segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Estudantes de Pau dos Ferros vencem Olimpíada nacional de Língua Portuguesa nas categorias Crônica e Poema


Dois alunos da Escola Estadual Tarcísio Maia, do município de Pau dos Ferros, foram premiados ontem na final da Olimpíada Nacional da Língua Portuguesa, em Brasília. Sara Viviane Almeida de Oliveira, 14 anos, ganhou na categoria “Crônica” e Alexsandro Mateus Queiroz Sobrinho, 15 anos, levou o título no segmento “Poema”.

Este ano, foram cerca de sete milhões de estudantes inscritos em todo o país e os vencedores de cada categoria ganharam a medalha de ouro, um computador e uma impressora. A escola também é contemplada com um laboratório de informática com dez computadores e livros para a biblioteca. A Olimpíada é uma parceria entre o Mnistério da Educação e Cultura (MEC) e a Fundação Itaú Social.

Após seletivas estaduais e regionais, a premiação foi realizada no Museu Nacional, em Brasília, e as medalhas entregues aos vencedores e seus professores pelo presidente Lula e o ministro da Educação, Fernando Haddad. Visivelmente emocionado e chorando muito, Alexsandro Mateus foi o primeiro potiguar a subir no palco para receber a medalha das mãos dos presidente pelo poema “Cidade Marcada a Ferro”. No ano passado o menino havia abandonado os estudos para trabalhar e ajudar a mãe, que é agricultora, mas decidiu voltar este ano atendendo aos pedidos da mãe e das professoras. “Nunca imaginei estar aqui, mas me esforcei muito para escrever o poema e vejo que tudo valeu a pena”, disse o adolescente.

EMOÇÃO

Ao ver Alexandro ao lado do presidente, Maria de Lourdes Queiroz, não conseguia conter as lágrimas. “Sempre disse a ele que o estudo era a única coisa que eu podia deixar para ele e hoje estou me sentindo realizada”, disse. Quem também não parava de chorar era o pai de Sara Viviane, José Rosean Fernandes de Oliveira. “Sempre acreditei no potencial da minha filha, mas vê-la receber uma premiação foi gratificante”, disse.

Sara tem 14 anos é uma das melhores alunas da escola. Ela escreveu uma crônica sobre a festa de emancipação de Pau dos Ferros e conta que, embora não achasse que estava inspirada, decidiu se inscrever. “Fiquei surpresa ao ser selecionada para a semi-final e mais ainda de ter recebido a medalha”, disse a menina.
CRÔNICA

Eu, tu, eles e nós

Aluna: Sara Viviane Almeida de Oliveira
Professora: Kaline Shirley da Silva Nascimento
Escola: E. E. Tarcísio Maia; Cidade: Pau dos Ferros – RN

Não diria que esse fato é comum apenas onde moro, porque não é. Mas, em meio a essa euforia ufanista e ao otimismo em que nosso país se encontra, diria que as pessoas preferem vendar seus próprios olhos para não vê-los em qualquer lugar: tentar mantê-los, de alguma forma, escondidos em becos tétricos; ignorá-los até é muito comum. Eles não parecem importantes, mas estão sempre lá, quer você os veja, quer não.

Eu particularmente prefiro não ir a festas. Parece-me um mundo à parte comandado pelo nosso mundo, e essa junção me aterroriza. Na ocasião a que me refiro, porém, estava eu na feira promovida pelo município para comemorar sua emancipação política, a Finecap. Não me orgulho de dizer-lhes isso, mas aquela foi a primeira vez que eu notei que eles existiam. Certamente, muitos deviam ter percebido antes de mim, mas em uma festa tão importante quem se importaria com eles? A noite seria longa para todos... Para eles, principalmente.

Estava eu em uma barraquinha de sorvetes que ficava no centro da feira, próximo ao palco. Meus pais pediram uma pizza, um sorvete para mim e minha irmã, pizza novamente, mas para meu avô. Sentei em uma cadeira de ferro dobrável próxima a uma mesa amarela, já meio enferrujada, de modo que ficasse de frente para as pessoas. O vento começava a ficar frio com a chegada das altas horas, porém mais e mais pessoas chegavam conforme os
ponteiros do meu relógio avançavam. Alguns olhavam os estandes, outros, como eu, ficavam com a família em barracas de lanche, enquanto a grande maioria esperava a chegada das bandas que iriam tocar. É sempre assim. Ninguém vem pelos eventos culturais, apenas para dançar até o dia seguinte.

Enquanto tomava meu sorvete e minha família conversava, passei a observar o ir e vir incansável das pessoas. Eram muito diferentes, percebia-se logo; entretanto, estavam todos vestidos com o mais apurado esmero; compraram perfumes franceses especialmente para a ocasião. Meninas de chapinha e de jeans muito justos, maquiagem e sempre alguma bijuteria. Os garotos passavam conversando, com seus cabelos moicanos reluzentes pelo gel, exibindo seus tênis novos em folha. Crianças com suas roupinhas infantis recém-compradas diante da aglomeração e dos vendedores de pulseiras brilhantes, sempre de mãos dadas firmemente com seus pais. Os adultos, também elegantes, esbarravam vez por outra neles, os únicos com roupas gastas e desbotadas. Não pediam desculpas. Seguiam em frente como se não valesse a pena olhar para trás, ou mesmo para a raquítica mão estendida que pedia tantas vezes uma moeda.

Os garotos magrinhos passavam carregando sacolas repletas de latinhas de alumínio que amassavam com os pés. A tez morena era quase unânime, variando bastante nos tons. Os cabelos negros, despenteados e malcuidados, balançavam ao vento por precisarem já de corte. Alguns usavam sandálias visivelmente velhas e desgastadas. Muitos andavam de pés descalços. Carregavam no olhar inquieto contraste: a esperteza que eram obrigados a ter para sobreviver e, ao mesmo tempo, temor.

Eles eram muitos, por toda parte. Anônimos em meio a tanto garbo, procuravam meios de superar suas não poucas dificuldades, em silêncio. Não reclamavam de parecerem invisíveis.

Voltei a mim quando minha mãe me chamou para irmos assistir ao show. Percebi que o sorvete acabou derretendo. Não importava. Nesse momento, a minha venda acabara de cair, e se manteria assim desde que o espectro do egoísmo não voltasse a reatá-la.

Lembro-me de que no dia seguinte falei sobre todos eles a quem eu conhecia, para que também suas vendas caíssem e passassem a valorizar a existência desses que por aí vivem como se não fossem também parte de nós. Talvez, se o fantasma do egocentrismo voltar a assombrá-los, terão para combatê-lo uma certa luz denominada solidariedade, que orientaria não só eles, mas você, eu, nós.

POEMA

Cidade marcada a ferro

Aluno: Alexsandro Matheus de Queiroz Sobrinho
Professora: Francineide Alves de Aquino
Escola: E. E. Tarcísio Maia; Cidade: Pau dos Ferros – RN

Se acaso “ocê” tiver tempo
para uma história escutar
vai conhecer nessa prosa
um pouco do meu cantar
que é história que se canta
quando se conta um lugar.
Quando essa terra, seu moço,
não tinha o nome que tem
era um simples povoado
que abrigava homens de bem,
senhores donos de gado
e gente humilde também.
Uma frondosa oiticica
o centro dali marcava
e ali sentavam vaqueiros
que da lida descansavam
e o tronco daquela árvore
a ferro forte marcavam.
De marcar com precisão
o tronco com quente ferro,
ferro que ferrava o gado,
ferro com que o homem ferra,
deram a minha cidade
o nome de Pau dos Ferros.
Pois dessa terra, seu moço,
o tempo fez outro povo:
homem que andava a cavalo,
sem rodovia e semáforo,
estacionamento ou carro,
hoje vê um mundo novo.
O pão de cada manhã
do “trigo” de cada dia,
o povo tirava da terra,
do que plantava, comia,
hoje muito do que compra
vem de outra freguesia.
Um céu de lua e de estrelas
encantava os namorados,
hoje, luzes amarelas
não deixam tão encantados
casais que enfeitam as praças
a andar de braços dados.
Há, porém, nessa terrinha
que Deus do céu povoou
um povo simples e alegre
feito mariposa em voo.
Valente feito lagarta,
que do casulo voou.

1 comentários:

José María Souza Costa

Belissimo. Muitissimom interessante o seu blogue Professor. Parabens. Eu tenho um muito simples. Estou lhe convidando a visitar e se possivel seguirmos juntos por eles. Estarei grato esperando por voce lá
Abraços de verdade

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