 70% de vagas preenchidas, bem abaixo do Carnaval e até da Semana Santa. Na Copa do Mundo, evidentemente, a realidade será outra. Só os membros da organização já deixam os hotéis abarrotados. Sem falar do apelo incomparavelmente maior. Mas não deve haver propriamente invasão em massa.
Afinal, são pouco mais de 60 mil ingressos no Castelão. Se 40 mil foram comprados por torcedores de fora será muito. Ora, considerando-se que o fluxo turístico no Carnaval de Fortaleza foi estimado em 92 mil pessoas – e Fortaleza não é nenhum Recife ou Salvador – não será dos visitantes que se tirará o retorno dos bilhões que tem investido. Isso vale para o resto do País.
Talvez a grande vantagem que se poderia extrair fosse a canalização de investimentos privados, que aproveitariam a oportunidade criada pelo megaevento. Mas isso não ocorreu em escala significativa, nem há mais tempo hábil. Evidencia-se, mais uma vez, característica pitoresca ao capenga capitalismo brasileiro. Nos países ricos, o empresariado investe muito e arrisca muito na perspectiva de ganhar também muito. Por aqui, salvo honrosas exceções, a regra é a busca do lucro sem risco e sem precisar colocar dinheiro.
Já quanto aos investimentos públicos, eles têm até agora ido pouco além dos estádios. Muitas obras de mobilidade não ficarão prontas até o Mundial. Mas, espera-se, serão concluídas depois. Efetivamente, a Copa serviu para apressar – ainda que não no passo necessário – intervenções que talvez demorassem décadas para se concretizar. No entanto, não se pode dar por normal que os governos brasileiros dependem de evento esportivo para realizar aquilo que se reconhece como importante.
Resta o ganho simbólico com a exposição mundial sem par que as 12 subsedes terão. Esse talvez seja o maior benefício, mas, também, o mais difícil de mensurar. O Brasil – de modo praticamente restrito ao poder público – paga à vista em troca de retorno intangível, impreciso, incerto e que virá no longo prazo. Na ponta do lápis, a Copa não é bom negócio para o Brasil em termos de retorno financeiro. O que foi aplicado não se paga. Fosse com o próprio dinheiro, empresário nenhum no mundo toparia. Mas como o dinheiro é meu, seu, nosso…
E a Fifa ainda bota banca.

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