Sem penas para jovens infratores
Felipe Galdino - Repórter
“Há uns cinco anos o sistema vem se deteriorando e,
neste ano, praticamente chegamos ao fundo do poço, pra não dizer que chagamos”.
As palavras do juiz José Dantas de Paiva, coordenador estadual da Justiça para
a Infância e a Juventude, refletem o cenário atual e dos últimos anos do
sistema socioeducativo potiguar. Para se ter uma ideia, segundo o magistrado,
apenas neste ano, em Natal, 50 menores em conflito com a lei que cometeram
alguma infração grave (homicídios, assaltos) e deveriam estar em sistema fechado, foram liberados por
falta de vagas nas unidades. Outros 450 jovens que cometeram crimes mais
brandos, estão cumprindo a chamada
liberdade assistida, sendo acompanhados apenas com atendimento socioeducativo.
A Justiça, segundo o magistrado, já bloqueou mais de R$
5 milhões para as reformas de reestruturação das unidades socioeducativas, mas
pouco foi feito, na prática, para abrir vagas de internação ou assistência.
“Por falta de manutenção, falta de investimentos e, sobretudo, falta prioridade
por parte do Governo do Estado, as unidades começaram a se deteriorar. No
aspecto físico e material as unidades todas com a parte elétrica e hidráulica
comprometidas, prédios antigos feitos há mais de 30 anos e que não atendem mais
as necessidades atuais da pedagogia no atendimento ao adolescente infrator”,
critica o juiz José Dantas.
O Centro Educacional (Ceduc) Pitimbu, localizado na
zona Sul de Natal, na divisa com Parnamirim é o maior do Estado. Parte da
jurisdição de Natal e Parnamirim, a unidade está totalmente interditado desde
agosto de 2012, deixando de atender 70 internos que deveriam cumprir a medida
de privação de liberdade. E sem essa unidade, os juízes e delegados são
obrigados a, simplesmente liberar aqueles que cometem alguma infração, até
mesmo as consideradas graves, como assaltos ou mesmo homicídios.
“Se não tem o Ceduc de
Parnamirim, o juiz, pela legislação, determina uma liberdade assistida, que é
um programa mantido pelos Municípios e previsto pelo Estatuto [da Criança e do
Adolescente]. É uma sanção para os adolescentes que cometeram atos infracionais
leves. O menor que cometeu um roubo vai pra uma internação; furto vai pra uma
liberdade assistida. Mas temos uns 50 casos graves de adolescentes que deveriam
estar internados, mas terminaram indo para a rua, para a liberdade assistida”,
lamentou o magistrado.
Das 140 vagas de regime
fechado que o Rio Grande do Norte dispõe para atender a jovens em unidade de
Natal/Pitimbu, Caicó e Mossoró, apenas 38 vagas estão disponibilizadas. As
demais estão interditadas aguardando reformas.
O Ceduc de Mossoró tem
uma capacidade de 40 internos, mas, parcialmente interditado por falta de
estrutura, só tem hoje 20 vagas. Já Caicó deveria receber 30 garotos, mas
também com embargos pela Justiça, só atende 18 jovens. Matematicamente, o
déficit de vagas chega a mais de 70%. Atualmente em Natal, não há nenhuma vaga
“Olha, quem está
precisando de recuperação não é o adolescente, mas sim o sistema que o atende.
O sistema hoje está doente, na UTI, respirando por aparelhos”, finalizou o juiz
José Dantas, magistrado com mais de 18 anos de atuação na área da infância e da
juventude.
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