sábado, 10 de outubro de 2009

"Wilma foi o apagão da política econômica do estado"


Rosalie de Arruda Camara

O papo prometia. À mesa, o convidado Bira Rocha. Para iniciar a conversa na tarde quente de Ponta Negra, Restaurante Camarões, uma garrafa de vinho branco, refrigerantes e água de coco, para aliviar o calor e a garganta. O convidado toma água e petisca ostra natural. Impaciente e organizado, bota na mesa um envelope de mapas e gráficos e já dispara a metralhadora giratória em cima do governo estadual e do governo federal. "O nordeste tem perdido com a renúncia fiscal e cresce com o bolsa família . Isso representa um atraso", argumenta.

A prosa promete ser quente também.

O empresário Abelírio Vasconcelos da Rocha, ou Bira Rocha, ex-presidente da poderosa Federação das Indústrias do RN, a Casa da Industria, é uma personalidade polêmica. Paraibano de Cruz de Espírito Santo, 65 anos chegou ao estado ainda sem balbuciar as primeiras palavras, no primeiro ano de vida, na companhia dos pais, Marluce e Adauto Rocha. Em Natal, encontrou um terreno fértil para crescer. Estudou, fez amigos, constituiu família e um patrimônio financeiro. Comprou a Fábrica Josan em sociedade com Ismael Wanderley, na época genro de Aluízio Alves, fundou a Lanila e hoje é o responsável pela Cabo Telecom, além de ser criador de bode das raças Dorper.

Dessa forma, logo assumiu a condição de cidadão norteriograndense.

Não. A Assembleia nunca lhe outorgou o título. "Não sou simpático por lá", brinca. Natal e Mossoró, sim, já reconheceram seus méritos e hoje ostenta titulo de cidadão das maiores cidades do estado.

E a representação máxima do estado...? "Pensei muitas vezes em ser governador. Anos passados, recebi convite de Geraldo Melo, mas não tenho competência para pedir voto", confessa.
Depois de uma militância no PMDB filiou-se ao Democratas. Com uma ressalva, nunca ser candidato a nada, alertou ao senador José Agripino.

Foi desilusão com o serviço público? Não, a experiência como servidor público foi gratificante. É muito bom fazer algo pelas pessoas. "Quando trabalhava com Aluízio em Brasília na elaboração do projeto de Transposição de Águas do São Francisco, aquela pressão para cumprir datas e prazo, e quando finalmente fui entregar o projeto, eu quase chorei", revela.

E a Transposição sai de fato, Bira? "Sim, basta chegar uma grande seca".

Em compensação, a experiência contrária também foi vivida e nunca esquecida pelo empresário. No primeiro governo de Garibaldi Filho, Bira Rocha era uma espécie de "Primeiro Ministro". Da sua cabeça saiu o projeto de reforma que viraria o Rio Grande do Norte de cabeça para baixo. "Garibaldi teve coragem de fazer uma reforma que viabilizou o estado", diz com convicção.

Porém, a iniciativa que fechou diversas companhias e empresas deixou seqüelas. O empresário confessou que à época da reforma foi com sua mulher Carmem Lúcia jantar no restaurante Chaplin, Praia do Meio, e optou por ficar nas mesas externas. Ao entrar sentiu olhares de hostilidade. "E eu pensava que estava fazendo um bom serviço", confessa. Para logo justificar. "Era os jabutis que perderam o galho"!.

Pouco modesto, Bira afirma que as medidas tomadas pelo então governador Garibaldi conseguiu equilibrar as finanças do estado. "Deixamos o orçamento do estado equilibrado". A arrecadação girava em torno de R$ 2 bilhões, dos quais, R$ 200 milhões iam para investimentos, ou seja 10% do que era arrecadado. E compara. "O governo Wilma arrecada algo em torno de R$ 6 bilhões e continua investindo os mesmos R$ 200 milhões, ou seja, 3,3% da arrecadação", dispara a metralhadora giratória para o governo atual.

Para Bira, o governo Wilma não tem uma política de desenvolvimento. E a agenda do crescimento, perguntamos?

"Falácia! Wilma foi o apagão da política econômica do estado", alfineta. E então, o Rio Grande do Norte não é viável?

"Digo que depois da Bahia, o Rio Grande do Norte é o estado mais viável do nordeste. Nós temos dois grandes produtos, sol e vento que constituem energia limpa", diz.

Crítico, Bira diz que os políticos só pensam em eleição. Para ele, os governantes gastam tempo discutindo os sucessores. "E o estado não sai da tela da televisão, do radar", argumenta.

Vejam o aeroporto de São Gonçalo. Esse contrário à ordem. Natal é a única cidade que quer parceiros para construir o aeroporto. "O Governo deveria construir o aeroporto e depois entregar para uma empresa administrar". Assim são os exemplos. Bira defende uma reforma no Augusto Severo. "A copa vem e ninguém fala nisso".

Enquanto os países organizados do planeta discutem fontes de energia alternativa em Copenhagen, (Bira se refere à Conferência que vai discutir as Condições Climáticas do planeta - Cop 15 ) os políticos do RN deviam estar defendendo a inclusão de 10% dos recursos do Pré-sal para investimentos em fontes de energia limpa. "O Rio Grande do Norte tem sol e vento em abundância". Podem se transformar em energia renovável, fotovoltaica e eólica.
E porque o senhor não sugere ao deputado Henrique Alves relator do Pré-Sal? "Sou proibido de entrar na TV Cabugí", diz. Entretanto, não descarta a possibilidade das organizações classistas encamparem a sugestão. Perguntado se voltaria a disputar a presidência da FIERN, disse que não. "Nunca voltei à FIERN de onde saí um dia antes de acabar o mandato por imposição", relembra e acrescenta. "Nem minha foto quero na galeria dos ex-presidentes."

E com o Dr. Fernando Bezerra porque o rompimento de uma amizade tão longa? "Amizade é uma rodovia de mão dupla. Quando uma mão é interrompida...", responde enigmático.
Para Bira Rocha, Aluízio Alves é o político do RN que será lembrado daqui a 50 anos. Na opinião do empresário, o senador José Agripino fez a melhor gestão como prefeito e Garibaldi Filho como governador. "Agripino fez a cidade e o programa de adutoras é indiscutível", afirma.

E a prefeita Micarla, Bira Rocha? "Micarla ainda não disse pra que veio. Mas, é cedo para avaliar", argumenta, "ainda dou um crédito para ela", diz sorridente.

Perguntado quem seria eleito governador do Estado, não pestanejou. "Se a senadora Rosalba Ciarlini se aliar ao ex-prefeito Carlos Eduardo a chapa é quase imbatível. Embora Robinson Faria também seja um bom nome", diz. Na opinião de Bira, pelas experiências administrativas demonstradas, Rosalba e Iberê apresentam as melhores condições.

E Robinson Faria? É um bom deputado. Mas ficou esperando por Wilma. Atrelou seu projeto político a ela e foi um erro.

Wilma por sua vez dividiu o estado entre 4 candidatos. Passou todos esses anos alimentando os desejos dos quatros, mas recentemente, um quinto. Henrique Alves. "Wilma entregou uma fatia do governo a Henrique e disse: Toma, se vira nos trinta".

Para Bira, quem quiser ganhar as eleições no RN tem que se aliar a Garibaldi, Agripino e Wilma, ou ser um fenômeno. "Faz 20 anos que Wilma se elege com o 1 ou 2 orçamentos na mão". Ele vai mais além ao afirmar que a governadora está mesmo em uma saia justa. "Wilma tem que se eleger, eleger a filha e o filho. Na verdade, eles buscam a imunidade parlamentar".

O ex-presidente da Fiern ainda falou sobre política nacional. Elogiou a política econômica do governo Lula embora diga "se for para dar méritos, vamos dar a Fernando Henrique Cardoso". "O complexo de vira lata acabou", se referindo à nova postura que o Brasil conquistou inclusive no mercado internacional. "A gente não pode ter uma política de desenvolvimento para o Sul e outra para o Piauí", diz.

Na opinião de Bira, "O presidente Lula é o cara, mas entre ele ser o cara e eu votar no candidato dele é outra coisa." Para ele, "Se Dilma ganhar ela será uma interrogação maior do mundo".
Amante incondicional do ABC Futebol Clube, time do qual foi dirigente por 10 anos. "Foram 10 anos e sete vezes campeão", propaga orgulhosamente.

Bira defende a Copa do Mundo em Natal, mas não concorda com as demolições nos estádios. "Ninguém mede demolição", diz. Segundo Bira, se as demolições acontecerem "Wilma entrará no governo como guerreira e sairá como demolidora".
Correio da tarde

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