sábado, 29 de junho de 2013

"Precisamos dar apoio a todos os níveis de educação"

A melhoria da qualidade da educação de base vai repercutir diretamente na ponta: no ensino superior. A afirmação é da reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,  Ângela Maria Paiva Cruz, que em entrevista à TRIBUNA DO NORTE pontua esforços em capacitar os alunos que ingressam na instituição com defasagem no aprendizado, bem como na formação superior e continuada dos educadores que atuam na rede pública de ensino.“A preocupação da universidade não é apenas com o ensino superior, é com o todo”, disse”, afirma.

Educação básica e profissional é o tema tratado na 17ª edição do Projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte realizado pela TRIBUNA DO NORTE, UFRN, Sistema Fecomércio/RN, Sistema Fiern e Salamanca Capital Investments, com patrocínio do Governo do Estado, Assembléia Legislativa, Cosern e Banco do Brasil. O Seminárioserá realizado no próximo dia 8 de junho, no Praiamar Natal Hotel & Convention, em Ponta Negra, às 8h, com as presenças do  secretário executivo do Ministério da Educação, José Henrique Paim, do deputado federal Gabriel Chalita, entre outros. Confira a entrevista.

Alex Régis
Ângela Maria Paiva Cruz é reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Ângela Maria Paiva Cruz é reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

A educação de base é uma preocupação da Universidade?

A preocupação da universidade não é apenas com o ensino superior, é com o todo. Temos trabalhado internamente com a oferta desde o ensino infantil, fundamental, médio, técnico, à distância e superior de boa qualidade, cerca de 15 mil matrículas, além dos projetos para qualificar e ampliar a educação básica seja no setor público ou privado. As pessoas são altamente capacitada, mas o financiamento do MEC é muito voltado para o superior e temos o apoio da Secretaria de Educação Tecnológica para apoiar a educação básica, tecnológica e infantil. A melhoria da qualidade nos outros níveis de ensino vai repercutir diretamente na ponta, na graduação e pós graduação. Vivemos há muitos anos uma educação básica de baixa qualidade em todo país, indicadores como o Ideb comprovam isso.  Por outro lado, houve expansão de oferta de vagas nas universidades e a criação do sistema de cotas para  egressos da escola pública. E a Universidade precisa dar apoio, com cursos de nivelamento e políticas de permanência.

Como a senhora avalia a qualificação dos professores e o que tem sido feito nesse sentido? Temos grandes avanços na formação de educadores infantis, a partir do trabalho feito no Núcleo de Educação Infantil (NEI), com cursos de especialização para todo o Nordeste. Em paralelo, abrimos o mestrado profissional em matemática, em  convênio com a Secretaria Estadual de Educação (SEEC), com pólo em Caicó e participação efetiva dos professores da área. Temos também o mestrado acadêmico em ciências naturais e agora a UFRN vai coordenar  o mestrado profissional em Letras, para professores de língua portuguesa que estão em salas de aula da rede pública. O pólo é em Currais Novos mas a coordenação será feita em rede, formada por 41 cursos em todo país. 

Como atrair e garantir a permanência de alunos para licenciatura?Para qualificar também as licenciaturas participamos de programas nacionais, voltados à valorização do professor que já está em sala de aula e para os estudantes das licenciaturas. Para que esses permaneçam da melhor forma no curso, conciliando conhecimento teórico à prática e com oportunidade de elaborar e executar projetos e sobretudo terem condições para se dedicar a essa fase, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, o PIBID, concede bolsas aos alunos, financiadas pela Capes. Hoje temos cerca de 500 alunos bolsistas que recebem para desenvolver projetos de melhoria de ensino junto às escolas, com a supervisão da universidade e da escola. Outro, é o Programa de Licenciatura Internacional (PLI) que permite aos nossos alunos se candidatarem para fazer metade do curso aqui e a outra metade em Portugal, com  dois diplomas, ao final, validados em cada um dos países. 

Estudos do MEC mostram que os cursos de licenciatura são mais buscados por egressos da rede pública e com maior defasagem educacional. Esse perfil permanece, influencia na formação do professor?Ainda é forte a presença de egressos da rede pública de ensino, mas tem mudado na questão de repercussão quando chegam ao mercado, às salas de aula, não se traz tanto o ranço do sistema da rede pública. 

A mudança se deve a quê?Egressos da rede pública tem maior participação nos cursos de alta demanda, com as políticas de inclusão, antes mesmo da lei de cotas, a UFRN vem com o argumento de inclusão e a isenção da taxa de inscrição. E os dados mostram que eles se nivelam no decorrer do curso com os alunos que chegam da rede privada. Seja por receber o apoio da universidade, com políticas de permanência ou mesmo por motivação própria, do quanto ele busca suprir as defasagens educacionais da vida escolar pregressa. Entre aqueles que participam desses programas ou tiveram incentivo do argumento de inclusão para entrar na faculdade, alguns sequer tinham a convicção de seguirem a carreira de professor, apesar de estarem nas licenciaturas, saem certos que são e atuaram como professor. Presenciamos algo difícil de ver na última colação de grau, entre bacharéis e licenciados, ver os últimos recebendo a láurea, ou seja, um apoio e assistência para entrar e permanecer na faculdade pode dar excelentes resultados. Acreditamos que a lei de cotas induz as famílias a creditarem e candidatarem os filhos a uma universidade, um ensino superior, a uma mudança de qualidade de vida.

Quais os resultados do programa de formação continuada dos professores da rede pública do Estado, que é coordenada pela UFRN?Esse é um projeto de longos anos. Com base em relatos da Secretaria de Educação, a avaliação é positiva. Houve uma  melhoria na qualificação. Em muitas escolas há professores com mestrados, especializações na área que atuam. Há a renovação necessária. E isso incentiva para uma nova atualização acadêmica, até pela transformações e avanço da velocidade da informação é preciso uma atualização científica e tecnológica. 

Como o MDRN pode contribuir para esse debate?Queremos, nessa perspectiva da temática do Motores, colocar na pauta do desenvolvimento do estado, a educação como o principal vetor de crescimento social e econômica. Enquanto instituição de ensino superior também temos vários desafios, bem como as próprias escolas. Estas precisam rever o modelo de gestão das escolas para  gerenciar os projetos pedagógicos com mais critérios.  Entendo que o professor é gestor de projetos de vidas, da mesma forma que as escolas precisam de gestão de projetos de formação de pessoas, com metas bem definidas. Para a escola ser um espaço atraente é preciso gestão de políticas públicas, projetos pedagógicos atraentes, infraestrutura, motivar o professor, o aluno e o gestor, passando também pela questão do financiamento.  Há diagnósticos de que o salário não motiva os professores, a valorização é ainda um grande desafio para a rede pública e provada, o salário que não motiva o professor para atrativo se qualificar continuamente e se dedicar plenamente aquela atividade. O piso nacional é um piso, mas muito distante do que deve ser para determinar essa qualidade. Defendemos os 100% dos royalties do pré-sal para aplicação na educação básica. À medida que educação num país é forte, outras políticas, como saúde, segurança, precisariam de menos investimentos.  É preciso uma distribuição de renda mais equitativa, não podemos dar por satisfeito um país que em metade do seu território tem 40% da população com ensino superior e, na outra metade, somente 15% tem acesso a educação superior, isso é perpetuar as desigualdades sociais muito fortes. 

A UFRN é um dos principais ofertantes de cursos do Pronatec. Qual avaliação e resultados?Hoje na Escola Agrícola de Jundiaí há um número bastante significativo, cerca de 20 mil estudantes em cerca de 30 municípios. O Metrópole Digital tem mais 2,4 mil vagas pelo Pronatec. A Escola de Música, 400 alunos em cursos técnicos, inclusive com uma unidade funcionando em Cruzeta. Alguns desses alunos vinham pra Natal. A Escola de Enfermagem deve chegar a 3,5 mil no Pronatec. Temos a maior oferta no Estado, atendendo a demanda identificada pela Secretaria Estadual de Educação.

Enquanto universidade percebe a procura maior por cursos técnicos?Entendemos que universidade pode dar essa contribuição  no ensino técnico e tecnológico e não podemos abrir mão desse papel. As graduações tecnológicas, com duração de 2 a 3 anos, para alguns arranjos produtivos esse formato dá a resposta necessárias, assim como os mestrados profissionais para aqueles profissionais que já estão no mercado mas que precisam de uma qualificação. Mas o que queremos investir e expandir como força é o ensino superior.  O ensino tecnológico é importante pela empregabilidade imediata para todos os setores da economia. Mas não podemos pensar que só a formação técnica será suficiente para permanecer no emprego e desempenhar  a função com a qualidade e exigência do mundo de hoje.

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