domingo, 31 de julho de 2011

Comentário Luiz Carlos Prates (11/05/2011) - "Plano Nacional de Educação"

A realidade da educação de um País de 3º Mundo

MÚSICA DO DIA - U2- ONE

Escrever cartas é hábito cada vez mais raro

SARA VASCONCELOS - Repórter

Há quanto tempo o carteiro não chega na porta da sua casa e entrega um envelope selado, com remetente e destinatário escritos a mão? O velho hábito de escrever cartas está caindo em desuso e poucos são os resistentes que ainda cultivam o hábito de escrever, postar e aguardar a esperada resposta...

A antiga troca de correspondências está fadada ao desuso. Até a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) teve que se adequar as novas demandas. Hoje, menos de 3% do volume médio de cartas comerciais e não comerciais são distribuídas, diariamente, no Rio Grande do Norte.

Ao contrário de uma maioria que considera perda de tempo, o ritual de escrever e aguardar a resposta em envelope fechado e selado é cultuado por alguns resistentes - que também usam a frieza do teclado - para atribuir maior humanização às relações pessoais. Fato é que parar e escrever, à mão, com a caligrafia carregada de individualismo, tem sido substituído ao longo dos tempos pelas letras mecânicas dos computadores (como aqui nessa matéria).

Carteiro há 33 anos, Flávio de Santana, 52 anos, também sente as mudanças que a agilidade nas comunicações causa ao seu trabalho. "Há 30 anos a gente carregava mais carta e revistas. Hoje 99% é de boleto bancário e material promocional de empresas. Cartas são cada vez mais raras". Há 23 anos fazendo rota em parte do Alecrim, tendo trabalhado ainda em áreas de Mãe Luiza, Tirol e Petrópolis, ele conta que fez vínculos com algumas famílias. E avalia: a mudança afetou ainda as relações carteiro-cliente. "Na época das cartas, a gente não só entregava, como recebia pedido para lê-las, convite para entrar, sentar, e até almoçar. Como sempre foi corrido a gente nem sempre podia atender", lembra.

O carteiro que perfaz cerca de seis a dez quilômetros por dia no entorno das avenidas Manoel Miranda (antiga avenida 11) e dos Paiatis (antiga 12), com uma carga de 8 a 10 quilos, acredita que apenas para os românticos a substituição da carta pelo e-mail e redes sociais pode causar impacto. "Como pouco são os românticos hoje, nessa geração da agilidade, do pra agora, não faz tanta falta assim", diz. Ele mesmo há muito abandonou a tal correspondência. "Desde que abriram o acesso à telefonia que não escrevo uma carta", confessa.

A estudante de Engenharia do Petróleo e Gás Mariela Mendonça das Chagas, 27 anos, é uma das poucas de sua idade que mantém o hábito de escrever cartas. A troca de correspondência - em papel e com letra redondinha - com amigas de infância, que moram nos Estados Unidos e na África é frequente. O costume é conservado desde que morou, por 13 anos, nos EUA e mantido após a volta à Natal, em 2008. "Antes me correspondia com as amigas daqui. E hoje é o inverso", conta ela que guarda todas as cartas e mimos trocadas ao longo dos anos. Isso não impede do uso de e-mails, redes sociais e conversas ao telefone. "As cartas são mais especiais e é sempre uma boa surpresa receber uma, já que hoje a gente só recebe conta pelos correios", disse Mariela que chega a enviar quatro páginas de conversa escrita.

Com a amiga missionária em país africano, Christine Olmeida, 27 anos, a comunicação é mais difícil. "O sistema de correios de lá é problemático. É preciso autorização. Eles abrem as cartas. ou mesmo eles abrirem

Mesmo sem a censura, o serviço no Brasil não recebe aplausos. Segundo a estudante, dependendo da correspondência - se carta simples ou caixa com lembranças/encomendas - a entrega no país norte-americano varia de 15 a 45 dias. O retorno, às vezes, chega a ser maior. "Ainda é muito precário. Atrasa muito, principalmente a distribuição depois que chega ao Brasil", disse.

Para a arquivista Rita de Cássia Carvalho Silva, de 50 anos, as cartas são responsáveis por amizades ao longo de mais de 20 anos. Em 1990, depois de ler em uma revista sobre um canal de cartas para a troca de receitas ela começou a se corresponder e chegava a receber em média 50 por semana. Desde então ela participa do Encontro dos Correspondentes, que acontece anualmente, esse em Mato Grosso do Sul e em 2012, em Natal. "A carta tem algo que jamais o e-mail terá: a caligrafia. Nela você sente como a pessoa está", avalia.

Atualmente, a quantidade, a frequência e o teor mudaram. A culinária foi substituída por assuntos e confissões do cotidiano. "São amizades sólidas, cartas lindas. A primeira que recebi de Ruth, hoje com 75 anos, é de 27 de setembro de 1991, a última de abril desse ano". Ela mantém contato com três pessoas, em João Pessoa (PB), Londrina e Curitiba (PR).

Outro diferencial nesse tipo de comunicação, segundo Rita, é a espera pela resposta. "Saber que alguém recebeu e vai ter o trabalho de escrever para contar sua vida. Essa expectativa é muito gostosa", comenta a arquivista que é conhecida pelos carteiros do bairro onde mora, a Ribeira.

Volume de cartas cai

O gerente da agência dos Correios da avenida Rio Branco, no Centro, Leonardo Henrique Pereira de Lima, estima que menos de 1% da média de 20 mil correspondência/mês que circulam na agência são de cartas não comerciais de pessoas físicas. Ainda assim, a maior parte é para participação em promoções de empresas que oferecem prêmios. "É ínfimo o movimento desse produto hoje em dia. Não chega a 30 por semana. Tanto que os Correios tiveram que se adequar e oferecer outros serviços - bancários, de encomendas", ressalta o gerente.

De acordo com a superintendência regional da ECT, entre os oito segmentos de negócios explorados pelos Correios - aquele que expressa a maior representatividade em termos de receita operacional ainda é o segmento de Mensagens, com 50,29%, da receita total, onde a carta não-comercial está inserida e que representa menos de 3% desse montante, com uma tendência de redução dessa participação, justamente em razão do advento das novas tecnologias - especialmente relacionadas à Internet e Redes Sociais a ela vinculadas. Na década de 1980, a comunicação entre pessoas por meio de cartas superava os 50% do fluxo diário de objetos entregues. O volume médio de cartas comerciais e não comerciais distribuídas, diariamente, no âmbito da ECT/RN é de 390 mil. Aproximadamente 11,5 mil são de natureza não comercial.

Não há estatísticas de áreas geográficas de Natal com maior predominância de recebimento/emissão de cartas entretanto, observa-se um volume mais substancial entre os filatelistas, que alimentam grandes redes de intercâmbio de cartas/cartões postais nacionais e internacionais. São pessoas físicas de relativo poder aquisitivo, cultural e social e, paradoxalmente, àqueles que tem facílimo acesso à rede de computadores.

E lá nos EUA em clima de crise…

Blog do Prof. Ozamir Lima - Designer: Segundo Freitas