domingo, 17 de janeiro de 2010

A questão do Nordeste


Por Roberto Freire


Um dos temas mais relevantes para a questão do desenvolvimento do país já não ocupa, como em passado recente, o universo de preocupações de nossa intelligentzia: a questão do Nordeste e sua integração ao desenvolvimento nacional.

O foco parece ter sido deslocado para a floresta amazônica.

Tema central nos anos 50 e 60, a questão do Nordeste foi, depois da
redemocratização em fins da década de 80, posta de lado e a dependência regional em relação à União tem se tornado constante, sem que com isso seus problemas tenham sido equacionados.

Os indicadores sobre saúde, bem como índices de saneamento básico continuam dos mais baixos dentre todas as regiões, enquanto persistem as mais altas taxas de analfabetismo, os piores resultados na avaliação do sistema educacional e no quesito segurança a violência e assustadora e particularmente contra jovens e mulheres sua incidência esta entre as maiores do país.

O fato é que as regiões Norte e Nordeste continuam a exigir atenção e
tratamento do poder público diferenciados para que possam realizar de
forma autônoma seus processos de integração com o resto do país. E isto só se dará por meio de um amplo processo de industrialização, inclusive com os paradigmas da C&T da nova economia, e criação de centros de pesquisa para melhor conhecer as peculiaridades de seus
biomas, ricos e variados, visando a implementação de uma nova economia pautada pelas singularidades ambientais dessas regiões, tendo como pressuposto a sustentabilidade e geração de empregos para a população dessas áreas.

A experiência de desenvolvimento econômico nessas regiões mostra que tem aumentado sua dependência dos centros dinâmicos de indústria, localizados na região sudeste. Esse caráter complementar tem sido uma tônica em nosso processo histórico, sem que políticas integradoras tenham quebrado as amarras de sua subordinação à lógica vigente de concentração industrial e de capital.

Teria o Ministério da Integração Nacional, em sete anos, ao menos
equacionado os elementos centrais de nosso desenvolvimento integrado?

Teria traçado estratégias de longa duração que nos possibilite
vislumbrar a superação de nosso atual estado de desequilíbrio e
dependência regional? Teria articulado alianças políticas que dêem
sustentação a uma orientação distinta que eleve a capacidade de nossa infraestrutura física e humana, ensejando, assim, os necessários
elementos de uma ação de longo curso?

A resposta é um redondíssimo não. O que temos assistido como política de Estado no governo Lula é a difusão de seu caráter assistencialista,
demagógico, assentado na distribuição do Bolsa Família – programa de nítida funcionalidade conservadora – que, no curto prazo, alivia a carência das pessoas mas que mantém e reproduz o ciclo de
concentração da produção e de riqueza no sul-sudeste do Brasil.

Em 1981, Celso Furtado escrevia que “se a História nos pedir conta,
algum dia futuro, a todos nós brasileiros, das oportunidades que
aproveitamos ou perdemos na luta para edificar a pátria com que
sonhamos, será para o Nordeste que se voltará nosso pensamento. Lá
ter-se-á consumado a nossa derrota, ou vitória.”

Quase trinta anos depois – e há 50 anos da formação da Sudene -,
observando os índices sociais e econômicos daquela região, podemos
afirmar que há muito ainda para ser feito para que possamos cantar
vitória na luta contra o subdesenvolvimento em nosso país.

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Roberto Freire é presidente nacional do PPS

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