segunda-feira, 2 de julho de 2007

Texto atribuído ao jogador Zé Roberto faz um pequeno retrato do Brasil



Circula na internet texto atribuído ao jogador Zé Roberto, que recentemente deixou o Santos Futebol Clube e a seleção brasileira para voltar à Alemanha, onde vinha morando e já jogou por muito tempo.


O texto não fala sobre futebol. É sobre insegurança, violência. O jogador exagera em algumas colocações ( por exemplo ao falar de religião), o atleta faz um pequeno retrato de problemas que afetam o nosso país tais como: violência, corrupção e racismo.

Vale a pena ler.

"JOGADOR ZÉ ROBERTO SE DESPEDE DO BRASIL

Inicialmente gostaria de expressar minha gratidão ao Brasil. Foi com prazer que por muito tempo defendi a camisa canarinho e me orgulhei de ser brasileiro. Infelizmente este país não faz mais parte de mim.

Por muitos anos, vivi com minha família na Alemanha e me identifiquei completamente com o país. A despeito de certos intolerantes e racistas, que são minoria, minha família se integrou totalmente ao modo de vida alemão. Minhas filhas mal falam português e são totalmente fluentes em alemão.

Para voltar ao Brasil, isto pesou muito. Queria que elas se sentissem, como me sentia, brasileiro. Queria que conhecessem o meu país, que falassem a minha língua nativa, queria mostrar o lado bom do Brasil, um pouco diferente daquilo que volta e meia aparece nos noticiários da TV alemã. A tentativa foi em vão.

Muito embora tenhamos ficado em uma cidade muito acima da média do padrão de vida brasileiro, os males que a assolam me parecem regra, não exceção na vida brasileira.

Não nos era permitido andar sem seguranças; minhas filhas não podiam em hipótese alguma passear ou brincar na rua; ir à praia que fica a menos de 100m de nosso apartamente também era contra a recomendação do que nos passavam os seguranças e companheiros de clube.

Todo o tempo que estivemos no Brasil, ainda que livres fisicamente, éramos reféns psicológicos. Mesmo sendo um ídolo local, o risco parecia nos acompanhar a cada esquina virada, a cada momento em que passeávamos.

A sombra do sequestro ocorrido dois anos atrás com outro ídolo local, Robinho, nos perseguia por todos os lados.

Assistir o noticiário televisivo alimentava ainda mais nossos medos. Por sorte, minhas filhas não entendem muito bem o português. Se entendessem, descobririam um país em que o crime está por todos os lados: está nas escolas, está nas faculdades, está no Judiciário, está no Congresso e está até mesmo na família do presidente.

Imagino o choque cultural para elas, criadas em um país com padrões morais tão
rígidos. Me ponho no lugar delas, penso como deve ter sido desagradável esta
estadia no Brasil.

O que pensavam quando dizíamos que elas não podiam andar livremente nas ruas? O que pensavam quando dizia que era melhor não dizer às amigas que eram minhas filhas? Como entendiam que não brincar na rua, que não passear em parques e que sempre andar com aqueles homens que não conheciam, era o melhor para elas?

Minhas filhas devem ter detestado o Brasil. Foi com muita alegria que receberam a notícia de que voltaríamos à Alemanha.

Além da segurança, há a questão da discriminação. Embora etnicamente muito diferente da população local, minhas filhas sempre foram respeitadas e nunca vistas com menosprezo.

Aqui no Brasil, onde todas as raças se misturaram e não dá para saber quem é o que, sofríamos com um tipo de discriminação inimaginável para elas: éramos vistos como anormais por nossa religiosidade.

Por aqui imaginam que negros sofram de racismo na Alemanha, mas praticam uma intolerância inexplicável por sermos evangélicos. Ou, como é dito pejorativamente por aqui, somos 'CRENTES', palavra carregada de maus juízos.

Dentro do futebol, jogadores como eu que se organizam em grupos chamados de ´Atletas de Cristo´, são vistos com ressalvas,especialmente pela mídia que acompanha o esporte.

Por todos estes motivos, levo minha família de volta à Europa. Pelo meu sucesso e também pelas nossas escolhas, o Brasil se tornou um suplício para aqueles a quem mais amo.

Batalhei a vida inteira para sair da pobreza e ter sucesso profissional. Acima de tudo isto, sempre busquei construir uma família feliz e correta.

Hoje, a felicidade de minha família tem como pré-requisito afastá-las do Brasil. Por isto que, ainda que com tristeza, faço o melhor para elas."

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