OPINIÃO: APENAS O PRÉ-SAL NÃO BASTA
"Precisamos aperfeiçoar os padrões de gestão dos
recursos. Educação deve ser investimento. Mas, mal geridas, as verbas da
Educação podem se transformar em desperdícios", afirma Ângela portela
Os investimentos brasileiros em Educação ficam hoje entre 5%
e 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) - insuficientes para as atuais
necessidades do país. Para a revolução educacional do século XXI, precisamos de
10% do PIB, como prevê o texto do Plano Nacional de Educação, em discussão no
Senado.
Não se trata de um número cabalístico. É consequência do
aumento real de demanda: em 1960 a Escolaridade obrigatória era de 4 anos; em
1972, de oito; em 2016, será de 14 anos. Enquanto as matrículas subiram 250%,
os recursos de impostos aumentaram menos de 100%. E as Creches e a Educação
superior, que custam mais caro?
O maior desafio é o da qualidade, que só se resolve com mais
investimentos. Os 10% do PIB são hoje consenso nacional.
Eles exigem mais R$ 225 bilhões. Indicar de onde virão esses
recursos e examinar como devem ser gastos é o desafio que se coloca aos
integrantes da comissão especial do Senado que me coube presidir, para propor
soluções objetivas para o financiamento da Educação no Brasil. Não temos como
fugir.
Aprovamos propostas para elevar as verbas da Educação, a
partir dos royalties do petróleo e do Fundo do Pré-Sal. Mas essas fontes não
bastam.
A presidente Dilma declarou que os royalties renderão em dez
anos R$ 132 bilhões. É um motor de arranque. Permite que o avião levante voo,
mas o que garantirá o combustível de todo o percurso? Somente chegaremos ao
destino com fontes de financiamento permanentes e sustentáveis. Descobrir e
potencializar essas fontes é o desafio: nos municípios, nos estados e na União.
A União fica com a maior parcela da receita tributária, mas
apenas 5% das matrículas estão sob sua responsabilidade direta. O governo
federal aumentou sua suplementação aos estados e municípios: aí estão o Fundeb
e o Proinfância, a expansão da merenda, do transporte Escolar e dos livros
didáticos para toda a Educação básica. Mas, sem melhorar os salários dos
profissionais da Educação, essas ações perdem força.
À comissão caberá examinar como a sonegação, as isenções e
as imunidades reduzem as receitas da Educação. Não será o caso de estender às
contribuições sociais as vinculações à Educação que hoje só atingem a receita
de impostos? Não se trata de aumentar a carga tributária, mas ajustá-la aos
princípios da capacidade contributiva dos cidadãos e do esforço fiscal das
administrações.
Finalmente, precisamos aperfeiçoar os padrões de gestão dos
recursos. Educação deve ser investimento. Mas, mal geridas, as verbas da
Educação podem se transformar em desperdícios. Irrecuperáveis.
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