A pressão criada pela política de cotas
Em artigo no O POVO de sábado (11), o jornalista Luiz Henrique Campos avalia o sistema de cotas como ingresso nas universidades públicas. Confira:
Como bem mostrou a reportagem “Rede pública espera maior e melhor permanência dos alunos com as cotas”, publicada na edição do O POVO do último dia 8, assinada pela jornalista Samaisa dos Anjos, já se nota movimentação no sentido de maior interesse pela escola pública a partir da política de cotas para ingresso nas universidades federais. O principal argumento seria a possibilidade de mais chances em relação à concorrência. É preciso, todavia, que se olhe com apuro essa movimentação sob pena de estarmos desperdiçando ótima oportunidade de avançarmos na qualidade do ensino público.
Em princípio, nada contra que se busque a escola pública em vista das cotas, mesmo porque, há muitas famílias que pagam com imensas dificuldades mensalidades no ensino privado, e nem sempre conseguem obter os resultados esperados. Muitas dessas, que se enquadram no perfil de cotistas de uma forma ou de outra. O questionamento que não pode deixar de ser feito, e ai, considero essa movimentação perigosa, é buscar o ensino público achando que oportunidades serão maiores em virtude do nivelamento por baixo. Isso, além de ser um desvirtuamento da utilização da política de cotas, seria desonesto, se visto em sentido amplo.
O interessante nesse quadro, é a possibilidade de que através do retorno à escola pública, se possa pressionar pela melhoria das condições oferecidas, hoje bem abaixo do que temos nas escolas privadas. Mesmo que por vias tortas, talvez seja uma das grandes consequências positivas das políticas de cotas, com reflexos diretos em vários outros setores. O momento para que isso aconteça é extremamente propício. Vivenciamos a ascensão econômica de parcela significativa da população, e como consequência, isso implica em mais cobrança por serviços de qualidade. As manifestações de rua recentes já demonstraram um pouco desse descontentamento de quem não mais aceita migalhas.
Educação, assim como saúde, são gêneros de primeira necessidade que não podem mais ser negligenciados. Os governos precisam entender esse momento como reflexo do que o país está vivendo, e que por mais que se tente ir contra, trata-se de caminho sem volta.
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