domingo, 14 de agosto de 2016

Uma anistia para os políticos?

Já se sabe, em Brasília, que a proposta de colaboração premiada da Odebrecht, que será feita pelo ex-presidente Marcelo, preso há 14 meses, e outros 50 executivos, atinge pelo menos 35 senadores. Além disso, na semana passada, ao depor no Supremo Tribunal Federal, o delator Júlio Camargo, ex-representante da Toyo Setal, afirmou ter ouvido do próprio Eduardo Cunha que o presidente afastado da Câmara sustentava nada menos que 200 deputados.

Portanto, se os números estiverem corretos, nada menos que 43% do Senado Federal e 39% da Câmara dos Deputados estariam prestes a se tornar alvos de novos inquéritos no STF caso as delações das empreiteiras e do próprio Cunha venham a se confirmar. É nesse contexto que dois movimentos sincronizados surgiram na semana passada. O primeiro, o de adiar para as calendas a cassação de Cunha no plenário – o que já deve ficar para novembro. O segundo, o de se lançar o balão de ensaio sobre a anistia aos políticos.

Para que essa ideia seja levada adiante, sem que desmoralize todo o esforço de combate à corrupção ocorrido nos últimos anos, a ideia é fazer uma distinção entre caixa dois eleitoral e propina disfarçada de doação eleitoral. Assim, todos os políticos do listão da Odebrecht e de Eduardo Cunha ficariam no capítulo do caixa dois, o que seria considerado um "crime menor", passível de anistia. A propina como doação eleitoral ficaria nos ombros do PT, que pagaria, sozinho, por todos os pecados do chamado “petrolão”.

Essa tese, no entanto, dificilmente irá prosperar. Na semana passada, logo depois que o ministro Gilmar Mendes abriu um processo que pode levar à cassação do registro do PT, a ministra Maria Thereza Moura, do Tribunal Superior Eleitoral, fez o mesmo em relação ao PP e ao PMDB, partidos que também ocuparam diretorias da Petrobras e se beneficiaram de doações feitas por fornecedores da companhia. Como os fatos são idênticos, Gilmar autorizou as investigações.


Além disso, mesmo nas doações para o “caixa dois” dos políticos, sejam eles os 200 deputados de Cunha ou os 35 senadores da Odebrecht, a origem dos recursos seriam os contratos superfaturados das empreiteiras. Isso significa que os parlamentares podem até tentar legislar em causa própria, mas terão que, antes, combinar com os russos, como diria Mané Garrincha. Ou seja: com o Ministério Público Federal e o com o povão, que dificilmente engolirá uma proposta de perdão à classe política.


LEONARDO ATTUCH


Joaquim Barbosa: "aquilo foi uma encenação"

“Hoje é o dia mais dramático para o país em 30 anos”. Foi assim que o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa abriu sua palestra para empresários, horas depois de encerrada a votação do Senado que tornou a presidente Dilma Rousseff ré no processo de impeachment. Ele disse que nem quis  acompanhar a sessão, que definiu como “sessão de conchavo”. E mais ainda:

 - Aquilo ali era uma pura encenação para justificar a tomada do poder.

Embora não tenha pronunciado a sigla PMDB, desqualificou o partido de Temer e apontou a ilegitimidade de seu mandato caso seja efetivado no cargo.

- Vão colocar no  governo alguém de um partido que nunca ganhou uma eleição presidencial. Vão  colocar alguém que sequer um dia poderia ter tido o sonho de disputar uma eleição para presidente da Repúbica. O Brasil, anotem, vai ter que conviver por mais de dois anos com esta anomalia.

Para Barbosa, Dilma não soube combater a corrupção mais foi afastada por acusação que não constitui matéria para impeachment e, as pedaladas e os decretos orçamentários. Criticou ainda a  ligeireza do processo.

- Meu temor é este, o de que se torne fácil, banal, trivial, de agora para a frente, tirar um presidente da República do cargo. Basta que ele contrarie os interesses de meia dúzia de parlamentares poderosos.

O eleitor, o cidadão, disse ele, não foram chamados a participar da solução para a crise política, o que teria sido possível se Dilma e Temer, no momento em que a crise se afigurou grave, tivessem renunciado para possibilitar a realização de novas eleições presidenciais.


- Sou radicalmente favorável à convocação de novas eleições  para presidente da República – disse Barbosa, insuspeito de simpatias pelo PT.

O "Fora Temer" e a censura nas Olimpíadas

Protestos

Torcedores foram expulsos de arenas após protestos contra o presidente interino; para juristas, medida fere direito à liberdade de expressão
por Débora Melo — 

 Carta Capital
 “Se você se manifestar com uma faixa ‘fora Temer’, vamos pegar a faixa”. Foi assim que um agente de segurança do estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, iniciou uma discussão com dois torcedores que assistiam à partida da seleção brasileira feminina de futebol contra a China, na quarta-feira 3. “Dentro do estádio não pode”, disse o funcionário, conforme vídeo que circula na internet.
Protestos contra o presidente interino Michel Temer (PMDB) têm sido reprimidos nos Jogos Olímpicos, e alguns manifestantes chegaram a ser expulsos das arenas. No sábado 6, ao acompanhar uma prova de tiro com arco, um brasileiro foi retirado do Sambódromo por agentes da Força Nacional de Segurança. Motivo: um controverso grito ‘fora Temer’.
No mesmo dia, um grupo de 12 torcedores que assistia à partida de futebol feminino entre França e Estados Unidos teve de se retirar do estádio Mineirão, em Belo Horizonte, após um protesto: além de pedir a saída de Temer, o grupo exibiu letreiros nos quais se lia “volta, democracia”, em inglês (“come back democracy”).
Na noite de segunda-feira 8, o juiz federal João Augusto Carneiro Araújo, em resposta a um pedido do Ministério Público Federal contra a União, o Estado do Rio e o Comitê Organizador da Rio 2016, concedeu liminar proibindo a repressão e a retirada de manifestantes, liberando manifestações pacíficas durante o evento.
Antes da decisão, outros casos de repressão foram relatados pela imprensa e nas redes sociais, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Organizador da Rio 2016 anunciaram que não irão tolerar cartazes de caráter político. “Queremos arenas limpas”, afirmou Mario Andrada, diretor de comunicação da Rio 2016. Vaias, gritos e cantos estão liberados. "Se isso não fosse aceito, metade do Maracanã teria sido esvaziado [na abertura dos Jogos]." Sobretudo nos poucos segundos nos quais Temer assumiu o microfone.
Em nota divulgada nesta terça-feira 9, o COI informou que possui um regra "em vigor há muitos anos" que sustenta que os jogos não devem ser politizados. Segundo o COI, a regra 50 da Carta Olímpica "tem como objetivo separar esporte de política, honrar o contexto dos Jogos Olímpicos e garantir a reunião pacífica de atletas, dirigentes e espectadores de diferentes culturas, crenças e origens". 
O Comitê Rio 2016 informou nesta terça-feira que vai recorrer, mas a decisão do juiz federal será respeitada enquanto não houver mudança, e os protestos estão liberados.
A determinação das autoridades olímpicas também se baseia na lei 13.284, que dispõe sobre as medidas relativas aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. A lei, que foi sancionada por Dilma Rousseff no dia 10 de maio – dois dias antes de seu afastamento pelo Senado –, diz em seu artigo 28º que é proibido “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, de caráter racista ou xenófobo ou que estimulem outras formas de discriminação”, bem como “entoar xingamentos ou cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos”.
Em outro parágrafo, contudo, o texto diz que “é ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestação e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana”. O trecho está de acordo com a Constituição de 1988, que garante aos brasileiros a “livre manifestação do pensamento” (artigo 5º, parágrafo IV).
A lei aprovada em maio não faz qualquer menção a protestos “políticos”. Para a professora Eloísa Machado, da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito – São Paulo, manifestar reprovação política não caracteriza ofensa, e a lei está sendo interpretada de maneira “irresponsável, ilegal e inconstitucional”. “É uma violação à liberdade de manifestação e de expressão no Brasil, um tipo de censura aplicada aos jogos”, afirmou, em entrevista aCartaCapital.
De acordo com a professora, o Coletivo de Advogados em Direitos Humanos (CADHu) – do qual ela faz parte – entrará com uma ação na Justiça Federal de São Paulo para garantir a liberdade de expressão na partida das quartas de final do futebol feminino, marcada para a próxima sexta-feira 12 na Arena Corinthians (Itaquerão). “Estamos preparando neste momento uma ação judicial para evitar que uma pessoa que queira ir ao jogo seja proibida de se manifestar”, disse.


As expulsões de torcedores ganharam destaque na imprensa internacional. Reportagem publicada no domingo pelo diário norte-americano The Washington Post relata que “os Jogos Olímpicos enfrentaram uma nova polêmica neste fim de semana – e desta vez não foi sobre segurança, zika ou águas poluídas, mas censura”. O The New York Times, por sua vez, afirma que as expulsões “alimentam o debate sobre os limites da liberdade de expressão” em um País que passa por um período de “extraordinária agitação política”.
Especialistas consultados pelo site de notícias jurídicas Justificando também afirmam que o veto à manifestação política é inconstitucional. “É evidente que pode [protestar]. Qualquer coisa diferente disso é ditadura”, disse o historiador Salah H. Khaled Jr.professor de Ciências Criminais da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Para Márcio Sotelo Felippe, procurador do Estado de São Paulo, as medidas são reflexo de um autoritarismo crescente no País. “É estado de exceção. A Constituição de 1988 não existe mais.”
Decisão do STF
A proibição de protestos em estádios foi considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2014. Na ocasião, os ministros analisaram um recurso do PSDB que questionava a restrição a cartazes e bandeiras nas arenas prevista na lei 12.663/2012, a Lei Geral da Copa.
Por 8 votos contra 2, o STF entendeu que a proibição era legal. Apesar de ter votado pela legalidade do dispositivo, o relator do processo, Gilmar Mendes, registrou em seu voto que “é preciso ter a visão” de que autoridades públicas estão sujeitas a vaias e protestos, o que não pode ser confundido com ofensa.
“De fato, é preciso que nós tenhamos também certa compreensão do que se diz no estádio, que a gente saiba que ali se empregam expressões figuradas. Ao chamar um juiz de ladrão, ninguém, de fato, está imputando ao juiz uma dada falta, senão a de que ele errou no lance. É preciso ter essa compreensão, como as vaias e os apupos também dirigidos a autoridades, às vezes, de maneira muito mais enfática, a rigor, também não são ofensas de caráter pessoal, elas são apenas manifestações de desacordo. Portanto, é preciso ter essa visão”, afirmou Mendes.
Para Eloísa Machado, o Supremo foi claro na sua defesa à livre manifestação. “O que a Lei Geral da Copa tentava evitar era justamente um tipo de ofensa de cunho discriminatório, um episódio de racismo, como nós infelizmente já tivemos nos estádios do Brasil”, diz.
"O artigo analisado é praticamente idêntico ao da Olimpíada, e a decisão não restringe o direito à liberdade de expressão, pelo contrário, protege a liberdade de expressão e de manifestação, impedindo aquilo que a nossa Constituição já impede, ou seja, racismo e xenofobia. Então, nesse sentido, o 'fora Temer' e o 'fora Dilma' não seriam conteúdos ofensivos, mas manifestações políticas", conclui a professora.


quinta-feira, 31 de março de 2016

BICENTENÁRIO DA PARÓQUIA DE APODI

BICENTENÁRIO DA PARÓQUIA DE APODI
RETROSPECTIVA HISTÓRICA
1766 – 1966

Saudações aos que estiveram à frente dos festejos alusivos ao Bicentenário da Paróquia de Apodi, organizando, dedicando-se de forma atuante, ou de outra maneira, mas que foi importante pela participação, haja vista o sucesso absoluto alcançado no mega evento em Apodi de então.
Ano 2016, 50 anos depois. Saudações estendidas aos que, hoje, se reúnem dando continuidade à comemoração pelos dois séculos e meio de paróquia, a maior data ressaltada do calendário apodiense. De 1966 para cá, meio século transcorrido, só temos que agradecer: primeiro ao Deus pai criador de todas as coisas – louvemo-lo! Segundo, aos que pela fé, amor ao próximo e a sua terra se dedicaram a comemorar os dois séculos de existência da nossa igreja pioneira cristã e, como também, as novas gerações que perpetuam e cultuam a tradição, que se estende desde os tempos primórdios do então surgimento da Missão de São João Batista da Ribeira de Apody. Ensejo este que é de se ressaltar o significado valoroso para formação de uma sociedade cristã e, com a missão catequética, acolhimento de almas, pacificação e civilização dos nativos Paiacus, como bem preceitua as Sagradas Escrituras: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura (Mc, 16,15). A Missão evangelizadora foi iniciada, historicamente, com os abnegados padres jesuítas alemães João Guincel e Felipe Bourel, em janeiro de 1700, no local que se passou a ser conhecido por Córrego das Missões. Tudo se deve aos esforços dos primeiros sacerdotes e religiosos de fé e cumpridores dos seus ideais bíblicos. Engloba-se também frei Fidelis de Padavoli, que, em 1740, “edificou uma pequena ermida de madeira e barro, dedicada a São João Batista, ao norte da lagoa, tendo sido encarregado da construção o português Antônio da Mota Ribeiro”. Finalmente, quanto ao templo, citam frei Ângelo, missionário capuchinho, que construiu o que é hoje a nossa matriz, onde colocou a imagem de Nossa Senhora da Conceição. No dia 03 de fevereiro de 1766, dá-se a criação da freguesia (paróquia), tendo como primeiro vigário o padre João da Cunha Paiva, por providência do bispado de Olinda e Recife, D. Francisco Xavier Aranha. Para o surgimento oficialmente da paróquia de Apodi a história registra como legado pio e desprendimentos de esforços determinantes para tanto, dos senhores Antônio da Mota Ribeiro (para uns), e de Miguel Rodrigues da Silva (para outros). São tantos catequistas ordenados pela a Igreja que passaram pelas
terras de Poty/Pody/Apody e demais paroquianos de fé que só temos que reconhecê-los e prestar a justa homenagem pela brilhante e significativa obra de “Ide e fazei discípulos” (Mt. 28,19) e da comunidade se firmando, se norteando, nos ensinamentos de Deus, embora o que aqui se reverencia seja de forma singela, porém importante, para não os deixar no esquecimento! Cristãos que marcaram épocas distintas, os que já deram as suas contribuições, os que estão e os que vão dar as suas parcelas de colaboração, de modo contínuo, perpetuando a tão nobre missão do cristianismo, de viver em comunidade, de ser paroquiano. Salve paróquia, avante para o tricentenário!
Conterrâneo apodiense aqui se faz necessário, como num ato litúrgico réquiem, voltar ao passado sem olvidar os que já não se encontram entre nós, embora que postumamente nos levam a valorizá-los, merecidamente, pelas suas contribuições, pois se entende o presente, norteado pelos antepassados. Do Bicentenário são poucos que restam agora no nosso convívio telúrico, os quais é um presente glorioso ouvi-los e saber dos feitos de outrora, rememorar a maior festa que já aconteceu em solo apodiense. Foram doze dias (de 07 a 18 de dezembro de 1966), de solenidade religiosa, esportivo e cívico-cultural. Saudemos “in memorian” padre Pedro Neefs, Robson Lopes, Valter Guerra, Alcivan Pinto, Altino Dias, Holanda Cavalcante, João de Deus Gomes, Zé Cabral, Alice Pinto, Maria de Abila, João Custódio, Nenen Tonico, João de Felipe, Bugue... Seria uma lista extensa se fossem postos todos aqui, de reconhecidos e já falecidos, que ajudaram a paróquia na comemoração do bicentenário e que não cabe nominar todos aqui.
Os que se dedicaram ao bicentenário e ainda se encontram no meio de nós, muitos deles com seus bons anos vividos, relembremos: Leonildes Marcolino, Caboclo de Manú, Lalá de Adolfina, João de Toinho, Titico de Mané Pedro, Celly de Tila, Neuma de João Lucas e demais envolvidos cristãos que se congregaram, naquele ano de 1966, que viveram, presenciaram e assistiram a passagem do inesquecível evento histórico do Bicentenário da nossa paróquia.
Nossa homenagem pelos devidos reconhecimentos dos seus trabalhos voluntários – homens e mulheres, – “nordestinos de fibra e arrojo”!
Regozijemo-nos por vivermos e sermos destas terras, “deste vale tão rico daqui”, - santo precursor, mãe divina, salve a nossa paróquia!
Paroquianos, filhos da cidade (que se encontram nos recantos mais longínquos) e aos cristãos de boa vontade que amam essa terra e que dela
fazem o seu novo berço, vivendo em nossa comunidade, conclamo a participarem dos atos comemorativos dos 250 anos de existência da Paróquia de Apodi, transcorrido em 03 de fevereiro do ano em curso, estendendo-se por todo o ano, encerrando-se na festa da padroeira no mês de dezembro.
[1766, padre João da Cunha, primeiro pároco. 2016, padre Maciel, atual vigário da paróquia, entusiasta e reanimador do seu rebanho, ambos missionários que nos honram, tal qual o saudoso padre Pedro Neefs. Todos que congregam e organizam a paróquia de Apodi estão de parabéns por mais uma passagem natalícia e histórica!]

VAGAS MEMÓRIAS DOS FESTEJOS DO BICENTENÁRIO, RESENHAS QUE FICARAM:

1. Além dos festejos religiosos, tivemos o campeonato esportivo, envolvendo os times de futebol que, por sua vez, tinham presidente e rainha representativa daquelas agremiações.
a) Da ACDA, José Virgínio Câmara (?) e Vânia Guerra;
b) GRÊMIO, o mecânico Cabeleira e Arlete Gurgel;
c) CENTRO, Robson Lopes e Gizelda de Quelé, respectivamente.
Foi dito também que o time da Soledade participou deste torneio futebolístico. [Não consegui colher dados.]

2. Aconteceu um desfile com passarela montada no campo de futebol, Estádio Antônio Lopes Filho, de moças bonitas de Apodi para então ser escolhida aquela que seria a rainha do Bicentenário da Paróquia. Disputando, estavam Do Carmo, de Derim Leite, Lourdes, de João de Quincas e Neuma, de João Lucas. Dentre estas, ganhou o certame glamoroso Neuma Fernandes, ficando, em segundo lugar, Lourdes Noronha. Coroou-se e pôs-se a faixa naquela, na rainha, que doravante esteve sempre presente nos atos e festejos alusivo à grandiosa festa. Após o encerramento dos festejos, segundo aquela que foi rainha ao recordar demonstrando ar de saudades, disse: “A coroa e a faixa o padre pediu de volta...”

3. João de Toinho foi um dos que estiveram próximos de padre Pedro, colaborando. Segundo ele, no encerramento da festa do Bicentenário houve uma partida de futebol entre a seleção de Apodi e a de Mossoró, cujo jogo foi retransmitido pela Rádio Rural de Mossoró. O velho Lalá ajuda nos informes e completa: a pessoa que trouxe o
time Ypiranga, escolinha do Potiguar, foi Zoivo Barbosa (o pai de Itaércio). Ainda com João de Toinho recordando, veio a Banda de Música da Polícia Militar, de Natal, que tinha como um de seus membros o sargento Evangelista. Depois ele ficou no Apodi, sendo mestre e professor de música da banda FUNDEVAP. Titico de Mané Pedro informou que, quando essa banda esteve no Apodi para o evento dos duzentos anos da paróquia, cada músico integrante foi distribuído em casas de família do Apodi (haja vista a escassez de hospedaria comercial). Para João de Toinho a festa durou uns dez dias (oficialmente foram doze). Todo dia vinha um padre convidado das paróquias, das cidades vizinhas, para celebrar novenas, confissões e outros atos litúrgicos. Veio muita gente de fora e ressaltou ainda mais: “Foi a festa mais bonita do Apodi!”. O memorialista comentou também sobre as rainhas dos times e a do Bicentenário e também do motor (gerador de energia) que fornecia iluminação pública à cidade, da Usina de Força e Luz Municipal, que se encontrava no “prego” sem funcionar. Doutor Alcivan Pinto levou o motor para o conserto na cidade do Natal, (naquele tempo o governador do Estado era o monsenhor Walfredo Gurgel). Do retorno do motor à Apodi foi como um acontecimento apoteótico. Quando o caminhão, conduzindo o possante motor gerador, chegou ao dito local, Cancela do Posto Fiscal de Canto de Varas, da chapada, o advogado Alcivan Pinto subiu na carroceria e escanchou-se, montou-se como quem se monta em animal, e o caminhão entrou na cidade a desfilar com aquele cavaleiro vitorioso, indo até a Usina, entregar a Raimundo da Luz, que providenciou a sua instalação. Tal ato feito foi como um bravo de vitória, pois os festejos do Bicentenário se realizariam com a cidade iluminada.

4. O jovem estudante da época, Fernando de Chico Guarda, frisou importância que teve a Associação Recreativa dos Jovens Apodienses – AJA, que funcionava no prédio da FUNDEVAP, vizinho à casa paroquial. Era lá que os jovens iam se divertir com festa (tertúlias), no seu salão de dança, jogos de mesas como dama, firo, xadrez, caça varetas (palitos coloridos), banco imobiliário, ping pong etc. Além da apresentação da banda de música, diariamente, no patamar da igreja matriz sempre depois das novenas tinham a festa de rua, na frente do templo, no quadro da praça central – quermesses, com o famoso parque de diversão, bingo, com barracas de guloseimas, bebidas alcoólicas, e bancas com jogos de azar (trinta e seis, vinte e cinco, roleta etc.), para uns jogos da sorte, pois quem
ganhava apelando pela sorte ficava com um dinheirinho a mais para completar a farra da noite. No Bazar da Alegria, comidas típicas, vinte e um, bozó com as tabuinhas numeradas de acordo com os do bozó. Sem falar dos grandes leilões da festa da padroeira, já que os festejos do Bicentenário aconteciam, coincidentemente, no mês de dezembro com o da festa da padroeira, Nossa Sra. da Conceição.

5. Para comemorar o Bicentenário antecipadamente foi feita uma vasta programação e constava a edificação de um monumento defronte à matriz, no local onde existia o velho cruzeiro. Lalá, de boa memória, contou essa história, acompanhada de uma boa risada ao se lembrar que o dentista Bugue foi uma peça importante na construção do monumento, pois foi quem trabalhou voluntariamente na estrutura de cimento armado do citado esqueleto de ferro daquela estrutura comemorativa dos duzentos anos. No entanto, diante do esforço do dentista, o povo dizia, como troco recebido, que “Bugue estava era interessado nos cobogós do velho cruzeiro!”. Pois não é que o arteiro da armação de ferro do monumento, depois de tudo, construiu sua própria casa no centro da cidade e parte dos cobogós estava lá visivelmente aos olhos dos linguarudos. A outra parte, na casa do senhor Geraldo Pinto.

6. Ainda como um legado simbólico para posteridade do bicentenário, foi feito o hino do bicentenário. Para tanto, recorreu-se ao excelente compositor, o padre Alberto Manoel Azêvedo, autor da letra, e ao seminarista Silvio Milanez de Medeiros, que externou a bela melodia do hino, fazendo com que quem a ouvisse nunca esquecesse. Enfim, nunca recebeu a quantia monetária pelo trabalho realizado, ficando a sociedade apodiense com essa dívida eterna. Em 1966, eu tinha apenas cinco anos de idade. Ainda tenho de memória o hino do bicentenário! O compacto, disco de vinil, com o hino do Bicentenário se encontrava na residência do senhor Tião Lúcio, onde cheguei a ouvir várias vezes na radiola, sob os cuidados da sua filha Dodora.

7. O diretor da Rádio Rural de Mossoró era o padre Américo Simonetti. Essa emissora sempre esteve presente nos festejos da paróquia de Apodi, cobrindo apresentações no patamar da igreja e concursos da mais bela voz.

8. A população de Apodi em 1966 era de 19.166 habitantes. Desse total, apenas 4.000 na área urbana. Eu já era importante naquela época por servir de dado estatístico para contagem do contingente, um apodiense com apenas cinco anos de idade.

9. Padre Pedro Neefs ficará na história de Apodi não só como um sacerdote abnegado, mas como um cidadão que soube reconhecer, valorizar e alavancar as riquezas desse solo tão rico daqui. Ele sempre dizia que “os apodienses vivem sobre uma riqueza adormecida”. Alguma rua, praça ou qualquer logradouro é merecedor de tê-lo com seu nome, por justa homenagem.

10. O bispo da diocese de Mossoró era dom Gentil Diniz Barreto. Foi ele que publicou uma mensagem ao povo de Apodi, na primeira página do jornal A Ordem, edição comemorativa do Bicentenário, com data de 10 de dezembro de 1966, dando as benções e felicitações, com o ponto alto do seu discurso aos comparoquianos. Antevendo o futuro, assim disse: “Fazemos votos para que no decorrer do tri-centenário possa a paróquia do Apodi preparar um acervo de serviços pastorais, onde os leigos possam ter a alegria de terem inculcados a presença da Igreja em todos os setores da vida dos que fazem a comunidade de Apodi.”
Decerto, o vigário de então da paróquia, o honorável padre Pedro Neefs, era o referencial do seu discurso, pois o sacerdote tinha incorporado esses princípios, pois o seu trabalho em Apodi já era de reconhecido mérito.

11. Naquele período do Bicentenário, o tesoureiro da agremiação de futebol Centro Esportivo Apodiense era o comerciante Nenen Tônico. Lalá relata que o tesoureiro dava feiras mensais aos jogadores Fifio e a Cacimbão, duas feiras extras no seu orçamento, do seu bolço. Nenen no auge da dor da traição queixou-se ao dizer:
- Fiz dois negros de homens e eles fizeram de mim um cachorro!
Os dois craques iscariotes tinham passado para ACDA em troca de terem o direito de adentrarem ao recinto do clube ACDA, de fato, coisa para época de encher o ego de qualquer um com menos condições financeiras. Com isso, fez com que o pacato e sereno comerciante se exaltasse ao extremo por deixarem o seu time desfalcado. Ego preenchido, barriga vazia. (Lalá no bar do Luá, Apodi, 08 e 09 de janeiro de 2016).

12.Antecedendo a grande festa do Bicentenário da Paróquia de Apodi, na chegada do padre Pedro Neefs, isso mais ou menos em meados de 1964, foi feita uma solenidade de recepção em que foram convidadas várias autoridades, ou melhor, pessoas notáveis da cidade para se fazerem presentes e assim receber e dar boas-vindas ao recém-chegado padre de naturalidade holandesa e, concomitantemente, à
apresentação dos apodienses, o locutor Valter Guerra, ao microfone ia anunciando os nomes dos presentes, tecendo comentários sobre a atividade profissional daquela pessoa. O primeiro foi o próprio locutor, que se autoapresentou como fiscal recenseador do órgão público federal IBGE e, nas horas vagas, tocador do instrumento de sopro clarinete. Tudo bem, tudo verdade. Em seguida, identificou o renomado professor Robson Lopes, mestre educador do ginásio Antônio Dantas. Frisou ainda que o novo padre tinha alguém no Apodi para uma conversação no idioma inglês. Passou para o próximo, o Caboclo de Manú, este como mestre artífice das construções e homem dedicado às obras da paróquia. Depois, o locutor prosseguiu, apresentando o comerciante e fazendeiro Nenen Tônico e, sucessivamente, os farmacêuticos Nenen Holanda e João de Custódio, os alfaiates Titico de Mané Pedro e Albercir Pio de Sousa. Referenciou Lalá, que se fazia presente, como o grande leiloeiro das festas da igreja e ajudante braçal da paróquia, João de Toinho, membro da família tradicionalmente religiosa – os lúcios – trabalhador auxiliar de mestre de obra, Alice Pinto baluarte da paróquia, por ser organizadora dos festejos religiosos, Maria de Abila, tabeliã do cartório, fervorosa religiosa, e as professoras Ivone Maia e Maia Do Carmo Maia, diretora da LBA. Enfim, diante de tantos comentários realistas, chegou a vez de Altino Dias. O locutor, já um tanto exausto, por falar e procurar adjetivos para seus comparoquianos, apresentou-o simplesmente como sapateiro. Só que, inesperadamente, quebrando o ritual protocolar, Altino se pôs de pé e remendou o anunciado do locutor:
- Sapateiro não, pistonista!
Lá pras tantas do ato receptivo, o padre já se sentindo em casa, mas com a erudição europeia, diletante da boa música e das sinfonias, predispôs-se a ouvir aqueles instrumentistas, que tanto fascinavam seus ouvidos. Chegou a pedir que o ajudante paroquial Lalá fosse pegar o clarinete para Valter executar algumas melodias, exibindo seus dons musicais. Como bem sabia, assim o fez merecedor de aplausos. O padre parece que não ficou satisfeito só com uma apresentação. Sugeriu convidá-lo, interessado em ouvir também aquele que se apresentou como pistonista. Mas Lalá, conhecedor dos dotes musicais de Altino, foi duro no esclarecimento dos fatos com a sua linguagem rasteira:
- Padre Pedro, Altino só sabe tocar aquilo com a mão!
O exímio tocador mesmo de piston era o irmão Aurino e Lalá, primo deles, se sentiu à vontade para falar o que deu na cabeça. Embora arrependido pelo dito, o velho Lalá, se abriu num largo sorriso ao relatar o fato, depois de tanto tempo.
Contado por Lalá em dezembro de 2016.

13.A festa do Bicentenário da paróquia de Apodi foi muito bem organizada, o sucesso deveu-se a equipe e suas ideias, uma delas era onde tinha um filho de Apodi, residindo em outra cidade ou estado, padre Pedro, quando conseguia o endereço remetia-lhe carta/convite.
Fotografia do acervo de João Paulino Neto (1966). Veem-se Dr. Alcivan Pinto e Dr. Lacy Gadelha em solenidade do Bicentenário no Estádio de Futebol Antônio Lopes Filho. Ao fundo, algumas das rainhas, provavelmente do Bicentenário e/ou dos times de futebol.

PADRE PEDRO NEEFS FOI PARA APODI MAIS DO QUE UM SACERDOTE, MAIS DO QUE UM PREFEITO, POIS O LEGADO É IMENSO E DE VALOR, TANTO DE CUNHO RELIGIOSO QUANTO NO SÓCIO-CULTURAL!

P.S.: Para elaborar o presente texto, o autor conversou com João de Toinho, Titico de Mané Pedro, Lalá de Adolfina, Fernando de Chico Guarda e William Guerra. Também fez leitura do jornal A Ordem, do Bicentenário, de 10 de dezembro de 1966.

Natal, 17 de janeiro de 2016
Nuremberg F. de Sousa (Nurim de Bugue).

domingo, 13 de março de 2016

Contra quem?

O golpe é contra você


O golpe não é contra Dilma. Não é contra Lula. Não é contra o PT. O golpe é contra os 54,3 milhões de votos que elegeram a presidenta em eleições livres e limpas. O mandato presidencial a eles pertence. Caso a agressão à soberania popular promovida pelo golpe se concretize, eles é que serão cassados.
Por Marcelo Zero*, no Brasil Debate
O golpe é contra os 54,3 milhões de votos que elegeram a presidenta em eleições livres e limpas. O mandato presidencial a eles pertence. Caso a agressão à soberania popular promovida pelo golpe se concretize, eles é que serão cassados.
O golpe é contra os 42 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média, nos últimos 13 anos. É contra os 22 milhões de cidadãos que deixaram a pobreza extrema para trás. É contra as políticas sociais que praticamente eliminaram a miséria no Brasil. Miséria histórica, atávica, contra a qual os representantes do golpismo pouco ou nada fizeram, quando governavam.
O golpe é contra um processo de desenvolvimento que conseguiu tirar o Brasil do Mapa da Fome. Fome secular, vergonhosa, que os golpistas nunca conseguiram saciar. O golpe é para colocar o Brasil no Mapa da Vergonha.
O golpe é contra a igualdade e pela desigualdade. Os que apostam no golpe também apostam na desigualdade como elemento essencial para o suposto bom funcionamento da economia e da sociedade. Eles apostam na meritocracia dos privilégios.
O golpe é contra a valorização do salário mínimo, que aumentou 76,5%, nos últimos 11 anos. O golpe é pelos salários baixos para os trabalhadores, pois, para os golpistas, salários reduzidos são essenciais para o combate à inflação e a competitividade da economia.
O golpe é contra a geração de 21 milhões de empregos formais, ocorrida nos últimos 12 anos. Quem aposta no golpe aposta num nível de desemprego mais alto, para reduzir os custos do trabalho. Aposta também na redução dos direitos trabalhistas, na terceirização e na volta da precarização do mercado de trabalho.
O golpe é contra a Petrobras e pela Petrobax. O golpe é contra a política de conteúdo nacional, que reergueu nossa indústria naval e reestruturou a cadeia econômica do petróleo. O golpe é contra a nossa maior empresa e tudo o que ela simboliza. O golpe é pela privatização e pela desnacionalização.
O golpe é contra os programas que abriram as portas das universidades brasileiras para pobres e afrodescendentes. O golpe é contra o ENEM e pelo vestibular. O golpe é pela manutenção da educação de qualidade como apanágio para poucos. O golpe é pela privatização do conhecimento. O golpe é contra as novas oportunidades e pelos antigos privilégios.
O golpe é contra o SUS e o Mais Médicos, programa que leva assistência básica à saúde a mais de 60 milhões de brasileiros que antes estavam desassistidos. O golpe é contra a saúde pública e pela mercantilização da medicina. O golpe é contra médicos cubanos e pacientes brasileiros. O golpe é pela doença que rende lucros. O golpe é uma patologia.
O golpe é contra a política externa ativa e altiva. O golpe é contra a soberania e por uma nova dependência. O golpe é contra o Mercosul e a integração regional. O golpe é para desintegrar a projeção dos interesses brasileiros. O golpe é para nos alinhar aos interesses das potências tradicionais. O golpe é contra o grande protagonismo que o país assumiu recentemente. O golpe é para nos apequenar.
O golpe é contra uma presidente honesta e pelos corruptos. O golpe é contra o governo que mais combate a corrupção. Que multiplicou as operações da Polícia Federal de 7 por ano para quase 300 por ano. Que fortaleceu e deu autonomia real a todas as instituições de controle. Que engavetou o engavetador–geral. O golpe é contra as apurações e pela impunidade. O golpe é contra a transparência e a verdade. O golpe é um engodo ético e moral. O golpe é cínico e hipócrita. O golpe é uma grande mentira.
O golpe é contra o futuro e pela restauração do passado. A única proposta do golpe é o golpe.
O golpe é contra a esperança e pelo ódio, para o ódio. O golpe é intolerante. O golpe é mesquinho.
O golpe é contra a grande nação e pela republiqueta de bananas.
O golpe é contra a democracia. Contra o Brasil.
O golpe é, sobretudo, contra você.
*É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).

Em defesa da democracia

Um convite ao bom senso
Flávio Dino, governador do Maranhão

Mudanças impostas à força no Brasil sempre resultaram em grandes desastres. O exemplo mais recente foi o golpe civil-militar de 1964, que prendeu, exilou, perseguiu e torturou brasileiros, sem amparo em regras legais. Ao contrário disso, o Brasil avança quando maiorias são construídas nos marcos do Estado de Direito, mediante diálogos e consensos progressivos, sem rasgar regras constitucionais.
Rasgar princípios e regras, a pretexto de uma luta política momentânea, abre as portas para jogar-nos novamente no imprevisível. A pretendida solução de um impeachment sem base constitucional não seria um ponto final, mas o marco zero de um longo ciclo de vinganças, retaliações e violência política, que arrastaria a economia para uma depressão ainda maior.
Seria um caso único no presidencialismo no Planeta: um Chefe do Poder Executivo ser afastado sem ter pessoalmente cometido qualquer crime no curso do mandato; e afastado sob a liderança de políticos que, eles sim, respondem a processos criminais. Nem Kafka, nem Marx, nem Hegel escreveriam um roteiro tão "criativo".
Chegamos na beira do precipício com uma gravíssima crise política. Recentes ações atabalhoadas de alguns promotores são sintomas institucionais de preocupante descontrole geral, em que tudo pode acontecer. Não teremos um "vencedor" nesta guerra. É preciso que todos os lados envolvidos sentem-se para dialogar tendo à mesa o futuro do país.
Do lado da oposição, é preciso entender que, por maior que seja a ânsia de retornar ao poder, o momento marcado na Constituição para esse debate será outubro de 2018. Do lado do governo, é preciso apresentar uma agenda clara de retomada do crescimento econômico, que supere a crise que vivemos com conseqüências alarmantes para o emprego e qualidade de vida de milhões de brasileiros. Essas soluções não passam por um “ajuste fiscal” que consome metade dos recursos da União com pagamento de juros. É preciso reduzir os juros e retomar programas de crédito direcionado, como o “Minha Casa Minha Vida”.
Fora do mundo político, é preciso que as elites econômicas também assumam a responsabilidade sobre o clima de beligerância criado. Atualmente, a crise só tem servido a bancos, que em meio a uma queda de 3,8% do PIB viram seus lucros crescer 15% chegando à somatória de quase R$ 50 bilhões em lucro – apenas considerando as três maiores empresas privadas do setor. São os seus interesses de manutenção dos juros altos que levam à crise recessiva. Com a recessão instalada, os bancos defendem que é preciso aumentar juros para atender ao "mercado", mantendo o círculo vicioso. Ou seja, querem um Brasil em que somente 1% da população ganha, passando por cima dos interesses e direitos dos demais 99%.
As grandes empresas de mídia do país também devem ter consciência do papel decisivo que desempenham neste momento. A onda de pregações delirantes e boatos sobre intervenção das Forças Armadas mostram a gravidade do quadro. Não vale a pena destruir a democracia por interesses momentâneos. Sempre se deve lembrar que o princípio da ação e reação atua também na história.
Na guerra de todos contra todos, sobressai o mais forte. E com certeza, no mundo em que vivemos, esse não é o interesse do cidadão comum. É preciso retomar o diálogo sério para encontrar soluções aos males que realmente afligem o país, como o subfinanciamento da saúde pública, os casos de Zika, a crise econômica, o desemprego, a mobilidade urbana. Toda forma de corrupção deve ser combatida, mas segundo o devido processo legal, conduzido com serenidade, prudência, sem a paixão pelo espetáculo.
Será vergonhoso para o País chegar a agosto de 2016, na abertura de um evento que celebra a união dos povos, os Jogos Olímpicos, no clima de conflagração interna que vivemos. Só o diálogo pode salvar a Nação de momentos ainda piores.

[MÍDIA CORRUPTA] A maior de todas as corrupções

Por Venício A. de Lima, na Carta Maior
“Se as palavras servem para confundir as coisas é porque a batalha a respeito das palavras é indissociável da batalha a respeito das coisas”. Jacques Rancière, O Ódio à Democracia, Boitempo, 2015.
A geração do pós Segunda Grande Guerra se lembrará de que, na metade do século passado, crescemos sendo educados sobre a grande ameaça que pairava sobre o mundo ocidental cristão: o comunismo ateu.
Em tempos de Guerra Fria, sob a tutela dos interesses da política externa dos Estados Unidos, o
comunismo vermelho transformou-se na encarnação do mal na Terra, o inimigo comum a ser combatido. Era isso o que aprendíamos em casa, na escola, no catecismo da igreja, no rádio, nas revistas infantis, nos jornais e nos filmes “de guerra”.
Na minha mineira e barroca Sabará, circundada por dezenas de igrejas Católicas do ciclo do ouro colonial, mais tarde cidade operária de movimento sindical forte, a mera suspeita de que alguém pudesse ser simpatizante comunista bastava para que se criasse um estigma social como se esse alguém fosse portador de doença contagiosa, a ser evitada a qualquer custo.
Com a vitória da Revolução Cubana, o inimigo comum ficou mais próximo e ainda mais perigoso: o comunismo e, claro, seus seguidores, os comunistas subversivos.
A oposição política ao Getulismo herdado pelo presidente João Goulart, democraticamente eleito, materializou o anticomunismo na luta sem tréguas contra a ameaça que seu governo representava de “vir a ser” controlado por comunistas.
A narrativa pública sobre essa ameaça e a necessidade inadiável de defesa da democracia “antes que fosse tarde demais” foi sendo consolidada. Um vocabulário específico foi costurando a nova linguagem que aprisionou o pensamento de vastas camadas da população com o protagonismo ativo da “Rede para a Democracia” que reunia diariamente em todo o país emissoras de rádio e jornais dos principais grupos de mídia da época: Os Diários Associados, O Globo e o Jornal do Brasil.
Não se constituiu exatamente em surpresa, portanto, quando na reta final para o golpe civil-militar de 1964, setores, sobretudo, da classe média urbana, saíram às ruas para defender os valores e tradições cristãs, o mundo livre e a democracia, para combater o inimigo comum, o comunismo e os subversivos comunistas.
A corrupção, sim, a corrupção aparecia apenas como uma coadjuvante do inimigo principal na narrativa publica dominante.
Deu no que deu. Em nome do anticomunismo, da democracia e em defesa dos valores cristãos, o país padeceu 21 longos anos de ditadura.
Mais de meio século depois, um novo inimigo comum - A Guerra Fria acabou (?). O comunismo
deixou de ser o inimigo comum do Mundo Livre, do Ocidente Cristão. Lyndon B. Johnson não é mais presidente dos EUA e nem Lincoln Gordon seu embaixador no Brasil. Os militares brasileiros se dedicam às suas missões constitucionais. As Torres Gêmeas foram atacadas em Nova Iorque. O mundo se globalizou.
Muita coisa mudou, mas a exigência de um inimigo comum para garantir a identidade e a coesão ideológica de uma posição política (ou de um grupo) continua mais atual e necessária do que nunca.
O terrorismo e o islamismo – ou o terrorismo islâmico – passaram a ocupar o lugar de inimigo comum que antes pertencia ao comunismo no cenário internacional, a partir do início do novo século.
Entre nós, mais recentemente, o comunismo foi substituído por um velho e conhecido inimigo, coadjuvante nos idos de 1964: a corrupção da coisa pública e, claro, os corruptos.
Hoje, mais do que ontem, os oligopólios privados que controlam o que chega ou não ao conhecimento público – vale dizer, que controlam o espaço onde se forma a opinião dita pública – detêm o poder de definir a linguagem dentro da qual se enclausura a construção do inimigo comum.
Hoje, mais do que ontem, a definição do significado de cada uma dessas palavras – o que constitui corrupção e quem são os corruptos – faz parte essencial da própria disputa pelo poder.
A novidade entre nós, nos últimos anos, talvez seja a participação militante de setores do Judiciário que, seletivamente, escolhem qual corrupção devem investigar, e quais os corruptos devem ser julgados e condenados. Tudo com a colaboração ativa e decisiva da grande mídia e de seu vocabulário e linguagem uniformes.
O resultado de todo esse processo – que já presenciamos – é um país dividido ao meio, intolerante e
cheio de ódio.
A corrupção é hoje o que o comunismo foi nos tempos de Guerra Fria. E os corruptos foram sendo seletivamente definidos como sendo apenas os petistas, filiados, aliados ou apenas simpatizantes do Partido dos Trabalhadores. Combater o petismo e tirar os seus líderes do poder – mesmo que tenham sido democrática e legitimamente eleitos – ou impedi-los de tentar, democraticamente, voltar ao poder – foi aos poucos se constituindo na prioridade de vastas parcelas da população.
A memória coletiva, infelizmente, é curta. Muito curta. A maioria dos brasileiros talvez não saiba ou não se aperceba que os anos passam, mas as estratégias e os mecanismos de luta pelo poder se repetem e, muitas vezes, perpetuam os mesmos grupos e os mesmos interesses: a maior e mais antidemocrática de todas as corrupções é a corrupção da opinião pública.
Talvez um dia a História (com H maiúsculo) revele a todos os brasileiros o que de fato está a acontecer no Brasil de 2016.

Memorial da Democracia - Um museu das lutas democráticas do povo brasileiro

domingo, 3 de janeiro de 2016

FORMIDÁVEL APOLINÁRIO


“O Gênio de Apodi”

Não é de hoje, todavia já se ouviu falar de seres humanos com mentes formidáveis, pelo mundo a fora. Foram, ou são, homens cultos, cientistas, inventores e até cidadãos comuns com raciocínios rápidos e acumuladores de informações descomunais. Mentes fenomenais que se perpetuam na história pela importância que tiveram dentro do seu meio intelectual e, ou, científico.

O Apodi foi contemplado com desses raros possuidores de mentes extraordinária, o único, o inigualável, é o que se pode comprovar, até o dia de hoje, não apareceu outro! Veio para a fama o apodiense que logo tão cedo externou dotes intelectuais fora do comum, isso num tempo em que pouquíssimos estudantes que despontavam nos estudos, na capital, quebrando barreiras ao passarem no dificílimo vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, da área médica, como: Francisco Câmara (Chiquinho de Joel), José Nilson Câmara (Zé Nilson de Josué) e Getúlio Maia no curso de medicina; Nilson Guerra (filho do escritor Valter Guerra) e Eronildes Tôrres, na odontologia, já este cursou em Manaus; Moésio Holanda, medicina, Fortaleza e algum outro na universidade de agronomia, de Mossoró e no curso de Direito, Natal e Ceará. Contavam-se nos dedos os filhos de Apodi que estudavam fora para serem doutores, com canudos e anéis de formatura. Orgulho para a família e para cidade, também.

Apolinário ou Paulinho como era mais conhecido, nos anos setenta, do século XX, quando o Apodi era uma pequena cidade tranquila e sem vislumbrar prosperidade, ele fez com que despertasse a admiração ao elevar, conjuntamente com o seu sucesso, o nome da cidade esquecida. Apodi deixou apenas de ser um ponto no mapa do Rio Grande do Norte, pois se comentava por todos os cantos e se lia nos principais jornais impressos: o gênio de Apodi, o superdotado de Apodi, mente prodígio, o agricultor-gênio apodiense que não frequentou banco escolar... 

É de se perguntar já que ele era inteligente e porque não prosperou na vida, não chegou cursar uma faculdade, não se formou em grau de doutor? A resposta é simples, porque ele mesmo viveu no seu mundo cercado de rudeza. Apolinário teve suas origens na zona rural de Apodi, no seio de uma simplória família carente, analfabetos, de agricultores e conviveu no povoado sítio Boa Vista entre pares sem instruções e na extrema ignorância. Talvez se encontre justificativa pela característica intrínseca de ter sido temperamental e, de certo modo, considerado de incivilidade por alguns, já por ter sido contundente em suas respostas insípidas quase sempre subestimando os seus interlocutores por não encontrar sintonia com o seu raciocínio.  Não frequentou bancos escolares, mas segundo o seu irmão Antônio de Carvalho (de apelido O Padre), nos primeiros nove dias de sua vida escolar repudiou a escolinha de ensino primário já por achar que a professora não sabia o suficiente, o que se lecionava, ele, já sabia de tudo. Não encontrava ressonância para troca de saberes à altura do seu intelecto. Apolinário abandonou desde então o ensino oficial e continuou adquirindo seus conhecimentos, como autodidata, devorando revistas, enciclopédias, livros e mais livros com leituras dinâmicas, incansáveis. Tinha uma facilidade incomensurável de assimilar, captar e explicar o que lia de forma extraordinária. Se distinguindo, logo cedo, dos demais, contemporâneos seus. Apolinário era ávido por leituras, não podia ver compêndios ao seu alcance que folheava e o lia ligeiramente, comprimindo os olhos, semicerrados, como se estivesse procurando as letras e absorvendo em sua mente o que se via nas linhas e nas entrelinhas. Apolinário nunca aprendeu a escrever, redigir, corretamente o seu idioma pátrio. Uma de suas caraterísticas era ler em voz alta gesticulando os lábios. Conta-nos o médico Francisco Câmara, na época acadêmico de medicina, que certa noite, em Natal, na Residência Universitária de Medicina, casa 8, da UFRN, quando o Apolinário esteve acomodado como hóspede por lá, ao ver um volumoso livro de traumatologia, de um colega, pegou-o e deteve-se a lê-lo varando a noite, ao bater a capa do livro por ter lido por completo já sob a luz clara da matina.  O sábio de Apodi era tão viciado em leitura que vez por outra aparecia no Posto Fiscal de Canto de Varas, da Secretaria da Fazendo do Estado, tão somente, com o objetivo de passar a noite a ler os últimos livros adquiridos pelo fiscal renda de plantão, o senhor Carlos Freire; lembrou o senhor Toinho Monteiro em conversação sobre Apolinário. Ainda sobre teste, submetido por autoridades da cidade, Apolinário também passou pelo crivo do padre Pedro Neefs e do promotor de justiça Jarbas Martins quando lhe foi dado livro para se fazer a leitura com o intuito de posterior interrogatório sobre o mesmo, fato que aconteceu se folheando aleatoriamente páginas e, para cada pergunta se tinha resposta, Apolinário comentava o assunto referendado deixando o pároco e promotor pasmados – ele sabia de tudo!  Memorizou o mano Haroldo Ferreira de Sousa. 
 
Como sempre, o “santo de casa não faz milagre”, ou melhor, não recebia as merecidas considerações, na cidade com a maioria da população composta por pessoas iletradas viam Apolinário como uma pessoa de comportamento estranha e até como louco; já na minoria, como superdotado; poucos eram os que o valoriza. O acadêmico de medicina de então, Chiquinho de Joel, nos períodos de férias era frequentador, de toda tarde do dia, da farmácia do senhor Holanda Cavalcante, homem este conhecido na cidade por ter vastos conhecimentos, tanto sobre doenças, de remédios a medicar, como da história em geral, um paramédico que gente estudada da cidade frequentava a sua botica para salutares confabulações que envolvia um pouco de tudo. Assim, o acadêmico de medicina, o escritor Valter de Brito Guerra e outras figuras letradas se faziam presentes e lá, era ponto de encontro do admirável Apolinário. Foi a partir daí, que se deu a descoberta das potencialidades de Apolinário e o convencimento de persuadi-lo para ir a capital do Estado, onde atingiu o auge por dar entrevistas e participar de debates respondendo perguntas de conhecimentos gerais, na ponta da língua, inclusive, até sendo recebido na residência oficial do governo do estado potiguar, pela primeira dama, dona Aída Cortez. Tamanho era o prestígio de Apolinário que o até hoje, o insuperável governador do Rio Grande do Norte, Cortez Pereira, persona culta, que estava para além do seu tempo, também o admirava, inclusive, doou-lhe “muitos livros que os quais ele conhecia o conteúdo de todos ”, ressaltou a irmã Irene Maria de Carvalho. 
 
No mesmo período do sucesso na capital, em Mossoró, Apolinário também deu show de conhecimentos quando se submeteu a participar de programa da emissora Rádio Rural de Mossoró, à uma roda composta por homens intelectuais que lhe testava os seus conhecimentos e, o gênio apodiense, aduzia com argumentos consistentes à bateria de questões. Do mesmo modo em Natal, na Televisão Universitária, Programa Xeque-Mate, diante de sábios e estudantes bem preparados do curso de jornalismo a inquiri-lo, respondeu à todas perguntas de modo convincente e satisfatórias “não deixou de responder uma pergunta”, pelo reconhecimento, como quem recebe troféu ao subir ao pódio, não é que todos que se faziam presentes, o “aplaudiram de pé”, frisou doutor Francisco Câmara. Apolinário fez o maior sucesso em Mossoró e em Natal, mesmo sem ser cantor, ator e jogador de futebol, reconheceram e ovacionaram àquela mente brilhante.

Hoje, quem sabe, por falta de mentes portentosas a imprensa chega a batizar, indevidamente, até jogador de futebol por – Fenômeno. Tal epíteto, de acordo com a sinonímia, cai perfeitamente para o nosso saudoso – Apolinário, já pôr esse termo significar: “fato de interesse científico e que pode tornar-se objeto de experiência ou de estudo. Pessoa ou coisa que se faz notar por seu caráter anormal ou surpreendente”. O Paulinho da Boa Vista, alcançou esses requisitos, pode-se compará-lo com algo mais, pois foi o nosso primeiro computador humano em um tempo em que não se ouvia falar de tal máquina, pois Apolinário era detentor de uma memória invejável, como se diz no linguajar tecnológico de hoje, parecia possuir chip com capacidade de vários gigabytes. Foi um verdadeiro armazenador de sabedoria.

Outro dia, numa reunião matinal de amigos assíduos, na calçada da residência de Adonias filho, Apodi centro, presenciei Apolinário a fazer cálculos mirabolantes, de cabeça, com numerais com casa dos milhares, baseado numa matéria científica de certa revista sobre a calvície, de acordo com média mencionada e outros dados numéricos chegou a calcular o número de cabelo de um ser humano normal, em questão de segundos. Elaborava cálculos mentalmente com resultados precisos e rápidos que só se faria, pessoas normais, usando da calculadora.

Surpreso com a elevada inteligência, o repórter da Tribuna do Norte, para o qual Apolinário era entrevistado (matéria publicada, 24.06.1973), em véspera dele participar do programa Xeque-Mate, fez uma ressalva referente a uma pergunta capciosa, mal formulada proposital (?), “Paulino é capaz de, sem nem usar a ponta do lápis, fazer potências e frações, raiz quadrada, etc. No momento em que dava esta reportagem um dos presentes solicitou para que ele elevasse 5 a sétima potência. Pois muito bem não elevou, como continuando com a conversa, sentiu que a potência elevada não corresponde a sétima, e sim a oitava depois de entrar noutro assunto totalmente diferente”. Assim o sábio agricultor se saia categoricamente de situações inesperadas lhe impostas propositalmente ou não. Reformulando as perguntas errôneas e respondendo-as sem se titubear. Pela sua cultura e inteligência, ainda o repórter diz, “calcula-se que o ‘QI’ dele seja um dos mais elevados e tendo participado de um teste psicológico na UFRN com duração 4 horas.”

Vez por outra, se via-o a perambular pelas redondezas de Apodi, a pé, feito retirante solitário, com chapéu de palha e só com a roupa do corpo. Percorria por estradas e veredas visitando fazendeiros e demais sitiantes, se auto convidando às refeições, como também, para pernoitar. Apolinário gostava de uma rede, embora desapegado da higiene diária contemplava-se com a prática do ócio, sem sombra de dúvida foi um adepto contumaz da filosofia aristotélica.
Apolinário Ferreira de Carvalho, nasceu no sítio Boa Vista município de Apodi em vinte e três de julho de mil novecentos e trinta e um, era filho de Vicente Ferreira de Carvalho e Maria Angélica da Silveira. Faleceu em seis de fevereiro de dois mil e onze com oitenta anos de idade, vitimado pela mazela do câncer prostático. Com o seu desaparecimento no meio de nós, perdeu-se um apodiense que fez registro histórico nos anais da imprensa escrita e televisiva norte-rio-grandense, foi-se também uma mente de talento.

O gênio de Apodi jaz, juntos aos restos mortais dos seus pais, em uma cova modesta no cemitério do povoado Malhada Vermelha, zona rural de Severiano Melo-RN.
Nesse exato momento, cumprindo etapas em outra dimensão, livre das doenças sem curas... espera-se que o tenha redimido de suas posições ateístas, assim sendo, quiçá esteja vagueando como um bom samaritano por todos os recantos do céu, como bem ele gostava de fazer por estas bandas das terras, daqui.

Natal, 19/12/15.
Nuremberg Ferreira de Sousa









     

domingo, 6 de dezembro de 2015

O Vice-Presidente Michel Temer é sócio do golpe

Não se esperaria solidariedade de Temer, mas apenas seu compromisso com a legalidade. Entretanto, com sua deslealdade, ele se tornou sócio do golpe
Michel Temer fez questão de deixar transparecer sua absoluta falta de solidariedade institucional com Dilma, cujo cargo legítimo de Presidente da República está ameaçado pelo processo de impeachment instalado pelo psicopata corrupto que preside a Câmara dos Deputados.
Não se esperaria solidariedade política de Temer com Dilma, mas apenas o compromisso dele com a legalidade e com a democracia. Com sua deslealdade, entretanto, ele se tornou sócio e fiador do golpe.
O afamado Constitucionalista, que é vice-chefe de Estado do Brasil, teria o dever elementar de se solidarizar com a instituição Presidência da República, mesmo que não se solidarizasse com a figura da Presidente.
Ele preferiu, ao invés disso, marcar seu descolamento de Dilma. A renúncia do ministro Eliseu Padilha, um dos seus principais representantes, é uma demonstração estridente deste rumo assumido.
Enquanto Brasília fervilha com os passos iniciais do impeachment que ameaça o governo do qual é vice-presidente, Temer viaja a São Paulo para conchavos com os setores oposicionistas e com o empresariado.
Na bagagem, leva aos tucanos a promessa de não disputar a reeleição em 2018, caso assuma a Presidência uma vez consumada a deposição de Dilma.
Ele é também portador do documento “Uma ponte para o futuro”, a bula programática para o pós-impeachment.
Este texto reflete um liberalismo rudimentar, pré-constituição de 1946: profundamente retrógrado na visão de desenvolvimento nacional e sobre a idéia de nação brasileira. É o programa mínimo para coesionar o reacionarismo nacional na cruzada do retrocesso e da restauração neoliberal-conservadora.
A traição de Temer é chocante. Qualquer análise de boa fé reconhece a total inadmissibilidade da denúncia de impeachment. Não há a menor evidência de crime de responsabilidade cometido pela Presidente da República.
Um Constitucionalista como ele deveria encabeçar a reação a esta decisão absurda do seu correligionário Eduardo Cunha, mas ele optou por se associar aos golpistas.
O governo, os partidos e as organizações do campo democrático-popular e de esquerda e os setores democráticos da sociedade, estão ante o desafio gigantesco de compensar a minoria congressual e frear a marcha golpista com uma ruidosa maioria política e social em defesa da legalidade e da democracia.
A disputa pela sobrevivência do governo será complexa e dramática. Para conseguir maior eficiência política, o Governo e a Presidente terão de ter um desempenho muito superior ao atual, que até agora tem sido muito aquém da exigência histórica.
O governo tem de começar a executar o programa eleito em outubro de 2014, pois do contrário corre o risco de esvaziar a energia e a pulsação popular indispensável para a defesa da democracia e para a resistência ao impeachment.
O impeachment da Dilma é a versão neogolpista que atinge o Brasil em 2015, depois de ter atingido Honduras em 2009 e o Paraguai em 2012. Ocorre, contudo, que o Brasil não é Honduras e nem é o Paraguai, onde as resistências sociais foram ineficazes.
 
É nas ruas que o destino da democracia brasileira será traçado. É das ruas que devem ecoar as vozes estridentes e ensurdecedoras para pressionar o Congresso e bloquear o golpe.
Somente o povo organizado ocupando as ruas e defendendo a democracia, a legalidade, a igualdade, os direitos, poderá deter o golpe e os golpistas e expulsar delas os intolerantes do MBL, do Vem Pra Rua e as entidades congêneres do fascismo que apregoam intervenção militar, disseminam ódio e intolerância e estimulam práticas xenófobas, racistas, sexistas, machistas.
Em paralelo à ampla mobilização popular, deve ser travada uma guerra comunicacional de informação, de esclarecimento e de disputa narrativa dos acontecimentos como nunca antes o PT e o governo conseguiram travar.
Temer é sócio do golpe; um dos seus principais fiadores e o interessado direto no desenlace do impeachment. Com esta escolha, ele assume também a condição de sócio do caos no país, porque ninguém pode prever o resultado da reação democrática de massas à violência que ele co-patrocina com Eduardo Cunha contra o legítimo mandato da presidente Dilma.

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