sábado, 26 de julho de 2014

A responsabilidade é dos clubes

 O que seria dos caixas das torcidas organizadas sem as generosas contribuições financeiras dadas por alguns clubes de futebol?
O financiamento por parte da cartolagem é o pano de fundo de um projeto de lei apresentado na Câmara. Se aprovado, os clubes passariam a ser co-responsáveis pelos crimes cometidos por torcedores ao redor dos estádios - se é que integrantes de organizadas ainda cabem na nomenclatura.

O texto, de autoria do deputado Johnathan de Jesus, do PRB de Roraima, determina que os clubes também passem a responder por “danos causados por suas torcidas organizadas num raio de 5 000 metros ao redor do local de realização do evento esportivo”.
Difícil é imaginar os entusiastas do projeto conseguindo driblar a poderosa bancada da bola para conseguir aprová-lo.  (Paulo Moreira Leite - IstoÉ)

Cruz Vermelha desviou dinheiro para campanhas, aponta auditoria

Cruz Vermelha desviou dinheiro para campanhas, aponta auditoria

Auditoria encomendada pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha apontou desvio de dinheiro arrecadado em campanhas humanitárias, a exemplo de doações para socorrer vítimas de conflitos na Somália, do tsunami no Japão e das enchentes na região serrana do Rio de Janeiro. Das duas primeiras campanhas, foram desviados R$ 212 mil, e da última, R$ 1,6 milhão. O valor foi repassado a uma ONG que pertence à mãe do vice-presidente da Cruz Vermelha à época em que as transferências foram feitas, Anderson Marcelo Choucino. Outra parcela das doações, R$ 523 mil, foi parar em fundos de aplicação e, depois, teve destino desconhecido. A auditoria foi feita pela Moore Stephens, consultoria independente com sede em Londres. A atual gestão da Cruz Vermelha diz que encaminhará as conclusões da auditoria ao Judiciário. 

Justiça usa filme para condenar indústria a pagar indenização de R$ 53 bilhões à viúva de fumante

Justiça usa filme para condenar indústria a pagar indenização de R$ 53 bilhões à viúva de fumante

O filme "Obrigado Por Fumar" (2005) mostra como, durante anos, a indústria do tabaco nos Estados Unidos promoveu o cigarro como símbolo de glamour e minimizou os seus efeitos nocivos à saúde, com o objetivo de potencializar as vendas. O enredo serviu de argumento para que a Justiça do Estado da Flórida determinasse à companhia de cigarros R.J. Reynolds, segunda maior dos EUA, o pagamento de indenização no valor de US$ 23,6 bilhões (cerca de R$ 53 bilhões) à viúva do fumante Michael Johnson, que morreu de câncer no pulmão em 1996. É o maior valor já pago em um processo individual na Flórida. A companhia pretende apelar da decisão.

Ariano

por: José de Paiva Rebouças


Ariano Suassuna, a estética da cabra e o Brasil Real

Por JOSÉ DE PAIVA REBOUÇAS

O senhor ainda cria cabras. O que é a tal “Estética da Cabra”?Em 2011, me desloquei de Mossoró até Pau dos Ferros para tentar uma entrevista com o escritor Ariano Suassuna. Ele tinha ido ao município para dar uma palestra na abertura do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFRN). Nos hospedamos no mesmo hotel, Hertz, e eu fiquei de prontidão lá pela recepção aguardando o momento certo. Seu agente chegou a dizer que talvez não desse tempo, botou um pouco de dificuldade, mas quando viu que eu não desistia, pediu para eu esperar para depois do almoço. Quase duas da tarde eu estava na recepção quando ele sentou-se do meu lado. O ar condicionado não funcionava e a pele de veludo dele transbordava. Eu, aspirante a escritor e admirador confesso, estava nervoso demais para um jornalista experiente. Então numa hora disse: já vamos acabar com a entrevista e assim, a palo seco, ele respondeu: pois acabe mesmo! Foi só o tempo de terminar as perguntas, pegar meus autógrafos e tirar algumas fotografias. Segue a entrevista publicada originalmente na edição número 3 da revista Contexto, do Jornal de Fato.
ARIANO SUASSUNA – Não existe uma estética da cabra, eu só acho um animal bonito. Eu realmente crio, mas quem cuida mesmo é o meu primo Manoel Dantas Vilar. Então, quando entrei no negócio, eu quis criar a cabra nativa, porque é uma cabra que já tem quinhentos anos de adaptação. Você pega uma anglo-nubiana e coloca dentro da macambira, ela não resiste. Agora, esse negócio da estética apareceu porque eu queria as cabras de três cores: vermelha para representar o índio; branca, para representar o povo português e a preta para representar o povo negro, que são as três cores iniciais da cultura brasileira. Depois uma azul para representar os italianos e o resto do povo que apareceu (risos).
COMO é sua casa nos finais de semana e feriados? É dia de visita de filhos e netos?
OLHE, meus filhos me visitam com tanta frequência que não tem isso lá em casa. Eles fizeram suas casas no quintal da minha, de forma que nos vemos todo dia.
COMO o senhor define a sua relação com dona Zélia de Andrade Lima, sua esposa? O senhor tem alguma dependência dela?
EU sou totalmente dependente dela. Nós namoramos desde o dia 20 de agosto de 1947 e não acabou ainda e nunca vai acabar. Certa vez, alguém me disse que Zélia era minha eterna namorada. Eu disse, não, ela é minha esposa!
QUEM faz as suas roupas é mesmo uma costureira popular do Recife? Como é a sua vivência com o “Brasil Real”?
NÃO, veja bem: eu sei que não é o fato de eu me vestir de um jeito ou de outro que vai me fazer pertencer ao “Brasil Real”. Eu fui nascido, criado e deformado pelo “Brasil Oficial”, mas, na medida em que me é possível, eu procuro chamar a atenção para a importância do povo do “Brasil Real” e a minha roupa, eu fiz questão de passar a ser feita por uma costureira popular para mostrar essa minha identificação com o “Brasil Real”.
POR QUE o senhor se opôs ao manguebeat de Chico Science?
OLHE, vocês precisam me conhecer melhor. Há pouco, ali, um rapaz veio até me dá os parabéns por um texto que eu teria escrito que está na internet; um texto defendendo o forró. Eu nunca escrevi aquele texto, nem me interesso por esse tipo de coisa não, tá certo? Então eu gosto muito de maracatu rural, agora, eu detesto o rock! Então eu não podia concordar com Chico quando ele tentou fundir uma coisa com outra, segundo ele, para valorizar o maracatu rural. Eu digo: eu não sei como uma coisa ruim como o rock vai valorizar uma coisa boa como o maracatu rural!
EM 2002, durante entrevista à revista Continente, o cantor Chico César disse que Chico Science fez em três semanas o que Ariano Suassuna tentou fazer a vida inteira…
PRONTO. Essa é a opinião de Chico César, vá perguntar a ele! (fica visivelmente irritado).
COMO é a sua vivência hoje com os artistas, incluindo o próprio Chico César?
OLHE, convivência comigo é a coisa mais fácil do mundo. Eu tive a melhor convivência do mundo com Chico Science, tá certo? Éramos amigos, agora eu discordava dele; e Chico César eu estou sabendo disso agora… Eu tenho uma convivência ótima com ele, tenho uma grande admiração por ele e sei que essa admiração é retribuída, agora, ele pode pensar o que quiser, eu penso o meu e pronto!
COMO está sendo feita a cultura nordestina? O senhor acha que essas influências externas estão apagando a cultura de Câmara Cascudo?
OLHE (pigarro), o que Câmara Cascudo fez e o que ele cita não se acabou não. Podem vir trezentas mil coisas modernosas aí, o que ele fez está lá feito. Esse tipo de cultura de massa que quer uniformizar as culturas existe também na Espanha, mas a Espanha verdadeira está sempre no Dom Quixote, ou na música de Manoel de Falla ou no teatro de García Lorca e na poesia de García Lorca, isso não importa não. Eu faço a distinção entre sucesso e êxito… Tá vendo? – Entre sucesso e êxito: essas bandas de rock que estão por aí, ou de “punk” ou de “funk” (palavras pronunciadas por ele como se escreve), ou seja, lá do que for, têm mais sucesso que qualquer um de nós, mas eu duvido que eles façam uma obra da importância da obra de García Lorca, ou da obra de Vila Lobos aqui no Brasil.
O SENHOR usa computador?
NÃO, uso não. Não tenho nada contra o computador. Não uso porque eu gosto de escrever à mão, mas eu tenho um genro, que é assessor meu, Alexandre, que ele passa para o computador. E um amigo, chamado Carlos Nilton Junior, que também passa o que eu escrevo para o computador, o que facilita o meu trabalho de escritor.
COMO é a relação do senhor com o Rio Grande do Norte?
BOM, é uma relação muito forte. Eu vou lhe resumir. Como nós dois somos nordestinos eu não estou ofendendo ninguém. Eu tenho para mim, que o Nordeste é o coração do Brasil e o coração do Nordeste é formado por três estados: Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Então para mim, o Rio Grande do Norte tem uma importância enorme. Inclusive, hoje de manhã eu dormi no Martins. Eu fiz questão de passar pelo Martins, apesar de que aumentava a viagem, mas o que eu queria conhecer era a terra do meu avô. Meu avô nasceu em Martins. Então, o meu bisavô nasceu em Pernambuco, meu avô em Martins, no Rio Grande do Norte e meu pai e eu na Paraíba. De maneira que você já entende porque que eu digo que o coração do Nordeste é feito por Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
O SENHOR está assistindo à novela Cordel Encantado? (por esses dias ainda passava no horário das seis). O que o senhor acha da abordagem dos temas Nordeste e Cangaço?
EU estou assistindo. Veja bem: aquela novela representa uma vitória nossa. Pense vinte anos para trás, aparecer uma novela daquelas, num é? Com o Nordeste presente em tudo; uma música dos tipos; uma própria maneira de encarar o real. Agora, eu tenho minhas restrições, mas eu vou dizer uma coisa: do gênero novela, eu tenho me encantado com poucas quanto aquela, ou para ser justo: eu nunca me encantei com uma novela como estou encantado com aquela, agora, fazendo minhas restrições.

Alerta vermelho: saiba mais sobre os efeitos da carne bovina no organismo

Ao contrário da vermelha, a carne branca é bem vista no cenário esportivo


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A carne vermelha sempre foi apontada como uma das principais vilãs em uma alimentação saudável. Maria Fernanda Pio, nutricionista da Equipe MFPio Nutrição Esportiva e Estética, afirmou que um atleta pode incluir a carne vermelha em sua dieta para um combate, mas há ressalvas. A demora na digestão pode ocasionar queda de rendimento.
“O lutador deve se preocupar com o tipo do corte e a forma de preparo, além de ser importante a variação com as demais fontes protéicas. É também importante respeitar um hiato de horário maior, pois a digestão da carne vermelha é mais lenta do que as demais carnes, ou seja, consumir próximo aos treinos pode ocasionar diminuição da performance. Isso ocorre devido ao prejuízo na perfusão da musculatura por conta do processo digestivo mais prolongado”, disse.
Ao contrário da vermelha, a carne branca é bem vista no cenário esportivo. Para fazer essa comparação, a nutricionista recomendou que o profissional consuma o alimento, garantindo que ele não afetará sua performance, e aconselhando-o a comer peixes.
“A carne branca, além de liberada, é recomendada. O que vai ser individualizado é a quantidade de proteína que cada atleta irá consumir, sendo distribuídas entre suplementos proteicos e alimentos ricos em proteína. Alguns peixes, como a sardinha, por exemplo, são excelentes fontes de ácidos graxos poli-insaturados, fundamentais para o bom funcionamento do organismo”, afirma.
Para desmistificar um pouco sobre o “tabu” em torno da carne vermelha, Maria Fernanda revelou que o alimento contém boa quantidade de proteínas. “A carne vermelha tem maior tempo de digestão, maior quantidade de ferro e de creatina. Embora a variação não ultrapasse 15%, ela ainda é a maior fonte de proteína”, completa.

Fonte: Tatame

Anvisa proíbe venda de suplemento proteico de marca renomada no País

Laudo detectou quantidade de carboidrato superior em mais de 20% em relação aos valores declarados no rótulo do produto


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Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada nesta sexta (25) no Diário Oficial da União proíbe a distribuição e a comercialização, em todo o território nacional, do lote 003522 2, com vencimento em 04/2015, do produto Suplemento Proteico para Atletas sabor Baunilha, marca Super Whey 3W Integralmédica, fabricado por Integralmédica SA Agricultura e Pesquisa.
De acordo com o texto, um laudo emitido pelo Instituto Adolfo Lutz apresentou resultados insatisfatórios para ensaios de carboidratos. Foram detectadas quantidades de carboidratos superiores em mais de 20% em relação aos valores declarados no rótulo do produto.
Outra resolução da Anvisa, na mesma publicação, libera a importação, a distribuição e a comercialização dos lotes do produto Carnivor Bioengineered Beef Protein Isolate, sabores Chocolate, Vanilla Caramel, Fruit Punch, Strawberry, Chocolate Mint e Chocolate Pretzel, do lote 0297G3, fabricados por MuscleMeds e distribuídos por Nutrition Import Comércio Atacadista de Suplemento Ltda.
A Anvisa considerou a declaração da empresa fabricante, de que o produto, formulado para o Brasil, não contém as substâncias glutamina alfa-cetoglutarato (GKC), ornitina alfa-cetoglutarato (OKG), alfa-cetoisocaproato (KIC), desde julho de 2013, a partir do lote 0297G3. O produto também apresentou teores de B6 e B12 abaixo no nível de detecção.
O suplemento havia sido suspenso em fevereiro deste ano por apresentar teores de vitamina B12 e B6 acima da ingestão diária recomendada e conter as substâncias citadas acima, que não foram avaliadas quanto à segurança para consumo como alimentos.
Permanece proibida a importação, a distribuição e a comercialização dos lotes do produto anteriores ao lote 0297G3, fabricados antes de julho de 2013.
Também permanece proibida a distribuição e comercialização de todos os lotes do produto Carnivor Mass Beef Protein Gainer, fabricados por MuscleMeds Performance Technologies e distribuídos pela Nutrition Import Comércio Atacadista de Suplemento Ltda.


Fonte: Agência Brasil

Castanha de caju orgânica traz retorno de 30% a produtores potiguares

Quilo da amêndoa teve valor repassado ao produtor de R$ 1,80 para R$ 2,34


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A produção orgânica de castanha de caju está permitindo um aumento de 30% no valor final da amêndoa processada para os 46 agricultores familiares da comunidade de Córrego, região rural de Apodi (RN), a 335 km de Natal. De acordo com o presidente da Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável (Coopapi), Francisco Marto e Souza, a amêndoa orgânica é mais valorizada no mercado. Outro fator, segundo Souza, é a assistência técnica prestada pela Fundação BB aos cooperados, o que possibilita a melhora na qualidade da amêndoa e o crescimento da produtividade. Como resultado, o valor repassado ao produtor por quilo da castanha aumentou de R$1,80 para R$2,34.
Atualmente, é comercializada uma tonelada de castanha orgânica por mês e a expectativa é aumentar as vendas para até três toneladas mensais. De acordo com a diretora da cooperativa, Fátima de Lima Torres a castanha de caju orgânica é um importante complemento de renda aos cooperados, que também atuam na produção de mel. “O casamento das duas culturas – castanha e mel – funciona muito bem, pois são alternadas e isso garante renda durante o ano todo. Além disso, o ganho de 30% quando se trabalha com o orgânico está animando as outras famílias”, explica.
Após a colheita, a castanha de caju começa a ser processada na fábrica instalada na comunidade de Córregos – onde ocorre a limpeza, retirada da casca (corte) e da fina película, depois passa pela estufa para assar e esterilizar e é classificada por cor e tamanho. O beneficiamento final é feito na cooperativa central (Cooafarn), também em Apodi – quando é torrada, ganha cobertura de caramelo ou chocolate e é embalada. A cadeia produtiva tem o apoio da Fundação BB na construção dos empreendimentos solidários, na assistência técnica para plantação e colheita da fruta e na prestação de consultoria para o desenvolvimento gerencial das cooperativas.
Atualmente, a castanha orgânica tem compradores nas regiões de Mossoró e Natal (RN), em Salvador (BA) e também em cidades de outras regiões do Brasil, como as capitais São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS).

FONTE: JH

Tendência atual do eleitorado

Ibope: 54% acham que Dilma será reeleita; Aécio é favorito para 16%

Luís Nassif, no Jornal GGN
A pesquisa Ibope/Estadão/Rede Globo divulgada nesta quarta-feira (23) traz uma novidade. Pela primeira vez, o instituto perguntou ao eleitor quem ele acha que vai vencer a disputa presidencial deste ano. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), aparece como favorita para 54% dos questionados. O principal adversário da presidente, Aécio Neves (PSDB), é apontado como vitorioso por 16%. Eduardo Campos (PSB) é favorito para apenas 5%.
Na sondagem tradicional, Dilma segue na liderança com 38% das intenções de voto. A vantagem da petista, segundo o jornal, é estável. Seu principal oponente, por enquanto, continua sendo Aécio, com 22%. Campos segue estagnado no terceiro lugar, com 8%. Brancos e nulo, 16%. Não souberam responder, 9%. As oscilações estão dentro da margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos.
Outro destaque na pesquisa Ibope é que, na eleição de 2010, José Serra, então candidato do PSDB, registrava desvantagem menor em relação a Dilma do que o correligionário Aécio Neves. Nessa fase da campanha, naquele ano, Serra, hoje postulante ao Senado, tinha 34% das intenções de voto para presidente (12 a mais do que Aécio), ante 39% de Dilma. Aécio, por outro lado, está estagnado na casa dos 20% desde maio.
Pelos dados apresentados até o momento, um possível segundo turno em 2014 ainda é incerto. A soma dos votos dos 10 adversários de Dilma chega a 37%, um ponto a menos que a taxa da petista. Para vencer a eleição na primeira rodada nas urnas, a presidente precisa ter a maioria dos votos válidos, ou seja, 50% mais um.
Mas, num cenário em que Dilma e Aécio seguem para o segundo turno, a petista venceria o tucano por 41% a 33%. Na hipótese de Campos ser o segundo mais votado em outubro, Dilma seria reeleita com 41%, contra 29% do pessebista.
O resultado no segundo turno no estudo do Ibope é bem diferente daquele apresentado pela pesquisa Datafolha publicada na semana passada. Nela, Aécio e Dilma aparecem num empate técnico. A presidente preferência de 44% dos eleitores; o tucano, de 40%. Como a margem de erro é de dois pontos, a campanha tucana comemorou a pequena diferença. Porém, a sondagem da Folha não garante existência de segundo turno.
O crescimento do número de eleitores que querem mudanças no governo também chama atenção. São 70%, ante 65% da pesquisa anterior. Desse total, 29% querem alterações drásticas na gestão federal, enquanto 41% querem correções de rumo em muitas áreas. Para 53% dos entrevistados, o Brasil segue o caminho errado. Os eleitores que pensam positivamente somam 42%.
A taxa de rejeição de Dilma ainda é superior a de seus concorrentes. Cerca de 36% afirmam que não votariam na petista de jeito nenhum. Aécio é rejeitado por 16%, enquanto Campos não tem apoio de 8%.

Um gigante da nossa cultura

Ariano Suassuna, Guerreiro do Sol

Luciano Siqueira

Ariano Vilar Suassuna – teatrólogo, romancista, poeta, pintor, gravador, desenhista, professor – completou 80 anos a 16 de junho passado, “bem disposto, bem-humorado e animoso”, homenageado por gente e instituições de diversos lugares, sempre saudado como clássico da cultura brasileira.

Irreverente, tem dito que se soubesse que fazer 80 anos dava tanto trabalho teria ficado nos 79. O fato é que suas oito décadas de vida têm sido marcadas, ao um só tempo, pela tragédia familiar (teve o pai, ex-governador, deputado federal e advogado João Suassuna, assassinado no Rio de Janeiro em 1930) e pela construção de uma obra multifacética e coerente que funde o barroco medieval ibérico com expressões populares nordestinas. 

Autor de 14 peças teatrais (8 ainda não publicadas), 5 romances e 2 ensaios, membro das Academias Brasileira e Pernambucana de Letras, tem obras traduzidas em inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês.

É um fazedor de fusões e de reinvenções. De clássicos como Cervantes e Gogol, Euclides da Cunha e Gregório de Matos, bebe influências que mescla com a sonoridade de cantadores de desafios, aboios e cantorias e de tocadores de pífanos e rabecas e com o cheiro do barro e o calor inclemente da terra árida de Taperoá, sertão paraibano, onde viveu a infância e para onde retorna com freqüência para mergulhar na releitura da própria obra.

No romance e no teatro, assim como nas suas iluminuras (onde formas artesanais e emblemáticas são dispostas simetricamente através de cuidadosa diagramação), e nos versos de uma poética mágica e exata, realiza uma releitura erudita da cultura que brota do povo.

O Movimento Armorial, que fundou em 1970, é tudo isso em muitas linguagens - música, dança, tapeçaria, pintura, teatro, poesia, literatura, artes plásticas - e, segundo costuma afirmar, “uma tomada de posição em favor da cultura brasileira”.

Algo de base conceitual sólida que aglutinou criadores extraordinários como multiartista Antonio Carlos Nóbrega, o músico Zoca Madureira, o gravador Gilvan Samico, o pintor Romero Andrade Lima, o romancista Raimundo Carrero, dentre outros.

Taperoá, Recife

Filho do ex-governador João Suassuna (1924-1928), nasceu na então Cidade da Paraíba (Parahyba em ortografia arcaica), hoje João Pessoa, e viveu a infância no Sítio Acauhan, em Taperoá, no Cariri paraibano. Entre 1933 e 1937, em Taperoá, iniciou os estudos, e experimentou o seu primeiro alumbramento (como diria Manuel Bandeira) pela criatividade improvisada de uma peça de mamulengos e um desafio de viola, que viriam a marcar sua produção teatral e a verve característica dos seus muitos personagens.

Nesse período valeu-se da biblioteca que o pai deixara para se iniciar em leituras que, segundo diz, o influenciariam fortemente. As obras completas de Monteiro Lobato. Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas. De Dumas diz estar relendo pela milésima vez O Conde de Montecristo, que considera uma obra-prima da literatura universal.

De 1942 em diante passou a viver no Recife, para estudar, tendo concluído o curso de Direito em 1950 e o de Filosofia em 1960.

Em 1945 teve publicado no Jornal do Commercio o seu poema Noturno (São turvos sonhos,/Mágoas proibidas,/são Ouropéis antigos e fantasmas/que, nesse Mundo vivo e mais ardente/consumam tudo o que desejo Aqui.), prenúncio do que César Leal, crítico literárioe poeta, mais tarde caracterizaria, no ensaio Fontes clássicas e populares das Odes de Ariano Suassuna, como domínio do tema e da técnica, presente também em toda a sua obra teatral, como no clássico Auto da Compadecida.

Armorial: ibérico e sertanejo

A complexidade conceitual contida no Movimento Armorial se expressa através de múltiplas linguagens, indo além do texto literário, assumindo identidade visual – em traços e cores fortes e originais.

Num álbum publicado em 2003 pela Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), o estudioso da obra de Ariano, Carlos Newton, assinala que as iluminogravuras sintetizam a técnica da iluminura medieval com os atuais procedimentos de impressão em off-set sobre o papel. O resultado é um misto de figuras mitológicas e animais e personagens que povoam o imaginário nordestino, ibérico e medieval, numa exuberância de cores vivas em que pontificam o amarelo-ouro, o marrom, o ocre, o preto e o vermelho.
Carlos Newton sublinha que a iluminugravura “é também um texto ilustrado... A ilustração de cada uma delas associa episódios descritos no respectivo poema a motivos da cultura brasileira, recolhidos tanto em nossa arte popular quanto em nossa arte pré-histórica, a partir das itaquatiaras do Sertão nordestino”.
É como se o texto se enfraquecesse sem a ilustração, e esta perdesse o sentido sem o apoio do texto.
Essa fusão entre o real e o imaginário, produzindo um todo complexo e coerente, se completa com a convivência, ora conflitante, ora harmoniosa, entre a tragédia e a comédia presente nos seus muitos personagens – seja o misterioso e alegórico Dom Pedro Dinis Quaderna, seja os burlescos e surpreendentes Chicó, João Grilo, Gaspar, Caroba, Cancão, Euricão, Cheiroso, Benedito – gente que surge do Cariri árido para, através de diálogos de instigante simplicidade, revelar uma profética visão de mundo.

Arte e política

Embora não negue que sua arte tem, tanto quanto conteúdo e forma revolucionários, um sentido político explícito e um fio condutor que é a afirmação dos nossos valores nacionais, resiste à chamada arte engajada. Talvez por isso exagere na crítica a Brecht por fazer, segundo ele, um teatro “excessivamente reflexivo”.

Preciosismo? Pode ser. Pois como cidadão Ariano não tem se eximido de externar publicamente suas opiniões, participando ativamente de campanhas eleitorais de Miguel Arraes e Lula, sendo inclusive figura de destaque no último pleito, ao lado do atual governador Eduardo Campos, do PSB.

Em recente entrevista ao Jornal do Commercio, do Recife, declarou-se aliado dos comunistas: “Numa reunião importantíssima que realizaram disseram que estão procurando um socialismo brasileiro. Deixaram de olhar pra fora, aí pela primeira vez tive condições de me aliar mesmo, apareci no guia do Partido Comunista do Brasil, até disseram que era uma contradição da minha parte. O que eu disse lá está perfeitamente coerente com o que eu dizia: se eu fosse marxista, pertenceria ao Partido Comunista do Brasil, nosso aliado na luta contra o governo antinacional e antipopular de Fernando Henrique Cardoso.”
*Artigo publicado no jornal A Classe Operária, em julho de 2007, a propósito do 80º. aniversário de Ariano Suassuna.

De Matheus para Ariano

Matheus Naschtergaele escreve carta para Ariano Suassuna

No portal R7: Ele escreveu uma carta para o autor de O Auto da Compadecida. No texto, o ator que viveu o emblemático personagem João Grilo, da adaptação da obra para a TV, descreveu a importância do papel em sua carreira e falou, ainda, sobre o carinho que sente pelo dramaturgo. 

"Carta para Ariano, 

Quem te escreve agora é o Cavalo do teu Grilo. Um dos cavalos do teu Grilo. Aquele que te sente todos os dias, nas ruas, nos bares, nas casas. Toda vez que alguém, homem, mulher, criança ou velho, me acena sorrindo e nos olhos contentes me salva da morte ao me ver Grilo.  Esse que te escreve já foi cavalgado por loucos caubóis: Por Jó, cavaleiro sábio que insistia na pergunta primordial. Por Trepliev, infantil édipo de talento transbordante e melancólicas desculpas. Fui domado por cavaleiros de Sheakespeare, de Nelson, de Tchekov. Fui duas vezes cavalgado por Dias Gomes. Adentrei perigosas veredas guiado por Carrière, por Büchner e Yeats. Mas de todos eles, meu favorito foi teu Grilo.  O Grilo colocou em mim rédeas de sisal, sem forçar com ferros minha boca cansada. Sentou-se sem cela e estribo, à pelo e sem chicote, no lombo dolorido de mim e nele descansou. Não corria em cavalgada. Buscava sem fim uma paragem de bom pasto, uma várzea verde entre a secura dos nossos caminhos. Me fazia sorrir tanto que eu, cavalo, não notava a aridez da caminhada. Eu era feliz e magro e desdentado e inteligente. Eu deixava o cavaleiro guiar a marcha e mal percebia a beleza da dor dele. O tamanho da dor dele. O amor que já sentia por ele, e por você, Ariano.  Depois do Grilo de você, e que é você, virei cavalo mimado, que não aceita ser domado, que encontra saídas pelas cêrcas de arame farpado, e encontra sempre uma sombra, um riachinho, um capim bom. Você Ariano, e teu João Grilo, me levaram para onde há verde gramagem eterna. Fui com vocês para a morada dos corações de toda gente daqui desse país bonito e duro. Depois do Grilo de você, que é você também, que sou eu, fui morar lá no rancho dos arquétipos, onde tem néctar de mel, água fresca e uma sombra brasileira, com rede de chita e tudo. De lá, vê-se a pedra do reino, uns cariris secos e coloridos, uns reis e uns santos. De lá, vejo você na cadeira de balanço de palhinha, contando, todo elegante, uma mesma linda estória pra nós. Um beijo, meu melhor cavaleiro. 

Teu, Matheus Nachtergaele"  

Ao mestre, com carinho



Ariano, iluminando as estrelas!

Ruy Sarinho
Ao cair da tarde desta quarta-feira, 23 de julho de 2014, o Recife escureceu derramando do céu pesadas lágrimas de despedida do grande paraíbucano Ariano Suassuna.
Apesar da tristeza do momento, não poderiam ser tristes, essas lágrimas dedicadas a esse brincalhão por natureza.
Acabara de se encantar o Mestre, escritor, poeta, dramaturgo…
Um artista completo, da alma mais brasileira da cultura popular, mais irrequieta, irreverente, debochada, buliçosa, moleque.
Um eterno caçador da verdadeira alma-identidade brasileira, radical, polêmico.
Não apenas um caçador.
Mas um criador nato dessa identidade-alma do povo brasileiro.
Teimoso, graças a Deus!
Na defesa dos valores nos quais acreditava, Ariano tinha a teimosia da Mulher do Piolho.
Uma de suas histórias mais engraçadas que tive a felicidade de ouvir, numa entrevista que fiz com ele, ao vivo, para rádios do interior pernambucano, acho que em 1995, 1996, por aí, no Rádio da Secretaria de Imprensa do Governo do seu amigo Miguel Arraes de Alencar.
Certa vez, Ariano disse que gostava mais das histórias que contava em que a polícia saia apanhando.
Eram as que eu mais gostava de ouvir.
Um combatente perpétuo contra a descaracterização da cultura brasileira e a sua vulgarização.
Uma estrela de um brilho do tamanho da luz do sol.
Um Iluminado, iluminante, por natureza.
Sem estrelismo nenhum.
Simplicidade pura!
De gênio!
Para fazer rir, bastava Ariano começar a falar.
E aí, era só olhar pro seu jeito puro e transparente, que a gente começava a rir, aquele riso leve e espontâneo.
Sem nem saber por que, mas sabendo; porque Ariano dominava, como ninguém, a arte de fazer rir, só pelo seu jeito de falar, de contar as coisas.
Mal acabou a sua última Aula-espetáculo, no 24º Festival de Inverno de Garanhuns, na última sexta-feira, tendo como tema o seu amigo Capiba, Ariano já está encantando todas as almas do Céu, as boas e as ruins, com os espetáculos de suas aulas geniais.
Um Viva, muitos Vivas a este genial brincante da vida, Ariano Suassuna.
Obrigado, Ariano Suassuna!
Olinda, 24 de julho de 2014

domingo, 20 de julho de 2014

João Ubaldo: o gênio do povo

Repórteres
Cinthia Lopes
editora

Em cada palavra escrita existe um pouco de João Ubaldo Ribeiro. De tão fascinado pelos vocábulos, era capaz de consultar cinco ou seis versões de dicionários enquanto escrevia. João Ubaldo Ribeiro soube como poucos retratar o brasileiro e seu modo de falar. Lembrado pelos amigos que conquistou aqui por sua franqueza e simplicidade, o baiano de Itaparica era um exímio contador de histórias também na intimidade; seu bom humor e genialidade contagiavam. “Ele era despojado, uma pessoa ímpar. Estamos todos impactados. Tem pessoas que não passam, ficam internalizadas, e João Ubaldo é uma delas. Uma pena não estar ao lado de minha comadre Berenice neste momento”, disse emocionada a potiguar Margarida Seabra de Moura, irmã de Candinha Bezerra e Olga Aranha, madrinha de Chica Batella, uma das filhas do autor do clássico “Viva o povo brasileiro” e do lascivo “A casa dos Budas Ditosos”.

Fábio Motta/AE
Autor de obra-primas da literatura brasileira e universal, João Ubaldo Ribeiro deixa como legado uma escrita sofisticada e ao mesmo tempo ligada às tradições populares
Autor de obra-primas da literatura brasileira e universal, João Ubaldo Ribeiro deixa como legado uma escrita sofisticada e ao mesmo tempo ligada às tradições populares

Ubaldo (1941-2014) morreu no Rio de Janeiro na madrugada desta sexta-feira (18), aos 73 anos, vítima de embolia pulmonar. Ele deixa vaga a cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras que ocupava desde 1993. O enterro está marcado para este sábado (19). O escritor chegou a participar de uma edição do Encontro Natalense de Escritores (o antigo ENE atual Festival Literário de Natal – FLIN) e em 2010 foi um dos convidados do Festival Literário da Pipa (Flipipa), quando dividiu o palco com o escritor Geraldo Carneiro. 

A Ilha de Itaparica, onde passou a infância e a adolescência, cenário de alguns de seus principais trabalhos era também tema constante em suas colunas dominicais, Ribeiro vivia no Rio, entre idas e vindas, desde os anos 70 do século passado. Ele deixa quatro filhos.

“São lembranças muito fortes, foi muito enriquecedor a convivência que tive com ele nessas ocasiões. Não só pela potência intelectual que era, mas muito também pela franqueza: não esqueço quando ele declarou no Flipipa como era difícil viver de direito autoral no Brasil. Uma pessoa desprendida e, guardada as devidas proporções, era do quilate de um Guimarães Rosa. Grande perda para a literatura mundial”, lamentou Dácio Galvão, presidente da Fundação Capitania das Artes e curador do Flipipa e do ENE.

As relações de amizade construídas pelo escritor na esquina do continente surgiram em meados dos anos 1980, quando o cartunista Henfil (1944-1988) morava na Praia dos Artistas. Inclusive ele conheceu sua futura esposa, a psicanalista Berenice Batella Ribeira, aqui em Natal. “Na época João Ubaldo veio participar de um encontro de escritores, e Berenice era companheira de Henfil. Ficaram encantados um pelo outro”, lembra Candinha Bezerra, que hospedou o casal diversas vezes. “Era uma grande pessoa, não tinha vaidades. Para mim era o maior escritor brasileiro da atualidade, os livros deles são geniais, marcaram a literatura contemporânea”, destacou a produtora cultural e fotógrafa.

Para Margarida Seabra, João era “como se fosse da família, uma pessoa diferente da maioria que a gente conhece, e se identificou muito conosco”. Tanto que a ‘família natalense’ do autor foi personagem no conto “Do poder da arte e da palavra”, publicado em 1981 no “Livro de Histórias” – obra reeditada dez anos depois sob o título “Já podeis da pátria filhos”.

Na intimidade, segundo Margarida, o escritor baiano era a pessoa “mais divertida do mundo, varávamos noites conversando e ouvindo as histórias dele”. Ela é a personagem principal do conto que narra a história de três irmãs sanfoneiras: “João criou essa história quando eu estava grávida, e no meio da brincadeira ele disse que eu tocava a sanfona para esconder a barriga do mau pai. Foi parceiro do meu marido (o médico José Robério Seabra) em maratonas de declamações”. Margarida é mãe da professora Débora Seabra, que tem síndrome de Down e ganhou destaque nacional a partir de reportagens sobre o livro “Débora conta histórias”. “Ele esteve no lançamento, foi a última vez que o vi. Fez questão de vir acompanhar”. O texto da contra capa é de João Ubaldo: “São contos que ensinam docemente – e não só às crianças, porque os adultos também têm muito o que aprender com gente da grandeza de Débora”, escreveu no livro.

Insubstituível

O poeta maranhense Ferreira Gullar, de 83 anos, lamentou a morte do escritor: “Fiquei surpreso porque, pelo que sabia, ele estava bem de saúde. Havia atravessado um período de dificuldade, mas se recuperado. Foi uma notícia chocante”, disse Gullar. “Um romancista de nível muito alto, enorme qualidade, de obras maravilhosas como ‘Viva o povo brasileiro’, ‘O sorriso do Lagarto’ e ‘Sargento Getúlio’, além de ser um cronista sensacional, com muito senso de humor. Eu era leitor dele; toda semana lia João Ubaldo

Já o letrista Abel Silva contou ter estado no domingo com João Ubaldo no bar “Tio Sam”, no Leblon, onde o imortal da ABL assistiu à final da Copa do Mundo, torcendo pela Alemanha. “Ele tinha um neto alemão, filho do Bento Ribeiro. No domingo, brincou muito sobre como o neto chorava em português e alemão, estava muito bem e feliz”, contou Abel.

“Toda vez que eu chegava no ‘Tio Sam’, ele dizia: ‘Vou fazer uma coisa que ele (Abel) detesta’, e começava a cantar: ‘Só uma palavra me devora...’. ‘Ele é o autor disso’, dizia, apontando para mim. E eu dizia para ele que não detestava, claro, adorava tudo que vinha desse meu grande amigo”, contou o letrista. “Perdemos um extraordinário brasileiro. Algumas pessoas são insubstituíveis, sim. João Ubaldo era uma delas”.

Para Abel Silva, não há mais nenhum escritor como João Ubaldo Ribeiro no Brasil. “Ele vem de uma linhagem de escritores brasileiros ligados à tradição e ao conhecimento da fala e da mitologia popular. Herança popular acrescentada de uma cultura sofisticadíssima de um tradutor de Shakespeare, profundo conhecedor da literatura brasileira. E, com tudo isso, era também muito modesto. Era poliglota e jamais o vi usar expressões em inglês ou alemão, por exemplo, línguas nas quais era fluente”.

Prêmios

João Ubaldo foi um dos mais premiados autores brasileiros.  Foram dez honrarias, em diversos países. Em 2008, foi agraciado com o Prêmio Camões, em 2008. No Brasil, recebeu alguns Jabutis, em 1972 e 1984, respectivamente para o Melhor Autor e Melhor Romance do Ano, pelo romances “Sargento Getúlio” e “Viva o povo brasileiro”.  Quando perguntado sobre os muitos prêmios, costumava brincar respondendo que “os melhores são aqueles que têm prêmio em dinheiro. Qualquer escritor sincero responderia isso”.

* Com informações também da Agência Estado 

Obras e Adaptações mostram a versatilidade de sua obra

João Ubaldo Ribeiro iniciou cedo a sua rica bibliografia. Escreveu o primeiro romance aos 21 anos, “Setembro não tem sentido” (1963). Antes, já havia publicado contos em coletâneas diversas. O reconhecimento literário veio com “Sargento Getúlio”, de 1971, vencedor do Prêmio Jabuti. O livro é inspirado num episódio ocorrido na infância de João Ubaldo, envolvendo um certo sargento Cavalcanti, que recebera 17 tiros num atentado em Paulo Afonso, na Bahia; resgatado pelo pai do autor, chefe da polícia de Sergipe, chegaria com vida em Aracaju. O livro foi adaptado para o cinema, com direção de Hermano Penna e atuação de Lima Duarte. Recebeu vários prêmios no Festival de Gramado.

Em 1984 lança o épico de 700 páginas “Viva o povo brasileiro”, que se passa na Ilha de Itaparica e percorre quatro séculos da história do Brasil. Recebe por esse livro outro Prêmio Jabuti na categoria “Romance”, e o Golfinho de Ouro, do governo do Rio de Janeiro. O livro rende outro prêmio para João Ubaldo, na Marquês de Sapucaí: é transformado  em samba-enredo da escola Império da Tijuca para o carnaval de 1987.  O livro teve os direitos vendidos para o cinema, em 1998, e seria dirigido pelo cineasta André Luiz Oliveira. Até o momento, não aconteceu.

“O sorriso do lagarto” foi lançado em 1989. A trama, que flerta com a ficção científica, foi adaptada para a televisão em 1991 e virou minissérie
na Globo sob direção de Walter Negrão. Em 1997 publica o romance “O feitiço da Ilha do Pavão”, uma fábula picaresca que passeia entre a fantasia e a ficção científica numa remota ilha brasileira do século 18.  Um dos maiores sucessos editoriais de João Ubaldo veio em 1999, com “A casa dos budas ditosos”, um romance sobre a “luxúria”, da série Plenos Pecados da Editora Objetiva. “A casa” ficou por mais de 36 semanas entre os dez livros mais vendidos do país. Foi publicado na França, Espanha, Estados Unidos, e chegou a ser proibido em alguns pontos de venda em Portugal. A atriz Fernanda Torres atuou numa bem sucedida adaptação para o teatro, escrita por Domingos de Oliveira.

João Ubaldo também se aventurou pela literatura infanto-juvenil, com “Vida e paixão de Pandonar, o cruel” (que foi premiada na Alemanha) e “A vingança de Charles Tiburone”. De crônicas, lançou “Um brasileiro em Berlim” e “Arte e ciência de roubar galinha”, coletânea de textos seus publicados no O Globo e Estado de São Paulo. “Já podeis da pátria filhos” é sua coleção de contos. O autor foi agraciado em 2008 com o Prêmio Camões, considerado a maior honraria da língua portuguesa. (por Tádzio França).

Gols de letra com João Ubaldo e Milton Neves

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por Alex Medeiros 

Os muitos turistas que foram saborear os pratos do restaurante Camarões Potiguar numa certa tarde de sexta-feira, em 2010, em Ponta Negra, tiveram um prazer a mais durante o almoço. Um aperitivo diferente em forma de autógrafos de algumas celebridades presentes.

Comendo em mesas distintas, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, o escritor João Ubaldo Ribeiro e o jornalista esportivo Milton Neves agradaram todas as torcidas e estilos que os procuravam para uma foto, uma conversa, uma assinatura em guardanapo.
Tínhamos acabado de comer no primeiro andar da saborosa casa, eu, Milton e mais alguns amigos jornalistas, todos na companhia dos craques Marinho Chagas, Alberí e Danilo Menezes. Quando já íamos embora, avisei da presença de Ewald e Ubaldo.
Eu havia conhecido o ganhador do Prêmio Camões 2008 num final de manhã de 2001, no Rio de Janeiro, quando fui conversar com Armando Nogueira sobre a feitura do seu texto para o livro “Todos Juntos, Vamos – Memórias do Tri”, lançado em 2002 na Livraria Argumento, do Leblon.
Se não era um profundo conhecedor da sua extensa obra literária, sabia ao menos de uma parte importante da sua vida, quando em Natal reencontrou uma namorada de infância e voltou com ela para Salvador, deixando aqui o marido dela, Henfil, traçando estudantes nos passeios praianos com um buggy do empresário Fernando Bezerra.
No percurso entre o primeiro andar e o térreo do restaurante, chamei a atenção de Milton Neves para a mesa de Rubens Ewald Filho, que almoçava com um amigo; mais à frente, na área de fumantes, avistei João Ubaldo e fomos lá cumprimentá-lo.
O crítico de cinema veio a Natal participar do Festival de Cinema que há anos acontece na cidade, ideia do seu colega de profissão Valério Andrade; o escritor era uma das personalidades principais da Feira Literária de Pipa; e o Neves tinha chegado para emular a torcida do ABC na série C e visitar a Band local.
Com seu conhecido estilo de pesquisador de arqueologia ludopédica, Milton Neves circulou entre as mesas sempre acompanhado do três maiores craques do futebol potiguar, Marinho Chagas, Alberi e Danilo, todos ícones do ABC nos anos 1970.
O apresentador da Band, obviamente bem mais expansivo que os outros célebres visitantes, agitou o restaurante indo ao encontro deles, de certa forma estimulando muitos turistas a assediarem depois o craque do cinema e o artilheiro das letras.
Admirador explícito do futebol que jogou Marinho Chagas nos gramados do Brasil e do mundo, Neves aproveitou os bate-papos com Ewald Filho e João Ubaldo para louvar a figura do agora saudoso gênio natalense que virou marca do Botafogo e lenda da Copa de 1974.
Ô Rubens Ewald, você precisa conhecer esse cara aqui, um mito do futebol nacional, o Garrincha de Natal”, soltou a voz generosa por todo o ambiente de comensais curiosos. “Grande João Ubaldo, escreva um livro sobre o Marinho, rapaz”, provocou, observado por Berenice, a mulher do baiano.
A fama da “Bruxa”, apelido incorporado a Marinho no auge da carreira, é tão latente que mesmo um intelectual sem qualquer envolvimento com futebol, como o cinéfilo, registrou um frame de reconhecimento. “Lembro, Marinho do Fluminense, né?”, arriscou.
Já o marido de Berenice Batella, tão conhecedor do “povo brasileiro”, torcedor fanático do Vitória, não escondeu a admiração pelo ex-lateral que conquistou a Alemanha na primeira Copa da seleção sem Pelé. Ubaldo tirou fotos com a “bomba do Nordeste”.
Depois das fotos, um diálogo próprio de arquibancada, uma sequência de provocações entre o jornalista esportivo e o escritor, que arrancou gargalhadas no recinto. Começou com Neves informando que iria para Salvador, terra dos times do Bahia e do Vitória.
Rubronegro quase xiita, Ubaldo foi logo se assumindo: “Você sabe que eu sou Vitória, mas gosto muito do Bahia, afinal sem ele o rubronegro não acumularia glórias, precisamos dele para construir nossas vitórias e alegrias, né?”. Milton é Bahia.
O homem do Terceiro Tempo começou o lúdico quiproquó: “Mas, no geral, vocês perdem para o Bahia até em concurso de miss, como aconteceu outro dia, rapaz!”. O autor de Sargento Getúlio baixou o cacetete das palavras: “Não agrida senão te chamo de Galvão Bueno…”
Virando-se para a mulher, sua cúmplice há trinta anos, Ubaldo continuou: “Olha, meu amor, deixa eu te apresentar aquele famoso locutor de futebol, o Galvão Bueno”. No barulho das gargalhadas dos clientes da casa, Neves armou o contra-ataque.
Minha senhora, não agirei como ele, no desaforo; me despeço do seu marido dizendo assim, tchau Jorge Amado!”. Mais gargalhadas e o escritor chuta: “Puta que o pariu, tu é mais demagogo ao vivo do que na TV”. Ao lado, Alberí, Danilo e Marinho Chagas numa escancarada tabelinha de risos.

Agora, o jogo é outro

Rinaldo Barros
Professor

“O problema do Japão é que eles só pensam em educação e saúde…” (Luiz Inácio Lula da Silva)
Além de perceber a falta de competitividade para com os alemães, a humilhante derrota na Copa do Mundo abre a caixa preta da nossa sociedade.
Explico: em relação à Copa, montamos um cenário de ilusão, surreal. Nossa expectativa era que a Seleção brasileira representasse a força e as virtudes, a valentia, a habilidade, a criatividade, a beleza que nós não temos em outros espaços sociais. Era uma espécie de compensação, de fuga, com base no pensamento mágico. E transferimos para a Seleção uma espécie de expectativa de solução para questões que não estamos conseguindo resolver cotidianamente. Foi cruel para com os nossos jogadores.
A questão é que, aqui no patropi, a maioria acredita que basta ter força de vontade, no campo de futebol ou na sociedade. Acreditamos que existem soluções mágicas, sem planejamento, sem disciplina, sem dedicação e perseverança, sem estudo de qualidade e sem muito trabalho. Basta ter fé.
Bastava cantar o hino à capela, abraçados; já estávamos com a mão na taça do Hexa.
Isso é muito grave. A gente vai ter que aprender e mudar com o que aconteceu na Copa.
Espero que assimilem bem a lição dada pelos alemães: o Brasil não é mais o país do futebol, já foi. O Brasil hoje é o país da corrupção generalizada, da violência crescente e da saúde precária. A realidade é essa.
O resultado da Copa dentro do campo vai influenciar a eleição? Já interferiu, desde que as obras começaram atrasadas. Já desidratou o apoio à Dilma. Ela perdeu mais de 30% de apoio num ano.
No momento em que escrevo, a tendência é que a Dilma cairá mais nas pesquisas. Essa humilhação sofrida pela Seleção inflou ainda mais o balão da insatisfação popular, já cheio com tantos problemas, desde o cansaço diário com o transporte público, obras inacabadas, insegurança, hospitais lotados, inflação, desemprego, entre tantos outros; e a depressão pós-Copa precisa ser “descarregada”, e isso ocorrerá, direta ou indiretamente.
Até porque um dos “defeitos” do nosso comportamento é procurar jogar a culpa pelos fracassos para cima de alguém. A primeira vítima foi o Felipão. E a próxima deve ser a Dilma que, claro, aposta na capacidade do brasileiro de separar o que ela mesma ensaiou juntar. “É Tois”. Lembram da foto?
O que deu certo na Copa das Copas foi mérito dos empresários (construtoras, hotéis, bares, restaurantes) e da hospitalidade natural do nosso povo, que é capaz de rir de si próprio e de driblar dificuldades.
Agora, abrem-se as cortinas para a campanha eleitoral. É outro jogo. Que não será contra a Alemanha, mas que vamos jogar contra nós mesmo. Essa será a partida mais importante da nossa história recente.
O futebol demonstra ser mais que um jogo. O futebol caracteriza-se pelo antagonismo da simplicidade com a complexidade do jogo, aonde seu praticante permite que seu entusiasmo tome conta de sua racionalidade e que, estatisticamente, é o esporte que mais possui resultados improváveis, as chamadas “zebras”.
Por isso que, para muitos, o futebol se confunde com sua própria vida.
Não pretendemos reduzir a prática do futebol à da política, como se o primeiro fosse mero reflexo da segunda. Queremos apenas demonstrar que há um equilíbrio tenso nessa relação. É histórico.
Marcados de maneira significativa pela presença de uma massa de europeus que migravam desde o final do século XIX, os primeiros clubes de futebol surgiram no Brasil no início do século XX.
Concentrados nas principais cidades brasileiras – principalmente Rio e São Paulo – esses imigrantes contribuíram direta ou indiretamente para a disseminação dos esportes em geral e para fundação de clubes esportivos, em especial de futebol: Vasco, com os portugueses; Palmeiras, com os italianos, etc.
O primeiro jogo da Seleção Brasileira aconteceu em 21 de julho de 1914, contra o Exeter City da Inglaterra. São 100 anos de história, e os resultados dentro do campo têm, sim, força de reverberar na política.
É possível perceber que há manifestações explícitas de manipulação política do futebol, procurando usar a sua força emocional como forma de dar legitimidade às ações políticas, no governo e na oposição.
Pra completar, ao longo da história, a intervenção dos interesses comerciais das redes de televisão e das empresas patrocinadoras passaram a submeter o esporte – os atletas, os clubes e a Seleção – aos interesses do mercado; e isso tudo ainda é um capítulo a ser melhor investigado e compreendido.
Por outro lado, a julgar pela lição desta Copa 2014, tudo indica que o brilho individual do futebol-arte deve dar lugar à racionalidade, à organização e ao planejamento, numa reforma profunda e dolorosa.
Resumo da ópera: É nesse contexto de dupla frustração que o brasileiro sai da Copa do Mundo mais politizada de sua história, e terá pouco tempo para curar as feridas.
Sem dúvida, buscará os “culpados” pelas três derrotas recentes (2006, 2010 e 2014), na urna eleitoral.

Juazeiro do Norte lota com missa dos 80 anos da morte do Padre Cícero

Cerimônia reuniu milhares de fieis de todo o país para relembrar a morte do maior ícone religioso do Nordeste


Por Manuela Castro/Agência Brasil
Cerimônia reuniu milhares de fieis em Juazeiro do Norte (Foto:Divulgação)
Cerimônia reuniu milhares de fieis em Juazeiro do Norte (Foto:Divulgação)
Às 5h deste domingo (20), as ruas de Juazeiro do Norte (CE) já estavam lotadas de peregrinos de diversas partes do Brasil. Dona Maria das Graças da Conceição, aposentada, veio de Alagoas e viajou 12 horas de ônibus para pagar uma promessa pela cura do câncer. “Fui desenganada pelos médicos. Chegaram a falar para a minha família que eu estava morrendo. Mas me peguei com Padre Cícero e hoje estou curada, graças a Deus.”
A cerimônia que lembrou os 80 anos da morte de Padre Cícero começou às 6h. A missa foi transmitida ao vivo por cinco redes de televisão católicas e várias rádios. A Praça de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e os arredores nunca estiveram tão cheios – ao todo, cerca de 300 mil fiéis, uma das maiores romarias do país. Tudo em homenagem a alguém muito próximo desse povo, o fundador de Juazeiro do Norte, carinhosamente chamado de Padim Ciço.
Quem celebrou a missa foi o bispo do Crato, dom Fernando Panico. Durante a homilia, o religioso destacou a importância de Padre Cícero na região. “Padre Cícero revolucionou o sertão. Foi muito ligado às causas sociais, preocupado com o povo sertanejo, com a pobreza, com a fome. Não aceitava essas coisas”, disse.
Cícero Romão Batista foi ordenado padre, mas, posteriormente, condenado pelo Vaticano por estar envolvido em milagres não comprovados e por provocar o fanatismo. Perdeu o direito de exercer a função e chegou a ser excomungado. Virou prefeito e conseguiu a independência de Juazeiro do Norte, que antes era apenas um vilarejo do Crato. E conseguiu fazer mudanças importantes na cidade, no meio do sertão miserável do começo do século 20.
Dona Rosinha do Ortho, aposentada, participou da missa e é uma das poucas pessoas que ainda testemunha os momentos vividos ao lado de Padre Cícero. Aos 93 anos, ela lembra que recebeu a benção do Padim Ciço diversas vezes. E, há exatos 80 anos, acompanhou o funeral do padre. “Era um mar de gente na praça. Normalmente, o pessoal pega o caixão pela alça. Mas o [do] meu Padim não, foi carregado por cima das cabeças. As mulheres choravam muito e perguntavam quem iria cuidar de nós.”
Atualmente, o Vaticano analisa um pedido de reabilitação de Cícero Romão Batista, que significa reconhecê-lo como padre novamente. Em seguida, pode-se entrar com o processo de beatificação e canonização do religioso

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