População cresce acima da média no interior do Brasil
Sob provável impacto de forte migração para o interior, a população nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, nos últimos dez anos, aumentou bem acima da média nacional, e o País viu suas cidades médias crescerem, em número de habitantes, num ritmo mais forte que os demais municípios. Os dados se destacam na Sinopse do Censo Demográfico 2010, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também apontou redução do povoamento de mais de 1/4 das cidades - nelas, havia menos habitantes do que no Censo 2000. A marcha para os Estados menos urbanizados do País, além de acentuar a reversão de uma tendência histórica, de deslocamentos populacionais massivos em direção ao litoral, assinala o aumento da pressão ambiental sobre biomas importantes ameaçados de devastação, como a Amazônia e o Cerrado.
Em vários aspectos do Censo 2010, o Norte e o Centro-Oeste se destacam pelo ritmo do crescimento que apresentam - que, curiosamente, também se reduziu na última década, embora tenha mantido ritmo forte, respectivamente de 2,09% e 1,91%. Nelas, ficam os dez Estados com maiores taxas médias de crescimento populacional: Amapá, Roraima, Acre, Distrito Federal, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul. A situação contrasta com o resto do País: Nordeste e Sudeste - apesar de ainda deterem o maior contingente populacional do Brasil - tiveram incremento semelhante, respectivamente de 1,07% e 1,05% anuais, abaixo da média nacional, de 1,17%, a menor da história. A região Sul ficou com a média mais baixa: apenas 0,87. No Rio Grande do Sul foi registrada a menor taxa estadual do Brasil, 0,49%.
Para o IBGE, as diferenças regionais e estaduais se devem principalmente às migrações. Foram elas, dizem técnicos do instituto, que ajudaram a turbinar a população “da fronteira” do País. Em 1980, Norte e Centro-Oeste, juntos, tinham 11,4% dos habitantes do País; no ano passado, 15,7%. Já a região Sul recuou de 16% para 14,4%. Só na última década, a população nortista cresceu 0,7 ponto, e a do Centro-Oeste, 0,6 - a sulina perdeu 0,4. No Sul, só Santa Catarina cresceu. Sudeste e Nordeste, porém, mantiveram o primeiro e o segundo lugares em população: nos dez anos passados, juntas, responderam por 63,4% do incremento populacional (mais 13,3 milhões de pessoas). Mesmo assim, houve queda proporcional: em 91-2000, 64,9% e 14,9 milhões a mais.
“A população está se espalhando. O fluxo migratório já não ocorre em direção aos grandes centros, e sim aos médios, principalmente cidades que são novos polos econômicos”, disse o presidente do IBGE, Eduardo Nunes. “Trata-se de um fenômeno de descentralização à medida em que a sociedade continua crescendo, embora em ritmo mais lento, mas ela não se dirige mais exclusivamente para o eixo Rio-São Paulo. Há concorrência maior.”
Proporção de pobres caiu em uma década no Brasil
Menos pobres, mas ainda muitos pobres. No Brasil retratado em 2010 pelo Censo Demográfico do IBGE, uma proporção menor dos brasileiros vivia nos extratos mais baixos de rendimento em comparação a 2000, mas a maioria morava em domicílios com renda familiar per capita de até um salário mínimo. No ano passado, praticamente um em cada sete residências tinha renda domiciliar per capita até 1/4 de salário mínimo; uma em cada três, de meio a um; e mais de uma em duas tinha rendimento por pessoa de até um salário mínimo - em todos esses grupos sociais, porém, esses números modestos significaram melhoria em relação à década anterior. O instituto constatou que, após a faixa de um a dois salários, os resultados dos dois censos se aproximaram, até convergir nos grupos depois de três a cinco - a antiga classe média, que ficou onde estava.
De 2000 para 2010, reduziu-se a proporção de domicílios sem rendimento, de 4,6% para 4,3%; com renda até 1/4 de salário mínimo de 21,3% para 13,5%; até 1/2, de 41,3% para 32%; até um, de 66,6% para 60,7%. Somados, no ano passado, havia, em todo o País, 32.285.163 domicílios com renda per capita de até um salário. Isso equivalia a 56,32% das residências permanentes ocupadas no Brasil. Quase 2,5 milhões de domicílios não tinham qualquer rendimento, enquanto 15.843.897 tinha renda familiar per capita de até 1/2 salário. O aumento do salário mínimo ao longo da década - de 237,7%, para uma inflação oficial (pelo IPCA) de 89% - e os programas sociais são apontados como causas da melhoria de renda dos mais pobres ocorrida no período.
Segundo o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, os dados mostram uma redução da desigualdade de renda. “O contingente brasileiro que em 2000 ganhava renda inferior a meio salário mínimo hoje é muito menor”, disse Nunes. Ele citou programas de transferência de renda e o aumento real do salário mínimo entre as principais causas da a mudança. “São programas que atingem exatamente essa parcela da população. O foco é justamente a parcela de menor renda”, disse. Para Nunes, as faixas consideradas prioritárias pelo Bolsa-Família são próximas àquela que o IBGE usa como critério para a distribuição de renda: 1/4 do salário mínimo. “É a faixa mais próxima do limite do público alvo do Bolsa Família. Se esse grupamento tem uma fonte adicional de renda, isso vai contribuir para aumentar o ganho de contingente.” Ele também destacou a expansão da economia na última década, com a criação de mais de 10 milhões de novos postos de trabalho.
Expansão do agronegócio “infla” cidades
O sociólogo Donald Sawyer, do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a migração contribui pouco para o crescimento populacional nas regiões Norte e Centro-Oeste. Segundo ele, o fenômeno é resultado do processo vegetativo natural e da fecundidade elevada nas últimas décadas. “O impacto (na Amazônia e principalmente no Cerrado) não é causado por questão demográfica, mas pela produção de commodities”, diz Sawyer. Segundo ele, ao contrário de atrair população, a expansão de fronteiras agrícolas e agropecuárias muitas vezes ocupa o espaço do êxodo do campo para cidades como Manaus, a capital que mais cresceu entre aquelas com mais de 1 milhão de habitantes.
Nunes lembra que a região Norte possui as mais altas taxas de fecundidade do País e diz que há uma combinação de dois fenômenos para o aumento da população acima da média nacional nessa região e no Centro-Oeste: o natural e a atração pelo agronegócio. Mato Grosso, por exemplo, onde fica o polo formado por Lucas do Rio Verde, Sinop e Sorriso, foi o que mais cresceu nos últimos 30 anos.
Já a capital amazonense cresceu 2,51% ao ano no período investigado, passando de nono para o sétimo lugar no ranking dos maiores municípios, que é liderado por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Apenas Manaus e Brasília cresceram mais de 2% entre os municípios mais populosos. Já o maior crescimento entre todas as capitais se deu em Palmas, 5,21% anuais, enquanto a média das demais cidades do Tocantins foi de 1,25% ao ano. A pesquisa também permite constatar que 27% das cidades brasileiras tiveram, no período, redução no número de habitantes - 1.508 municípios, em 5.565.
Segundo o trabalho, 1.017 das cidades que perderam gente tinham até 10 mil moradores. A redução se concentrou fortemente nas menores cidades, 61% das 118 com até 2 mil moradores.
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