sábado, 22 de março de 2014

Meio século de caminhada socialista

Em artigo no O POVO deste sábado (22), o jornalista Luiz Henrique Campos comenta livro de Gilvan Rocha, em que a esquerda socialista não reconhece seus erros nos sombrios anos de repressão no Brasil. Confira:
Terminei de ler esta semana o livro Meio Século de Caminhada Socialista, escrito por Gilvan Rocha. O autor, hoje com 72 anos, publicou a obra em 2008, mas nada mais atual para um momento no qual se discute os 50 anos da derrubada do governo de João Goulart. Para quem não sabe, o pernambucano Gilvan Rocha iniciou sua trajetória de luta aos 16 anos, meio que por acaso, empurrado para uma grande passeata de estudantes secundaristas em Recife, no ano de 1958.
Depois disso, graças à aliança entre “socialistas”, trabalhistas, “comunistas”, reacionários e trabalhistas, chegou a fazer campanha para Cid Feijó Sampaio, usineiro ultra-direitista da UDN, contra Etelvino Lins, do PSD, que representava na visão de seus opositores a “oligarquia dos coronéis” em Pernambuco. A chapa udenista venceu, mas o jovem Gilvan, até então mero cumpridor de tarefas do PCB, não entendia muito o real sentido daquela vitória. A partir desse questionamento se vê como dissidência do partidão, fazendo parte da tentativa de implantar uma guerrilha no interior de Goiás, no ano de 1962. É claro que esse intento foi um fracasso.
A sequência biográfica de Gilvan Rocha desde então é marcada por fugas, troca de nomes e o exílio, que o levou também a vivenciar a Revolução dos Cravos, em 1974, em Portugal. A sua rica história de vida, porém, não é mote desse artigo. Mais do que episódios tensos apresentados na obra, o que chama a atenção é a reflexão proposta sobre os erros da chamada esquerda socialista, que para ele seria também culpada pelos longos e sombrios anos de repressão que se seguiram a abril de 1964. Primeiro por ter embarcada, acriticamente, no que Gilvan declara ter sido uma tentativa de luta nacional reformista, e jamais em prol da implantação do socialismo. Segundo, por menosprezar a possibilidade de uma contra-revolução, e por fim, ao considerar que o grande inimigo era o imperialismo americano, esquecendo a dicotomia de classes como ponto central.
Gilvan cobra com dureza autocrítica das esquerdas, que preferem culpar os inimigos ao contrário de reconhecer seus erros. O livro é crítico a Miguel Arraes e ao líder das ligas camponesas, Francisco Julião. Tudo com conhecimento de causa, pois Gilvan vivenciou por dentro esses embates. Tai um bom debate.

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