Censurar dicionários?
No embalo de ação do MP contra o ‘Houaiss’, Sírio Possenti retoma, em sua coluna de março, a função básica desse tipo de obra. Para o linguista, tirar uma palavra do dicionário equivale a tirar um animal do catálogo da fauna.
. Discutiu-se um pouco, nas últimas semanas, sobre dicionários. Mais exatamente, foram tornadas claras algumas características e funções dessas obras. Todos os que se pronunciaram reafirmaram verdades óbvias. É de esperar que a maioria das pessoas tenha uma ideia clara sobre o que seja um dicionário.
. O que levou às recentes manifestações foi uma inusitada ação do Ministério Público, acionado por um cidadão que considerou que dicionários ofendem grupos (etnias etc.) ao registrarem acepções negativas de certas palavras. Concretamente, houve uma ação do MP contra o Dicionário Houaiss, por registrar acepções de “cigano” consideradas ofensivas (“aquele que trapaceia, velhaco, burlador”).
. Pode-se ver melhor o caso na versão on-line do referido dicionário, até porque as acepções consideradas ofensivas tinham sido retiradas do ar, em decorrência da ação ou de sua divulgação. Mas, pouco tempo depois, foram repostas, com uma explicação sobre a origem daquelas acepções (talvez em decorrência das manifestações contra a ação): “Uso: as acepções 5 e 6 resultam de antiga tradição europeia, pejorativa e xenófoba por basear-se em ideias errôneas e preconcebidas sobre as características deste povo que no passado levava uma existência nômade”.
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