terça-feira, 16 de outubro de 2012

ALUNOS NA USP NÃO QUEREM SEGUIR CARREIRA DOCENTE


Mariana Mandelli
Se depender dos estudantes de licenciatura em matemática e física da Universidade de São Paulo, o déficit de professores dessas áreas no Ensino Básico tende a se agravar ainda mais. Metade deles afirmou não querer ou não saber se desejam seguir a carreira docente. A conclusão é de pesquisa da Faculdade de Educação da USP e foi realizada com ingressantes dos dois cursos e também dos bacharelados em Medicina e Pedagogia, todos da própria instituição, uma das mais prestigiadas do País.

O estudo, que foi tema de mestrado da pedagoga Luciana França Leme, foi feito com 512 alunos que responderam sobre interesse em lecionar da Educação Infantil ao Ensino Médio. Os resultados mostraram que 52% dos estudantes de física e 48% dos de matemática não querem lecionar para crianças e adolescentes. No curso de Pedagogia, o numero chega a 30%. Já entre os futuros médicos, 15% afirmaram já terem pensando em dar aulas.

Em todos os casos, a motivação para não firmar-se na carreira docente é a questão salarial, além das condições de trabalho. “Muitos reconhecem o valor dos professores para a sociedade, mas apontam os baixos salários e as dificuldades enfrentadas pelos professores, como lidar com adolescentes e não serem respeitados pelos alunos, por exemplo, como fatores que os fazem desistir da opção”, resume a autora da pesquisa.
“Muitos entram na universidade em busca de ascenção social e acham que um diploma da USP pode ajudar nisso”, relata. “A justificativa de grande parte para terem escolhido esses cursos superiores é o fato de a USP ser gratuita.”
Luciana defende que a universidade concilie pesquisa e ensino, o que ela considera um desafio.
Atratividade
Romualdo Portela, pesquisador e especialista em Educação da USP, destaca que a pesquisa de Luciana consegue captar o problema crônico da atratividade da carreira docente no Brasil. “A questão do salário é latente – pesquisas internacionais já mostraram isso”, afirma.

Recentemente, uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), Banco Mundial e Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que o professor de Ensino Fundamental brasileiro é um dos mais mal pagos do mundo. Os dados mostram que, em São Paulo, o docente ganha anualmente US$ 10,6 mil, valor correspondente a 10% do que recebe esse mesmo profissional em Zurique (Suíça).
Panorama
O Brasil tem hoje 2.039.261 professores na Educação Básica, de acordo com o Censo Escolar de 2011. Houve um aumento de 15.513 profissionais nos últimos dois anos.

Entre 2010 e 2011, a proporção de professores com Ensino Superior que lecionam na Educação Básica cresceu 7,6%. Os dados mostram que os docentes com formação superior são maioria na Educação Infantil (56,9%), no Ensino Fundamental I (68,2%), no Ensino Fundamental II (84,2%) e também no Ensino Médio (94,1%).
Não há cálculos atuais que deem conta do número necessário de professores para abastecer o sistema brasileiro de ensino. Um relatório de 2007 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) afirmava que o Brasil tem um déficit de 300 mil professores, especialmente em áreas como química, física, matemática e biologia.
Obstáculo internacional
A falta de professores não é só problema do Brasil. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgados neste mês mostram que a questão é estrutural em todo o mundo. De acordo com a ONU, o planeta necessita, até 2015, de mais 1,7 milhão de docentes para atingir a educação primária universal, um dos oito objetivos previstos nas Metas de Desenvolvimento do Milênio. A organização ainda defende salários justos, valorização da igualdade entre docentes e autonomia profissional.

No Brasil, para aliviar o déficit e facilitar a realização de concursos, o MEC planeja para o ano que vem a primeira edição da Prova Nacional de Concurso para Ingresso na Carreira Docente (leia mais aqui).

0 comentários:

Blog do Prof. Ozamir Lima - Designer: Segundo Freitas