Você quer médico cubano tratando da sua saúde?
Em artigo no O POVO deste sábado (25), o médico, antropólogo e professor universitário Antônio Mourão Cavalcante comenta a intenção do governo brasileiro de contratar médicos cubanos. Confira:
O Brasil vai receber seis mil médicos vindos de Cuba. No início eu pensei que fosse uma piada. Mas o Dia da Mentira foi em abril… Deve ser verdade. O fato evidencia a firme decisão do Ministério da Saúde de pôr fim a essa deficiência nacional, por um viés totalmente equivocado.
Mas será que existe mesmo carência? Sempre soube que, em nosso país, falho é o sistema de distribuição dos profissionais. Existe uma grande concentração nas grandes cidades e o Interior fica sem cobertura. Por que os médicos não topam morar sertão adentro? Será que o Ministério da Saúde buscou as explicações e causas reais? É senso comum que as prefeituras propõem excelentes salários (R$ 12, 15 mil/mês) e por que eles não aceitam?
Simplesmente porque não é verdade. As prefeituras não possuem recursos suficientes para honrar o compromisso. Os valores repassados pela União não cobrem as despesas. Muitos municípios vão atrasando e vira uma bola de neve. Estes médicos tornam-se boias frias. Não têm qualquer garantia. Muitos trabalham sem carteira assinada, sem 13º e precisam ficar bajulando as autoridades locais para receber em dia. Isso sem falar nas péssimas condições de trabalho, na carência de material e medicamentos.
Estou destacando o lado daqui. Quanto ao lado cubano, é ainda mais cabuloso. Como é que um país que passa por dificuldades de todos os gêneros, tem uma reserva de seis mil médicos – assim prontos – para intervir numa realidade que não conhecem? Numa cultura que não convivem? Aliás, qual o país do mundo que conseguiria tamanha façanha? E, como o governo iria acolhê-los, sem infraestrutura, sem rede de apoio? Sem que revalidem os diplomas que afirmam possuir? Vai-se quebrar uma norma jurídica? Vamos fazer de conta?
Concluo que o Governo Brasileiro, de duas, uma! Ou é muito bobo ou é muito esperto. Bobo por não considerar estas elementares questões levantadas. Esperto, por estar querendo ludibriar e deslocar a questão da saúde para um plano totalmente outro. Aberto o debate, logo haverá uma polarização e assim ganharão mais tempo para empurrar o problema para o próximo governo. Insistindo com essa receita, o Governo Federal estará dando uma bela pisada na bola, beirando a irresponsabilidade.
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