domingo, 19 de outubro de 2014

Lemes: O balanço das denúncias contra Aécio que a mídia ignorou

aécio neves
por Conceição Lemes
Nos últimos dias, a Folha de São Paulo descobriu as três rádios – entre elas, a Arco-Íris –  e o jornal de Aécio Neves, candidato à presidência pelo PSDB, e  de sua família.
Isso, no entanto, não é nenhuma novidade.
Desde 2011, o Viomundo denuncia a aplicação, via publicidade, de dinheiro de estatais mineiras e da administração direta estadual na rádio Arco-Íris e demais veículos de comunicação de Aécio Neves e família.
– Por que 2011?
Em 17 de abril de 2011, Aécio foi parado pela polícia numa blitz de trânsito no Leblon, cidade do Rio de Janeiro. Convidado a fazer o teste do bafômetro, ele se recusou. A carteira de habilitação, vencida, foi apreendida. Levou duas multas.
O carro em que o senador dirigia na hora da blitz — Land Rover TDV8 Vogue, ano 2010, placa HMA 1003, valor mercado R$ 255 mil, comprado após as eleições de 2010 — pertencia à rádio Arco-Íris, de Belo Horizonte (MG), cujos sócios são Aécio, a irmã Andrea e sua mãe, Inês Maria Neves Faria.
Durante todo o período em que Aécio governou Minas ( janeiro de 2003 a abril de 2010), sua irmã, Andrea Neves, comandou o Núcleo Gestor de Comunicação Social da Secretaria de Governo. Uma de suas funções era decidir sobre a alocação de recursos de toda a publicidade do Estado de Minas Gerais.
Ontem, no debate do SBT, Dilma questionou Aécio sobre o assunto duas vezes:
– Sua irmã era responsável por toda a verba destinada à publicidade, que foi para as rádios e os jornais que vocês têm em Minas.
– Quando a gente pergunta sobre os recursos passados às rádios e a um jornal mineiro que você tem em MG, não há transparência.  
Aécio não respondeu. Fez de conta que não era com ele.
Assim como mídia corporativa menosprezou essa e outras denúncias feitas e reiteradas desde  2011 em relação ao governo de Aécio Neves  (confira aqui, aqui e aqui).
Por isso, nós resgatamos agora – 17 de outubro, às 21h30 – a reportagem abaixo, que foi publicada em 17 de fevereiro de 2013. Nela, tratamos da Rádio Arco-Íris, Banjet, Oswaldinho, aplicação de verbas públicas em empresas da família, voos em jatinho do presidente da Codemig, suspeitas de ocultação de patrimônio e sonegação fiscal, blindagem.
***
 “Se o Gurgel não abrir inquérito contra o Aécio, estará prevaricando”
Em Minas, o ex-procurador Alceu Marques Torres arquivou duas representações  contra Aécio e Andrea Neves. Em 31 de maio de 2011, os deputados Rogério Correia, Sávio Souza Cruz e Antonio Júlio entregaram a Roberto Gurgel outra denúncia. Ela está na gaveta do procurador-geral da República há 22 meses e 17 dias
por Conceição Lemes
17 de abril de 2011. Madrugada de domingo, Leblon, Zona Sul carioca. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), dirigindo uma Land Rover, é parado pela polícia numa blitz de trânsito. Convidado a fazer o teste do bafômetro, ele se recusa. A carteira de habilitação, vencida, é apreendida. Leva duas multas.

A partir daí, o poderoso bunker montado para protegê-lo foi sofrendo alguns abalos.
O Movimento Minas Sem Censura (MSC), bloco de oposição que reúne parlamentares do PT, PMDB, PCdoB e movimentos sociais, descobriu fatos até então desconhecidos. Além de denunciá-los publicamente, fez representações a várias instâncias, pedindo que fossem investigados.
Essas ações não deram em nada até agora.
Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), as tentativas para instalar CPIs não prosperaram. Lá, como em São Paulo, vige a lei da mordaça tucana.
Alceu José Marques Torres, procurador-geral da Justiça de Minas até início de dezembro de 2012, arquivou as duas representações feitas contra o senador, a irmã Andrea Neves e a rádio Arco-Íris.
“Como o procurador nada apurou, nós entramos com a segunda representação”, diz o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG), líder do MSC.
“O promotor João Medeiros Silva Neto, do Ministério Público do Estado de Minas, abriu inquérito para investigá-la. Porém, o doutor Alceu avocou para si o processo e arquivou. O então procurador-geral prevaricou.”
Em 31 de maio de 2011, Rogério e os colegas Luiz Sávio de Souza Cruz e Antônio Júlio, ambos do PMDB, foram a Brasília.
Entregaram pessoalmente a Roberto Gurgel representação denunciando Aécio e a irmã dele, Andrea Neves, por ocultação de patrimônio e sonegação fiscal. A representação está na gaveta do procurador-geral da República há 22 meses e 17 dias.
“Como em 2010 Aécio se tornou oficialmente sócio da rádio Arco-Íris, cujo valor de mercado é de R$ 15 milhões, se tinha patrimônio total declarado de R$ 617.938,42?”, questiona Sávio Souza Cruz, vice-líder do MSC.
“Como Aécio viajava para cima e para baixo em jatinho da Banjet, cujo dono preside a Codemig e é dono de empresas que prestam serviços ao governo de Minas? Por que Aécio indicou Oswaldinho para presidir a Codemig?”
Rogério Correia denuncia: “Há fortes indícios de ocultação de patrimônio e sonegação fiscal. Aécio se recusa a prestar esclarecimentos sobre o seu patrimônio. Andrea destinou dinheiro público para empresas da família. Isso é improbidade administrativa!”
“Em Minas, o Aécio tudo pode”, continua Souza Cruz. “Nós poderíamos ter copiado tantas coisas aprazíveis da Bahia, acabamos por reproduzir uma das menos positivas, o Aecinho Malvadeza.”
“Está tudo dominado”, ele sentencia. “A Assembleia Legislativa homologa tudo o que é do interesse do Aécio. O ex-procurador geral de Justiça de Minas virou o zagueiro do Aécio, nós passamos a chamá-lo de ‘Aéceu’.”
AS DENÚNCIAS MENOSPREZADAS PELA MÍDIA CORPORATIVA
Rádio Arco-Íris, Banjet, Oswaldinho, aplicação de verbas públicas em empresas da família, voos em jatinho do presidente da Codemig, suspeitas de ocultação de patrimônio e sonegação fiscal, blindagem.
Nenhuma dessas denúncias, praticamente desprezadas pela mídia corporativa, é novidade. Todas, desde 2011, têm sido feitas e reiteradas (confira aquiaqui e aqui).
O ponto de partida, relembramos, foi o flagrante do teste do bafômetro, em 17 de abril de 2011, na cidade do Rio de Janeiro.
O carro que o senador dirigia na hora da blitz — Land Rover TDV8 Vogue, ano 2010, placa HMA 1003, valor mercado R$ 255 mil, comprado após as eleições de 2010 — pertencia à rádio Arco-Íris, de Belo Horizonte (MG), cujos sócios são Aécio, a irmã Andrea e sua mãe, Inês Maria Neves Faria.
Há anos é propriedade da família Neves. Em 1987, o então deputado federal Aécio Neves ganhou a concessão para explorá-la do à época presidente da República José Sarney, atualmente senador.
Por coincidência, Aécio votou a favor da ampliação do mandato de Sarney para cinco anos, o que lhe valeu entre adversários a alcunha de “Aecinco”.
Antonio Carlos Magalhães, ministro das Comunicações naquele momento, assinou a outorga. Inicialmente a sede da emissora ficava em Betim, depois foi transferida para BH.
A matéria abaixo de Veja, publicada na seção Radar, em 1987, circulou muito após o teste do bafômetro. Ela diz que Aécio já seria proprietário de outras três rádios, em Cláudio, Formiga e São João Del-Rei. Investigação feita em 2011 revelou que oficialmente ele era sócio apenas da Arco-Íris. Estavam em nome de Andrea outra emissora e um jornal em São João Del-Rei.
Aécio, aliás, só passou a integrar legalmente a sociedade da rádio Arco-Íris dois meses após ser eleito senador.  Mais precisamente a partir de 28 de dezembro de 2010 com valor declarado à Junta Comercial de Minas Gerais de R$ 88 mil, o equivalente a 88 mil cotas. A mãe, dona Inês Maria Neves Faria, repassou-lhe a maior parte das suas.
Em consequência, as 200 mil cotas da empresa ficaram assim distribuídas:  Andrea, 102 mil (51%); Aécio, 88 mil (44%); e dona Inês Maria, 10 mil (5%).
Foi a sétima alteração contratual da empresa, que iniciou atividades em 1986. Abaixo a última página do contrato.
A rádio Arco-Íris, além da Land Rover, era proprietária em 2011 de outros 11 veículos registrados no Departamento de Trânsito de Minas (Detran-MG).
Dos 12 veículos, seis são carros de passeio de luxo, em geral não utilizados para fins empresariais.
Mais surpreendentes foram as frequentes autuações dos veículos da Arco-Íris no Estado do Rio de Janeiro.
Afinal, ela é retransmissora da rádio Jovem Pan FM, tem sede em BH, não possui departamento de Jornalismo e se atém a transmitir músicas para jovens.
As multas aplicadas em 2011 no Toyota Fielder (HEZ1502) e na Land Rover TDV8 Vogue (HMA 1003) decorreram de excesso de velocidade nas cidades de Búzios, Rio Bonito e Rio de Janeiro e em rodovias fluminenses.
A informação é do Detran-MG. Abaixo uma do Toyota Fielder (HEZ1502) .
MILAGRE DOS PEIXES 
Aécio governou Minas de janeiro de 2003 a abril de 2010. Durante os dois mandatos, a irmã Andrea comandou o Núcleo Gestor de Comunicação Social da Secretaria de Governo, criado por decreto em 3 de abril de 2003, pelo próprio governador.
O setor tinha as funções de:
1) coordenar, articular e acompanhar a execução de toda a política de comunicação social do Estado, inclusive a das secretarias, autarquias, empresas públicas e fundações estaduais;
2) decidir a alocação de recursos financeiros de toda a publicidade do Estado de Minas Gerais, sua administração direta e indireta, até mesmo das empresas controladas pelo poder público mineiro, bem como o patrocínio de eventos e ações culturais e esportivas.
De 2003 a 2010, as despesas com “divulgação governamental” somaram R$ 489 milhões. No primeiro mandato, foram R$ 157 milhões; no segundo, R$ 325 milhões, de acordo com o Sistema Integrado de Administração Financeira do Tesouro (Siafi).
Nesses valores não estão incluídos os gastos com publicidade de empresas públicas ou de economia mista controladas pelo Estado, como as companhias  Mineradora (Codemig), Energética (Cemig), Saneamento (Copasa) e Gás (Gasmig), assim como as do Banco de Desenvolvimento de Minas (BMDG) e Loteria estadual (LEMG). Eles totalizaram mais de R$ 325 milhões de 2003 a 2009, conforme o Tribunal de Contas do Estado.
Pois era Andrea quem orientava, determinava e supervisionava quanto, quando, como e onde aplicar todos esses recursos do Estado e suas empresas, diretamente ou via agências de publicidade.
No decorrer das gestões do irmão-governador, o seu núcleo aplicou, a título de publicidade, dinheiro de estatais mineiras e da administração direta estadual na rádio Arco-Íris e em outras empresas de comunicação dos Neves.
Exatamente quanto não se sabe, pois o ex-procurador-geral Alceu José Marques Torres nem ao menos  investigou quanto de dinheiro público a rádio Arco-Íris recebeu.
Por falar em patrimônio, em fins de 2010, quando Aécio passou a ser oficialmente sócio da rádio Arco-Íris, o capital social registrado não representava o valor real. Somente os 12 veículos em nome da empresa valiam aproximadamente R$ 714 mil em maio de 2011. Já o valor comercial da emissora, de acordo com fontes do mercado, era de aproximadamente R$ 15 milhões.
Contudo, no início de 2010, ao registrar a candidatura ao Senado, Aécio declarou à Justiça Eleitoral patrimônio total de R$ 617.938,42. Um decréscimo de cerca de 20% em relação ao de 2006. Apenas a parte dele no valor dos automóveis da rádio Arco-Íris seria de R$ 314 mil!  Um milagre dos peixes às avessas.
BANJET, CODEMIG, BANDEIRANTES, IM: RELAÇÕES FAMILIARES E COMERCIAIS
Em 2011, o Minas Sem Censura fez outra denúncia contra o senador tucano: Aécio usava gratuitamente os jatinhos da Banjet Taxi Aéreo Ltda, para deslocamentos no Brasil e exterior. “Uma cortesia da empresa”, justificou-se na época.
A Banjet fazia parte do grupo do extinto Banco Bandeirantes, sendo seus donos os empresários Clemente Faria e Oswaldo Borges da Costa Filho.
Oswaldinho (como Oswaldo Borges da Costa Filho é conhecido em Minas) é casado com Beatriz Faria Borges da Costa, filha do banqueiro Gilberto de Andrade Faria, que foi padrasto de Aécio. Gilberto, falecido em 2008, casou-se em segundas núpcias com dona Inês Maria, com quem viveu durante 30 anos.
Clemente, morto em acidente aéreo em julho de 2012, é o outro filho do primeiro casamento do banqueiro Gilberto Faria. Clemente, portanto, era cunhado do Oswaldinho, seu sócio na Banjet.
Pois Oswaldinho e Clemente eram sócios em outras empresas, entre elas a Star Diamante Ltda (nome fantasia Starminas), criada em setembro de 2003. Em 4 de fevereiro de 2004, Clemente transferiu todas as suas cotas para Oswaldo Borges da Costa Neto, que já era sócio, e Oswaldinho, a quase totalidade. Costa Neto é  filho de Oswaldinho e ficou com 259.999 cotas das 260 mil cotas da empresa. Abaixo fragmento da última página do contrato social de constituição dela.
A essa altura, Oswaldo Borges da Costa Filho  já presidia a Companhia Mineradora de Minas (Comig), como mostra nota publicada pelo jornal O Estado de Minas em 24 de setembro de 2003, página 17.
No final de 2003, a Comig teve nome e objeto social alterados para Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).
Codemig é uma empresa pública e como tal o diretor-presidente deve ser eleito pelo seu conselho. Mas, na prática, é quem o governador indicar. Em 2003, com Aécio no poder, Oswaldinho  – genro do padrasto de Aécio – passou a presidir a Comig, depois a Codemig, cargo que ocupa até hoje.
Não haveria aí conflito de interesses?
Explico. A mineração é uma das áreas de atuação da Codemig. Além disso, Oswaldo Borges da Costa Filho era sócio ou integrava a diretoria de várias empresas, segundo levantamento feito na Junta Comercial de Minas Gerais em 16 de maio de 2011. Entre elas, a Minasmáquinas S/A e a Bamaq S/A – Bandeirantes Máquinas e Equipamentos, que também pertenceram ao grupo do extinto Banco Bandeirantes e mantêm relações comerciais com o Estado de Minas Gerais, segundo o bloco de oposição Minas Sem Censura.
Curiosamente, um dos endereços do liquidado Banco Bandeirantes — Avenida Rio de Janeiro, 600,  Belo Horizonte – era o mesmo da IM Participações e Administração Ltda.
Gilberto Faria, relembramos, era dono do extinto Banco Bandeirantes e foi padrasto de Aécio.
A IM, por sua vez, tem como sócios os irmãos Neves da Cunha — Aécio, Andrea e Ângela, a mais nova do clã.  A mãe é a administradora. Dona Inês Maria atuou também na gestão do Bandeirantes e foi sócia do marido, o banqueiro Gilberto Faria, em algumas empresas, como a Trevo Seguradora.
A investigação pedida pela oposição mineira poderia esclarecer, por exemplo, se houve alguma triangulação entre o Banco Bandeirantes e a IM.
ASSESSORIA DE AÉCIO: ”MOTIVAÇÃO MERAMENTE POLÍTICA”
Esta repórter buscou falar com o senador e a irmã, para saber o que teriam a dizer sobre as representações feitas contra ambos pelo Minas Sem Censura.
Foram muitos e-mails e telefonemas para o gabinete de Aécio, em Brasília, com a secretária driblando: “os assessores de imprensa estão em Minas”, “estou tentando contatá-los, mas não consigo”.
Até que, depois de muita insistência, veio esta resposta:
A assessoria do senador Aécio Neves informa que se trata de antigas iniciativas de dois deputados de oposição ao PSDB de Minas Gerais, amplamente noticiadas à época e sobre as quais foram prestados todos os esclarecimentos. É nítida a motivação meramente política das mesmas. Registre-se que uma delas chegou a ser apresentada por duas vezes, tendo sido, nas duas ocasiões, investigada e arquivada por falta de fundamento.
De Andrea, nenhum retorno. Em 2003, o então governador Aécio Neves nomeou-a para a presidência doServas (Serviço Voluntário de Assistência Social), cargo que ocupa até hoje. Está na terceira gestão. O site da entidade informa:
O Serviço Voluntário de Assistência Social – Servas é uma associação civil, de direito privado, sem fins econômicos, que tem como objetivo promover e executar ações sociais em Minas Gerais, dotado de autonomia administrativa, financeira e operacional. É reconhecido como entidade de utilidade pública nos níveis municipal, estadual e federal. Existe desde 1951.
Andrea Neves da Cunha permanece na presidência do Servas, de janeiro de 2011 até a presente data, dando continuidade aos programas já existentes, em parceria com o Governo de Minas, empresas e entidades de classe.
Após vários e-mails e telefonemas ao setor de Comunicação do Servas nos últimos 25 dias, a chefe do setor alegou: “Andrea está de férias, não posso encaminhar para ela”.
Em resposta a mais um e-mail enviado por esta repórter, ela respondeu nessa quinta-feira 14: “A senhora Andrea já retornou de férias, mas ainda não pude tratar com ela sobre seu pedido. Havendo um retorno, informo”.
DENÚNCIA CONTRA AÉCIO E ANDREA NA GAVETA DE GURGEL HÁ QUASE 23 MESES
Em 31 de maio de 2011, os deputados Sávio de Souza Cruz, Antonio Júlio e Rogério Correia entregaram nas mãos do procurador-geral da República, em Brasília, a representação contra Aécio e Andrea.
Gurgel fez questão de ir com os parlamentares até o setor de protocolo da Procuradoria Geral da República (PGR). Aí, a representação recebeu o número 1.00.000.006651/2011-19.
“Ligávamos de vez em para o setor de protocolo e a informação era de que não havia novidade”, diz  Correia. “Sabíamos apenas que a representação não havia sido arquivada nem inquérito aberto.”
“No dia 29 de janeiro, ligamos e nos disseram que no dia 18 de dezembro de 2012, a Coordenadoria de Comunicações Administrativas (CCA) remeteu a representação e um relatório para o doutor Gurgel”, acrescenta Correia. “Nos disseram que estão na mesa dele.”
Ao Viomundo, a Secretaria de Comunicação da PGR limitou-se a dizer antes do Carnaval: “O documento protocolado pelos deputados encontra-se em análise no gabinete do procurador-geral”.
Nesta sexta-feira 15, voltamos a contatar a Secretaria de Comunicação da PGR para saber se havia tido alguma mudança nesse período. A resposta foi “não“.
Fontes da própria PGR nos disseram que até 28 de janeiro de 2013 — portanto, um dia após Correia ligar para lá — não havia sido dado qualquer despacho na representação protocolada em 31 de maio de 2011, que continua na gaveta do procurador.
Oficialmente não é da alçada da CCA dar parecer jurídico sobre qualquer representação. É um setor grande da PGR. Aí, ficam expediente, protocolo, arquivo, publicação.
Além disso, mesmo não existindo arquivamento, o status da representação dos deputados mineiros contra Aécio e Andrea estava gravado como “arquivado” no sistema. Isso sempre acontece quando o processo está parado há mais três meses.
“Diante de todas essas denúncias, não há outra saída para doutor o Roberto Gurgel a não ser abrir inquérito junto ao STF contra Aécio Neves”, espera Rogério Correia. “Do contrário, ele estará prevaricando.” Sávio Souza Cruz afirma: “Espero que o procurador-geral da República cumpra a Constituição”.
A propósito. Enquanto a representação contra Aécio e Andrea Neves dorme há quase 23 meses na gaveta de Gurgel, ele decidiu, em cinco meses, o destino das acusações feitas em setembro de 2012 pelo publicitário Marcos Valério de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria recebido vantagens financeiras do esquema do mensalão.
No dia 6 de fevereiro, o procurador-geral resolveu mandar para Minas o processo. Nessa quinta 14, o Ministério Público Federal (MPF), em Belo Horizonte, recebeu o depoimento de Valério contra Lula.
“A denúncia de Marcos Valério, réu já condenado, querendo benefício para reduzir pena, foi rapidamente remetida ao MPF  para investigação”, compara Correia. ” Já a de duas bancadas, representando 19 deputados estaduais, contra Aécio e Andrea está sem nenhuma providência desde maio de 2011.”
“Parece que o Marcos Valério, como fonte de denúncia, tem mais credibilidade para o procurador-geral do que as bancadas estaduais de Minas dos dois maiores partidos do Brasil”, diz Sávio Souza Cruz. Correia finaliza: “É o cúmulo do partidarismo”.
Leia também: 

Beatriz Cerqueira: Aécio mente sobre Educação; “Peçam aos professores de Minas que mostrem o contracheque

por Conceição Lemes
A propaganda eleitoral do candidato tucano à presidência Aécio Neves disse, no Dia dos Professores: “Com nossos professores, a gente também aprende, desde cedo, que é errado mentir, iludir, confundir“.
Pode ter sido mais uma tentativa de desmentir a denúncia de que Minas Gerais não paga o piso salarial aos professores da rede pública de ensino.
Seria uma insinuação, assim, de que os professores que o contestam estão mentindo.
“Na verdade, quem está mentindo é o Aécio”, denuncia a professora Beatriz Cerqueira, presidenta do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUte). “Ele não tem dito a verdade sobre educação em Minas Gerais.”
Beatriz Cerqueira afirma:
–  Aécio mente ao dizer que Minas paga o piso salarial e não paga.
– Aécio mente também ao dizer que temos a melhor educação do país. Os indicadores de acesso e permanência na rede estadual de Minas desmentem-no completamente.
– Mais desrespeitoso ainda é ele dizer para a sociedade que os professores estão mentindo.
O piso salarial nacional estabelecido pelo Ministério da Educação (MEC) é de R$ 1.697,00.
Só que, todo mês, com o contracheque nas mãos, o professor da rede estadual de Minas Gerais sabe que não recebe o piso Salarial Profissional Nacional do magistério da Lei 11.738/08.
Quando foi governador, Aécio estabeleceu o “Piso remuneratório”, coisa que só existiu em Minas.
Ele estabeleceu um teto de remuneração – R$850,00. Se o professor, somando tudo o que estava no seu contracheque, não chegasse a este valor, havia uma complementação até o valor do teto. Não era piso salarial, mas teto. Limite de salário!
Quando Aécio saiu do governo, a professora recebia como vencimento básico R$369,00. A lei federal 11.738/08 estabeleceu que o piso não é toda a remuneração, mas o vencimento básico, a partir do qual se calculam as demais vantagens e direitos.
Seu sucessor, Antônio Anastasia, transformou este teto em subsídio, desconsiderando o que foi estabelecido na Lei e também a decisão que o Supremo Tribunal Federal tomou ao negar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta por vários governadores, inclusive do PT.
Ao criar o subsídio, Anastasia acabou com direitos conquistados pelos educadores ao longo de mais de 30 anos.
Recentemente um post antigo do Viomundo, de 2011, voltou a causar debate entre os internautas por conta da campanha eleitoral. É uma denúncia do SindUte feita durante uma campanha salarial.
O post já atingiu 49 mil compartilhamentos desde então. Eleitores tucanos, sem notar a data da publicação, chegaram a nos acusar de publicar um contracheque antigo. Oras, o post é de 2 de agosto de 2011!
Pois bem, a situação permanece a mesma.
Vejam abaixo o contracheque de agosto do professor Adriano. Ele tem licenciatura plena.
O valor de  R$ 1.455,30 é o subsídio para jornada de 24 horas. Desse valor é retirada, descontada no próprio contracheque, a contribuição para a Previdência e o IPSEMG.
Salário líquido a receber: R$ 961,66.
contraCheque agosto 2014 (1)-001
O professor Adriano não é exceção.
Tanto que, para provar que Aécio mente, o SindUte fez este cartaz com o salário da professora Ormesinda.
Ela tem 10 anos de rede estadual e pós-graduação. O seu salário líquido é R$ 1.013, 32:
Sindute-Contracheque-206x266-002
Por tudo isso, Beatriz Cerqueira recomenda: “Antes de vocês decidirem o seu voto no segundo turno, conversem com professores da rede estadual de Minas Gerais. Peçam para que mostrem o contracheque”

Desastre da água em São Paulo

Não há como Aécio exibir a suposta eficiência administrativa tucana como argumento para convencer os eleitores. Além das mazelas que vêm à tona a respeito do seus oito anos no governo de Minas Gerais - verdadeiro queijo suíço pelo volume de furos agora tornado público - tem o desastre da água em São Paulo. Não fosse a blindagem da mídia, Alckmin teria sido desmascarado antes do 5 de outubro. Não foi. Mas o próprio jornal Folha de S. Paulo chega a reconhecer, em editorial, que o desgoverno estadual nesse setor prejudica diretamente 16 milhões de pessoas! Pense nisso. Analise. Discuta. Divulgue.

Traço marcante de conservadorismo

As donas de casa, os trabalhadores e o machismo de Aécio Neves
Imagine uma família composta por um homem, uma mulher e três crianças. Nesta família o marido acorda cedo e sua esposa já está de pé preparando o café da manhã, ele se alimenta para mais um cansativo dia de trabalho. A mulher prepara as crianças para a escola e cuida dos afazeres domésticos enquanto espera a volta do “chefe” da família. Esta cena poderia fazer parte de uma narrativa do século passado, mas é visão contemporânea do presidenciável Aécio Neves.
Por Mariana Serafini, do Vermelho

As donas de casa e os trabalhadores, assim é a sociedade onde Aécio Neves vive. Ele não poupou machismo ao se referir às mulheres durante os dois debates que aconteceram recentemente em função do segundo turno das eleições, um na TV Bandeirantes outro na SBT.

Para o candidato à presidência, as mulheres que cuidam da casa não são também trabalhadoras. E ele ignora o fato de que hoje muitas mulheres não apenas cuidam da casa, como também conquistaram seu espaço no mercado de trabalho e junto com seu companheiro, ou companheira, contribuem diretamente para o sustento da família. 

O papel da mulher na sociedade de Aécio Neves é anacrônico, já não contempla a realidade brasileira. De acordo com a secretária nacional da Mulher do PCdoB, Liège Rocha, hoje as mulheres chefiam um terço das famílias brasileiras. “nós somos protagonistas da nossa história, atuamos em várias áreas, temos dupla jornada, mas adentramos os espaços públicos, tratar a mulher brasileira desta forma é uma atitude machista”, afirmou. 

O mais alto cargo eletivo do país é ocupado por uma mulher, apesar de ainda termos pouca representatividade feminina na politica e em outros espaços públicos, os estereótipos já foram superados. Mas nem a maior autoridade do país é respeitada pelo candidato que não hesita em chamar constantemente a presidenta da República de “mentirosa”, “leviana” e “ignorante” durante os debates. Ainda no primeiro turno, Luciana Genro também foi alvo, quando Aécio levantou o dedo em riste ao insultá-la durante uma participação em um debate. “Você não levante o dedo pra mim”, reagiu Luciana. 

Liège classifica a agressividade de Aécio nos debates como uma atitude claramente machista que mostra um candidato despreparado, incapaz de apresentar e defender suas propostas sem tentar intimidar a adversária. A secretária reforça ainda que toda forma de agressão, seja o desrespeito dele ao se dirigir à presidenta Dilma Rousseff, é uma violência contra a mulher e deve ser combatida. 

Questionado por Dilma sobre que políticas pretende implantar para combater a violência contra a Mulher e sobre a Lei Maria da Penha, Aécio desconversou. Não soube responder se, entre os órgãos federais que pretende extinguir, a Secretaria de Política para Mulheres estará na lista de cortes. 

Para a ex-ministra dos Direitos Humanos e atual deputada, Maria do Rosário, a falta de posicionamento de Aécio sobre as políticas para as mulheres é “gravíssima”, além disso, ele não apresenta nenhuma proposta concreta para a luta das mulheres brasileiras. “Foi o maior atestado de que ele não tem nenhum compromisso com os direitos de mais de 52% da população brasileira, as mulheres”, afirma. 

O ex-presidente Lula, durante um ato de campanha em Manaus criticou a postura de Aécio Neves nos debates e afirmou que ele está “sendo ignorante com Dilma”.

A defesa da esperança

Eduardo Bomfim
Há graves distorções nas atuais eleições presidenciais no Brasil como a virulenta campanha da grande mídia hegemônica oligárquica, familiar, junto às orientações do complexo de informação global, na tentativa de desmoralizar a democracia no País arduamente conquistada após 21 anos de arbítrio.
Para que metade da riqueza global ficasse com 1% de biliardários o “Mercado” impôs aos povos o pensamento único fascista, deseja esmagar as causas progressistas, soberania das nações, a esperança em um mundo melhor para os indivíduos, as sociedades.
As eleições presidenciais no Brasil inserem-se nesse contexto usado contra as nações dos BRICS em contínuos ataques especulativos às finanças internas, repulsa à autonomia desses países.
O que a grande mídia, o rentismo, fomentam diariamente é o ódio alucinado, a denúncia, julgamento, condenação sumária dos que a eles se opõem, a seus interesses.

Esculpem suas alternativas eleitorais e as destroem quando lhes convém. A candidatura Aécio Neves insípida, sem estatura, é parte desse projeto. Porém o mais grave tem sido o incentivo doentio dessa grande mídia ao nojo ideológico.
O Brasil ao tempo que vive um pleito eleitoral para escolha do seu futuro presidente pari passu convive com outro fenômeno: setores do “Mercado” financeiro agem contra a democracia, fazem a defesa do golpe político-midiático. Como uma espécie de imitação da República do Galeão de redação.
A atitude do deputado Jean Wyllys, dos jornalistas Xico Sá, Fernanda Escóssia, do cineasta César Charlone, da direção da Rede contrária ao apoio a Aécio, do presidente do PSB Roberto Amaral, Luciana Genro, deputados do PSOL, de muitos intelectuais, além do apoio a Dilma é claro repúdio ao golpe midiático arquitetado à luz do dia.
Algumas pessoas que votam em Dilma dizem estar sob coação como à época da ditadura. Deve-se afirmar sem bravata: combatam com ideias não aceitem provocações, meio de cultura que se deseja, defendam a esperança, sem receio, pela vitória em 26 de outubro.
Mas o que está em curso, além dessa campanha eleitoral, é a luta contra o espectro mundial do Fascismo do Século 21, difuso, alienante porém não menos feroz, obscurantista.
É incontornável, estratégica, a peleja em defesa do Brasil soberano, democrático, do progresso econômico, da justiça social.

A economia em dois projetos opostos de governo

Haroldo Lima*, no Jornal do Brasil

Numa campanha presidencial acalorada como a atual, diferentes temas polarizam e o eleitorado, por vezes, fica confuso. A economia é o terreno mais sólido para se caracterizar as posições e estabelecer as diferenças.
Guido Mantega e Armínio Fraga debateram assuntos econômicos no dia 9 de outubro, em um programa especial da Miriam Leitão, com tempo dobrado, na Globo News.
Mantega foi ministro da Fazenda do governo Lula e continua nesse cargo no governo Dilma, e Armínio, ex-presidente do Banco Central na época de FHC, seria o futuro ministro da Fazenda, segundo anunciou Aécio, caso ele seja eleito presidente. São as pessoas talvez mais qualificadas para falar sobre a política econômica de cada um dos candidatos que disputam a presidência, Dilma Rousseff e Aécio Neves. Suas opiniões ajudam a esclarecer os assuntos que dividem as opiniões e mostram que dois projetos opostos disputam o futuro do Brasil.
debate foi longo e sua íntegra pode ser vista no GloboNews Play. Destaquei passagens que achei mais importantes e as reproduzo abaixo, usando sempre que possível as frases dos debatedores, às quais acrescento breves comentários meus.
O tema inicialmente abordado foi o da inflação. Estando em 6,75%, ela foi caracterizada por Armínio como “bastante alta”, contrastando com o “crescimento muito baixo”. Armínio não indicou, porém, medidas concretas para enfrentá-la. Disse apenas que será preciso “um compromisso permanente de não deixá-la sair do controle”, compromisso que, por ser genérico e vago, qualquer candidato assumiria.
Mantega observou que “há onze anos cumprimos as metas de inflação” e, se hoje ela está alta, há tendência de “queda até o fim do ano”. Como a inflação se abate com mais força sobre a população de baixa renda, o governo tem lutado contra ela “ampliando a oferta de alimentos e de produtos”. A despeito disso, ela tem crescido, “inclusive por razões externas”, mas,quando Armínio era presidente do Banco Central “ele pegou a inflação a 7%, em 1999, e a entregou a 12% em 2002”. Mantega começava assim o comportamento que manteve em todo o debate de refutar posições do Armínio com dados comparativos da época do governo de FHC, em que Armínio presidia o Banco Central, e dos governos de Lula e Dilma.
Armínio tentou explicar o crescimento inflacionário apontado acima, argumentando que, no último ano do governo de FHC, houve um pânico provocado pela proximidade do início do governo Lula. Mantega não concordou. Disse que “a inflação subiu porque a economia estava fragilizada, não tinha reservas, tinha R$17 bilhões, que não era nada, enquanto hoje temos R$ 380 bilhões”.
Armínio insistiu na gravidade do crescimento baixo (“há quatro anos, 2% a menos que a média da América Latina”) e afirmou que “a crise mundial acabou em 2009, tendo havido um período de crise na Europa em 2011, a partir do que a economia vem se recuperando”. Mantega divergiu radicalmente dessa apreciação, disse que “90 % das economias do mundo estão desacelerando”, e lembrou o “Relatório do FMI, de dois dias atrás, que considera decepcionante a recuperação da economia mundial”. Completou: “há seis anos a economia mundial enfrenta a maior crise dos últimos 80 anos”.  
Ademais, com as políticas anticíclicas dos governos Lula e Dilma, “entre 2008 e 2013, fomos uma das economias que mais cresceram no mundo, a sexta com melhor desempenho no G20, só atrás da China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e Turquia”.
Armínio acentuou que “o que faz o país crescer é investir e nosso investimento é muito baixo, da ordem de 16,5% do PIB”. Agregando indicações sobre queda de produtividade e dificuldades na educação, declarou que “o modelo que temos fracassou”.
Quando replicou, Mantega introduziu um elemento importante na análise da situação econômica. Considerou que a economia brasileira encontra-se “saudável” e explicou o que isto significa. “É porque mantivemos nosso mercado de consumo”, em patamar elevado.  “Mesmo na crise, continuamos a crescer, gerando emprego”. “Foi uma das economias que mais gerou emprego, durante a crise, no mundo”. “Outros países, disse Mantega, desempregaram, baixaram salário e poder aquisitivo e estão agora com dificuldade de recuperar o mercado consumidor perdido”. “Nós não temos que recuperar nada, o crédito que era bastante escasso, subiu muito, a população passou a ter salários maiores e emprego”. E arrematou: “no governo Dilma geramos 5,5 milhões de empregos até agora, o dobro do que foi gerado em igual período de FHC”. “Fizemos muita inclusão social e nosso mercado consumidor ficou muito maior e está ativo”.
Mantega concordou com Armínio de que é fundamental investir. Por isso, disse, “criamos o Programa Prioritário do Investimento, o maior programa de concessões que já foi feito no Brasil, o PAC, o Minha Casa Minha Vida”. “Esse Programa será o carro chefe para o novo ciclo de expansão da economia, porque ele toca na infraestrutura, no transporte e atende a necessidade da população em serviços”.
Sobre as diferenças de política econômica entre as duas candidaturas, Armínio declarou que elas são “fundamentais”. Explicou: “o modelo atual não integra crescimento, tem dificuldade em mobilizar capital”. Acentuou que “temos que acertar a casa do lado macro, mobilizar capitais, investir e fazer algumas reformas, de cunho microeconômico, como a tributária”. E arrematou: não estamos falando em inventar nada de especial”, afirmação surpreendente, que soa como “não estamos falando em fazer nada de novo”...
Mantega, a esse respeito, registrou serem “muitas as diferenças” entre as duas candidaturas. “Armínio professa o tripé (tripé neoliberalsuperávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante) e quer superávit maior” para pagar juros aos bancos; quer “reduzir a inflação rapidamente, o que considero ser através dos juros altos”. Estes expedientes “não são suficientes principalmente em tempo de crise”. A crise exige “política anticíclica, onde haja incentivo a investimentos subsidiados, daí o Programa de Sustentação do Investimento do BNDES”. Este “foi o Programa que mais gastou no governo, R$240 bilhões,financiando máquinas, equipamentos, caminhões, ônibus, trator”. “O financiamento para empresa pequena e média tem juros de 4,5% ao ano, dez anos para pagar e prazo de carência, que é para viabilizar o negócio”. E comparando, mostrou: “diz-se que o Estado tem de investir, o que é certo; mas em 2002, (quando terminou o segundo governo de FHC) , o Estado investia 3,3 % do PIB, e hoje, investe ainda pouco, mas investe 4,7%”. Sistematizou enfim, a diferença principal econômica entre as candidaturas: “a diferença é essa: o papel do Estado?” Armínio quer que o Estado tire subsídios, nós, queremos reduzir tributos, baixar juros, desonerar folhas de pagamento”. “Isto já foi feito e aumentou a produtividade em 56 setores”.
Concitado a falar sobre o modelo de crescimento que defende,Armínio afirmou que “para nós a infraestrutura é crucial, hoje é uma barreira, deveria ser uma oportunidade. Com todos os programas que o Ministro listou, com muito dinheiro com juros subsidiados, o fato é que o investimento está caindo; precisamos juros baixos sim, mas para todo mundo, não só para quem toma dinheiro no BNDES; precisamos de um modelo que se alavanque no mercado;todo esse trabalho do BNDES gera um subsídio que é igual a um Bolsa Família e a um Minha Casa Minha Vida. Pra que?”.
Mantega aprofundou o exame do programa do BNDES. “Se não tivesse esse programa,o investimento não teria crescido na crise”. E voltou a comparar: “de 2003 a 2013, (período Lula e Dilma) o investimento cresceu 5,1% ao ano, enquanto nos oitos anos do período de FHC cresceu 1%%. “Não fosse o BNDES, as pessoas não iriam comprar máquina e equipamentos com esses juros de mercado. Em momento de crise os bancos privados se encolhem Os programas sociais também foram muito importantes para manter poder aquisitivo da população. Nossa prioridade foi aumentar o emprego. Com toda essa crise, nosso desemprego está baixo, em torno de 5%”.
A crise mundial voltou a ser discutida, assim como o papel dos bancos públicos. Armínio revelou ter “uma leitura totalmente diferente da do Guido sobre a crise mundial: essa acabou em 2009, em 2011 houve crise na Europa e depois a economia vem se recuperando. Os bancos públicos podem fazer programa emergencial, mas não entendo um banco público emprestando dinheiro à Petrobras ou a grandes empresas privadas, que tem acesso ao mercado”. 
Mantega reagiu categórico: “os bancos públicos brasileiros são muito bem geridos. Tem eficiência que pode ser constatada pelas margens de rentabilidade e pela inadimplência que têm. O Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES têm níveis de inadimplência menores que os do setor privado; são, portanto mais eficientes. E voltando a comparar: “a situação desses bancos mudou muito. No tempo do governo de FHC, a Caixa Econômica quebrou o Banco do Brasil quase quebrou.  O governo teve que colocar dinheiro, fazer um programa especial de saneamento. Assim foi criada a Emgea, no caso da Caixa Econômica, com R$27 bilhões de ativos podres. O Banco do Brasil também tinha vários ativos podres”. E fechando essa parte: “o BNDES tem hoje um lucro de R$8 a R$10 bilhões, e tinha naquela época R$500 milhões”.  
Juros e dívida pública voltaram ao debate. Mantega esclareceu: “estou no Ministério há quase nove anos e sempre procuramos manter o primário elevado”. “Na crise, fizemos políticas anticíclicas, que o Armínio não faria.” “Ele praticou juros elevadíssimos, sendo que a taxa real média de juros do seu período foi de 13,5%, taxa que agora é de 4%.” “A taxa para o consumidor caiu pela metade: antes se pagava por uma geladeira 80% de juros, agora ainda é muito, mas já está em 40%.” E informou: “recebemos uma dívida líquida de 60% do PIB, que hoje está em 35%. No caso deles (Armínio) foi o contrário: eles receberam em 1995 a dívida em 22% e a levaram a 60% do PIB”.
Em certos momentos, Armínio Fraga se saiu com a ideia de que Mantega falava “fora do contexto”. No debate entre Dilma e Aécio, na Band, dia 14 passado, também Aécio disse que Dilma estava com um “retrovisor”, olhando o passado. Na verdade o que eles procuram evitar é que sejam apresentados ao povo dados sobre o que eles fizeram no governo de Fernando Henrique e o que foi feito nos governos Lula e Dilma. Gostariam que fossem discutidas apenas ideias vagas sobre o futuro, as mais melosas, como mais educação, mais saúde, mais segurança, mais desenvolvimento, mais salário, mais emprego, mais tudo, sem precisar esclarecer como fariam isto e, sobretudo sem precisar explicar porque não fizeram essas coisas quando estiveram no governo federal ou no governo de Minas. É, sim, muito importante, examinar os dados comparativos apresentados pelo Mantega, que tanto deixavam em desconforto o Armínio Fraga.
Armínio asseverou que “o problema mais importante do país é o não investimento, responsável pelo baixo crescimento, pois o país está, há quatro anos, crescendo 2% a menos que a América Latina, com resultado primário zero, custo elevado da dívida, numa situação em que a crise já terminou no mundo“.
Mantega retorquiu: “a crise no mundo não acabou, afeta vários países, e o Brasil é um dos menos atingidos”.“Durante a crise, o Brasil aumentou o emprego, salário e renda como poucos países, embora o crescimento tenha caído.Nessa altura da crise, a nossa situação econômica é muito mais sólida que no passado, o que nos permite prever um novo ciclo de expansão, a taxas maiores que as anteriores.”
Investir é um objetivo com o qual o Mantega naturalmente concorda. Mas, advertiu, “muitos investimentos já estão sendo feitos, em mobilidade urbana e em serviços”. A propósito fez uma diferenciação importante: “até então criamos as condições para a população adquirir bens; agora o empenho é para que sejam ofertados mais bens e serviços.” “A prioridade é serviços, e estamos com um grande programa de concessões e muito investimento em educação, como se pode ver por esses números: em 2002 ( quando terminava o governo de FHC), O Ministério da Educação tinha R$35 bilhões, enquanto hoje tem R$118 bilhões, mais do que o triplo”.
Há um aspecto não levantado no debate e que tem muita importância quando se trata de recursos para educação e saúde. É que desde que o pré-sal foi descoberto, os governos Lula e Dilma defenderam e conseguiram aprovar no Congresso lei que destina 75% dos royalties do petróleo no Brasil e 50% do Fundo Social do pré-sal para a educação e 25% dos royalties para a saúde. Isto significa que a educação e a saúde brasileiras já têm garantidos recursos elevados, capazes de permitir um salto de qualidade nesses serviços. E, sem dúvida, foi uma vitória dos governos de Lula e Dilma.
Armínio insistiu na reforma tributária que chamou de “profunda”, voltada para “parar de onerar exportações e investimentos”. Mantega mostrou que esse é “um dos pontos pelos quais o governo atual se bate e que, na verdade, uma reforma tributária já começou, com a Simples, a reposição do ICMS e a reforma do PIS-Cofins.”
A proclamação final de Mantega foi no sentido de dizer que “temos condições de dar continuidade a um programa de desenvolvimento que priorize a geração de emprego, a redução da pobreza e a evolução da renda per capita”. Documentou: “entre 1995 e 2002 (período de FHC) nossa renda per capita cresceu a 3%, e de 2003 a 2013 ( período de Lula e Dilma) cresceu a 30%”.
O seu fecho no debate foi: “haveremos de crescer mais 30% nos próximos oito anos”. 
*Haroldo Lima – é membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil e da sua Comissão Política.

Petrobras

Wanderley Guilherme dos Santos


A Petrobrás não é feita por ladrões, mas tem sido vítima de vários tipos de criminosos. Desde os que não desejavam que fosse criada aos que ridicularizavam dizendo que o Brasil não tinha capacidade para fabricar sapatos quanto mais para produzir petróleo.

Ainda mais: os que desejavam associar o capital estrangeiro aos negócios do petróleo (que, insistiam, não existia) transformaram-se nos que propunham vendê-los a preço de banana podre, antes da descoberta do pré-sal, já preessentido pelos enormes investimentos de prospecção em águas profundas. Descoberta uma das maiores reservas de óleo, pressionaram para entregar essa riqueza às aves de rapina internacionais.

Não, a Petrobrás não é feita por ladrões e outros tipos de criminosos. Ela é feita por dezenas de milhares de trabalhadores qualificados, por centenas de engenheiros de diversas especialidades, por mergulhadores, reparadores, dezenas de pessoas responsáveis pela saúde, alimentação e segurança de todos os que se arriscam, dia a dia, para fazer o que ela de fato é.

Apesar de todos esses criminosos, a Petrobrás não é uma empresa ocupada por assaltantes, ela é uma das maiores empresas de petróleo do planeta, bate sucessivos recordes de produção, detém a preciosa tecnologia de pesquisa em águas profundas e, com base na riqueza já conhecida, está preparada para se tornar um potência mundial, garantindo a soberania e independência do país. Os ladrões e criminosos estão ou irão para a cadeia, mas a Petrobrás caminha para um sucesso sem paralelo na história do petróleo nacional.
*Wanderley Guilherme dos Santos é cientista político.

Três motivos para votar em Dilma

Brasil Debates, em editorial
1º motivo: O Brasil melhorou
Os avanços sociais durante o governo Dilma, em prosseguimento ao período Lula, são incontestes e estão fartamente documentados. Destacamos a redução da desigualdade social e a redução drástica da pobreza como grandes conquistas dos últimos governos, que tiveram apoio na política de valorização do salário mínimo e nas melhorias do mercado de trabalho, com o aumento da formalização aumentou e a redução do desemprego. Também foram importantes os programas de transferência de renda, da Seguridade Social e aqueles voltados ao combate da extrema pobreza.
Essas conquistas não foram obra do acaso, mas fruto de política deliberada e da construção de um modelo de desenvolvimento historicamente inovador em que a questão social tem importância estratégica e a distribuição de renda também funciona como mecanismo que impulsiona o crescimento.
Para além do aumento expressivo mobilidade social, os colaboradores do Brasil Debate também identificaram avanços importantes em diversas áreas como, por exemplo, na saúde, na redução do desmatamento, nas políticas para agricultura familiar, na questão energética, nos direitos trabalhistas, na habitação, no saneamento, e na ampliação e democratização do acesso à  educação em todos os níveis, com destaque para a ensino infantil e  superior.
Este rumo civilizatório, apesar das dificuldades presentes, precisa continuar sendo seguido.
2º motivo: Há riscos de retrocesso 
O projeto implementado nos últimos 12 anos causa desconforto em segmentos privilegiados da sociedade, que têm baixa adesão às convicções democráticas e não se conformam com a ascensão e a pretensão das camadas populares de influir nos rumos do país.  Esse desconforto foi canalizado pelas candidaturas de Marina Silva e Aécio Neves, e difundido pela mídia tradicional, que aposta na criação de mitos infundados, na retórica pessimista e na bandeira moralista.
O projeto conservador se apoia, no campo econômico, em uma agenda de reformas neoliberais – explícitas ou implícitas nos programas de Marina e Aécio – que inclui a flexibilização do mercado de trabalho, o fim da regra de ajuste do salário mínimo, o desmonte da previdência social, a redução do papel dos bancos públicos e o encolhimento do Estado.
O programa de Marina Silva foi além, ao propor uma radicalização da pauta financeira, com propostas como a independência do Banco Central, um conselho externo para a política fiscal e a eliminação do crédito direcionado.
Na política externa, o projeto conservador propõe um realinhamento com os EUA em detrimento da integração sul-americana e da construção da aliança estratégica com os BRICS.
Nesse contexto, os projetos de Marina e Aécio – apoiados pela elite conservadora, pelo setor financeiro e pela imprensa tradicional – se mostram contraditórios com o Estado de Bem-Estar Social previsto pela constituição de 1988, e incompatíveis com as demandas das manifestações de junho de 2013, que reivindicavam mais e melhores serviços públicos.
Resistir a esta agenda é fundamental para evitar que o país retome um padrão de crescimento concentrador de renda e que desmonte o nosso incipiente Estado de Bem-Estar Social.
3º motivo: Dilma é o caminho para avançar mais 
Apesar dos progressos recentes, acreditamos que o Brasil precisa assegurar o crescimento econômico, sem o qual dificilmente a desigualdade poderia continuar a ser combatida com eficiência e sustentabilidade.
Isto implicará, por um lado, a ampliação ainda maior dos investimentos na indústria, infraestrutura e inovação, visando à redução dos custos e elevação da produtividade e, por outro, na continuidade dos processos de controle fiscal, controle inflacionário e redução dos juros.
Também – e não menos importante – será necessário dar continuidade às mudanças capazes de tornar o Brasil um país mais justo e igualitário. A redução das desigualdades de renda e riqueza e a busca da universalização da cidadania e da democracia plenas ainda têm um longo caminho pela frente.
Para isso, seria importante que a sociedade pressionasse e o governo buscasse efetivar uma reforma política que melhorasse os mecanismos de representação e reduzisse o poder econômico na política. A continuidade do processo de reconstrução do planejamento e do papel do Estado – um difícil caminho em função do desmonte ocorrido nos anos de 1990 – precisará vir acompanhada de uma gestão do Estado ainda mais eficiente, transparente e democrática.
Mudanças significativas no plano tributário também se fazem necessárias para melhorar a eficiência produtiva e para avançar na redução da desigualdade. Hoje a carga tributária brasileira continua sendo concentradora de renda, enquanto o gasto público distribui.
Outros desafios também devem ser enfrentados, como, por exemplo, a democratização da mídia, a segurança pública, as questões urbana e agrária, os direitos das minorias, o reequilíbrio do pacto federativo e a desmercantilização das políticas sociais.

Acreditamos que a candidatura Dilma é a única com comprometimento e capacidade para enfrentar esses desafios e realizar mudanças.

Blog do Prof. Ozamir Lima - Designer: Segundo Freitas