segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sempre acham um mesmo culpado: o professor

Faz tempo que tento mostrar que um mundão de gente sempre bota a culpa dos males da educação no professor. Este é reu antecipado. Ainda não se sabe qual é o crime, mas não há dúvida quanto ao culpado. Parece literatura barata de romances policiais: o mordomo é sempre culpado antecipademante. Mas, mesmo no caso de romances policiais B, há alguma sofisticação na trama, no início o número de culpados é grande. Isso não ocorre nas críticas sobre educação. Tudo que acontece de ruim é atribuído àqueles que exercecem o ofício de ensinar.

Faz uns trinta anos que combinei com um diretor da APEOESP a aferta de uma oportunidade em usos educacionais de computadores. Na ocasião eu era o gerente do Centro de Tecnologia Educacional (CTE) do SENAC/SP , unidade que possuía ótimos recursos de tecnologia educacional. Acertei com o sindicalista que ele convidaria vinte professores da rede estadual de ensino para que estes pudessem explorar o acervo de softwares educacionais do CTE. Além disso, coloquei-me à disposição para coordenar as atividades que os professores achassem necessárias em termos de capacitação.

Como os professores não podiam vir ao CTE durante a semana, planejamos as atividades para os sábados. Não deu certo. O sindicalista convidou um grupo de professores da periferia. A maior parte dos mestres era composta por gente muito humilde e com uma formação acadêmica extremamente deficiente. Era uma mostra daquilo que alguns acadêmicos chamaram de proletarização dos professores. Gente mal formada, humilde, com medo de se colocar como autores de suas propostas de ensino, amendrontada diante de uma parafernália eletrônica com a qual jamais tinham sonhado. Insisti no trabalho por uns quatro sábados. Tivemos que cancelar a atividade. Conversei com os mestres. Eles me disseram que o uso de computadores na linha daquilo que estava disponível no CTE era algo muito distante de suas necessidades.

O que mais me impressionou no grupo de professores com os quais me encontrei naqueles sábados foi o seu nível educacional. Eram pessoas que tinham dificuldade de se comunicarem de modo articulado. Aparentemente pouco liam. Vestiam-se pobremente. Fizeram faculdades facilitárias do tipo pagou-passou. Eram vítimas de um estado que não se comprometia com a formação de professores, atividade transferida para instituições privadas de pésima qualidade. Assim, os professores daquela época eram vítimas de uma educação comercializada (pela qual pagavam caro) e qualidade duvidosa. O círculo vicioso se fechava com um salário vergonhoso e condições sofríveis de trabalho.

Acho que as coisas melhoram um pouquinho. As faculdades caça-níqueis desapareceram ou mudaram (com alguma melhoria, graças a uma atuação mais efetiva do MEC). O piso salarial dos mestres ainda não é grande coisa, mas já não é tão vergonhoso. Mas, o governo continua ausente. A maioria esmagadora dos professores se forma em faculdades privadas.

A desvalorização do ofício docente é evidente. A formação ainda continua comprometida. As condições de trabalho ainda continuam sofríveis. É justo culpar tão somente os professores pelas mazelas da educação? Não acho que professores são anjos ou apenas vítimas de um sistema que coloca a educação fora do quadro das prioridades essenciais. Critico os erros que cometem. Mas acho que no momento eles não os atores com menor culpa pelas mazelas da educação pública deste pais.

Não vou concluir minhas considerações. Vou apenas mostrar por que escrevi este texto de desabafo. Volta e meia vejo sintomas da mania de culpabilizar os professores. [Sinal disso é a proposta de prova para professores aqui no Estado de São Paulo]. Ás vezes, os sintomas aparecem de modo sutil. E foi uma dessas observações sutis que me levou a escrever este post. Ela apareceu na comunidade tuitera que frequento e vem sendo retuitada (circunstãncia que comporva interesse e concordância com aquilo que está sendo veiculado). Copio-a para que os leitores saibam de onde parti:

DaisyGrisolia

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