domingo, 18 de maio de 2008

AGRIPINO PEDE DESCULPAS À DILMA

Entrevista concedida À revista ISTO É
Há duas semanas, no depoimento da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, o senador José Agripino Maia, líder do DEM, fez uma pergunta que permitiu à ministra dominar a cena e acuar a oposição. Era uma chance para que os oposicionistas pressionassem a ministra a dar respostas sobre o mais recente escândalo que incomoda o governo: o vazamento de informações sobre gastos do governo Fernando Henrique.


Ao ser procurado por ISTOÉ para falar das dificuldades que o DEM enfrenta no combate ao governo Lula, Agripino sentiu que seria a oportunidade de se redimir do erro que cometeu. Cuidadosamente, fez questão de redigir em duas folhas de bloco com uma lapiseira fina o pedido de desculpas à ministra da Casa Civil que se seguiu a uma pergunta sobre o episódio. "Aproveito esta entrevista à ISTOÉ para pedir desculpas à ministra Dilma. Reconheço que cometi um erro", afirmou Agripino.

ISTOÉ - A oposição hoje tem um campo de atuação bastante estreito, imprensada pela popularidade de Lula. Isso permite ao presidente afirmar que vai fazer seu sucessor. É correta essa avaliação?

José Agripino Maia - Eu acho que cada vez que o presidente cresce na popularidade, ele começa a dizer coisas que um estadista não diz. O presidente, que está vivendo um momento de popularidade alta em decorrência do desempenho da economia, está cometendo um pecado capital. Ele teria condições tranqüilamente de consolidar a reforma política, que está parada na Câmara por falta de vontade política do governo. As reformas sindical e trabalhista não passaram da distribuição de R$ 100 milhões às centrais sindicais.



ISTOÉ - As críticas que o sr. faz não encontram eco suficiente na sociedade. O que está faltando à oposição?

Agripino - O processo de amadurecimento político de qualquer país se faz pela compreensão das idéias dos partidos. O Brasil - e esse é um defeito que temos - habituou-se a prestigiar pessoas, e não partidos. O presidente da República, com a sucessiva edição de medidas provisórias, entope a pauta do Congresso, e o Congresso, com as suas virtudes e os seus defeitos, tem perdido prestígio junto à comunidade. Poucos partidos políticos hoje têm nitidez de idéias.



ISTOÉ - Mas o governo não tem responsabilidade nenhuma nisso?

Agripino - O Brasil hoje é refém do preço das commodities. Temos a inflação sob controle pelo que se fez no Plano Real, que vem de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, e pela responsabilidade fiscal praticada por Henrique Meirelles, pelo ex-ministro Antônio Palocci, que Lula continua a avalizar. Isso produziu inflação sob controle e receitas suficientes que permitem que os programas sociais sejam feitos, promovendo bem-estar para as pessoas, com nível de emprego crescente. Isso dá às pessoas renda e, com a inflação baixa, condição para que elas comprem o que nunca puderam comprar. Então, você tem um nível de satisfação grande.



ISTOÉ - Esse raciocínio caberia na boca de um líder de um partido governista...

Agripino - Mas aí é que vem o erro. E se o preço das commodities, que estão produzindo esse resultado, baixar? A economia do Brasil, pela responsabilidade fiscal e pela contenção da inflação, atingiu um patamar de boa qualidade. O crescimento acima da média - média para o Brasil, não em relação aos países emergentes ou da América do Sul - se deve ao preço das commodities. Na agricultura e nos minérios, estamos exportando muito, gerando muito emprego e distribuindo muita renda. Agora, estamos perdendo o bonde da história, porque poderíamos estar num nível de competitividade muito maior. O Brasil adquiriu os vícios do governo Lula.



ISTOÉ - Que vícios?

Agripino - Gasto público de má qualidade, inchaço do Estado, aparelhamento do Estado com quadros de qualidade duvidosa, um vício que ficou permanente e que produzirá resultados negativos para o futuro.



ISTOÉ - O DEM fez mudanças para ter maior nitidez ideológica. Mas perdeu competitividade eleitoral. Não foi um erro de estratégia?

Agripino - Os partidos políticos têm um papel a desempenhar na sociedade. Cada um tem de ter um nicho de pensamento. Nós estamos desempenhando um papel, na minha opinião, histórico.



ISTOÉ - A opinião pública critica a carga tributária, mas ao mesmo tempo é a favor de uma presença forte do Estado. Não é sintoma de um fosso entre o discurso do DEM e o pensamento da sociedade?

Agripino - Não sei se o que a sociedade quer é Estado forte. O PAC nada mais é que um elemento de reunião, com uma boa formulação de marketing, para um elenco de ação normal em qualquer governo. Todos os governos tiveram ação nas áreas de transportes, comunicações, saúde, segurança. Os convênios eram assinados nos gabinetes dos governadores ou nas sedes das prefeituras. Hoje, são assinados em praça pública pelo presidente da República.



ISTOÉ - O sr. acha que a ministra Dilma Rousseff, como mãe do PAC, tem possibilidade eleitoral real para 2010?

Agripino - Há uma diferença entre a pessoa ser gestora de um programa como o que o presidente Lula entregou a ela e sua capacidade eleitoral. A avaliação da ministra como gestora ainda está por acontecer. Os primeiros números não são favoráveis. A ministra é apontada pelo presidente Lula como candidata, até em detrimento de outros pretendentes da base aliada. Alguns mais antigos. Ainda não vejo nela a adversária a ser batida. Até porque temos a consciência de que Dilma é uma gestora em estágio probatório. Segundo ponto: para ser um grande candidato você tem de ter traquejo político e capacidade de agregação. Ela ainda não foi testada nesses dois aspectos.



ISTOÉ - Esperava-se que a ministra ficasse intimidada no depoimento no Senado. Mas, a partir de sua polêmica questão de ordem, a ministra se saiu bem. Por que não foi possível à oposição emparedá-la?

Agripino - Aproveito essa entrevista a ISTOÉ para pedir desculpas à ministra Dilma Roussef. Reconheço que cometi um erro ao formular a pergunta que eu fiz à ministra, mencionando, de forma desnecessária e indevida, a entrevista em que ela relata episódios vividos quando foi presa e torturada pelo regime de exceção. Eu não pretendia afrontá-la, e muito menos desrespeitá-la. Mas assim foi interpretado, e, por isso, peço desculpas. Mas o que eu queria e continuo a querer é a verdade sobre o dossiê sobre gastos do governo FHC. Quem mandou fazer, onde foi e com qual objetivo.



ISTOÉ - A perspectiva do DEM nas grandes capitais, nas eleições para prefeito, não é muito boa. Qual é sua previsão?

Agripino - Em primeiro lugar, acho que o Kassab, em São Paulo, está com um desempenho bom e tem grandes chances. No Rio, Solange Amaral está na luta e quem está na luta pode ganhar. Em Palmas, temos grandes chances. Em Porto Alegre, temos boas chances e também no Recife e em Salvador. Em Belém, a Valéria Pires é um grande quadro. Temos chances em diversas capitais importantes do País. Eu não vejo, na largada, um quadro desfavorável para o partido.



ISTOÉ - Como o sr. projeta a aliança para 2010? Os dois partidos estarão juntos numa única candidatura?

Agripino - Asseguro que por parte dos Democratas haverá o desejo de vitória, que vai estar acima de ambições partidárias. Em 2010 vai prevalecer o sentimento da racionalidade. Pelas conversas que temos tido, a relação dos Democratas e dos tucanos ensejará esse diálogo movido a compreensão.

1 comentários:

Pedro Bueno

Sinceramente o pedido de desculpas do Senador, não me convence. Ele bem que poderia deixar o tempo passar. Quanto as chances dos candidatos do DEM, foi desolador os seus comentários. Isso reflete o que está nas ruas: Pouca chance para o DEM nessas eleições. Pode fazer um Prefeito aqui outro acolá e mais nada.

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