terça-feira, 14 de agosto de 2007

POEMA DA TARDE




Rosto nu (Sophia de Mello Breyner Andresen )

Rosto nu na luz direta.
Rosto suspenso, despido permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.

Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na angústia do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.

Rosto derivando lentamente,
Presentimento que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem.

Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens e eu toco a solidão com uma pedra.
Rosto perdido

Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.

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