domingo, 28 de abril de 2013

“Tem vaga, mas não há capacitação para ocupar”, diz superintendente da CDL


Adelmo Freire explica que cargos têm sido ocupados por pessoas de fora do estado em virtude da carência de qualificação
Por Felipe Gibson
Aquecido em relação aos dois últimos anos, o 2013 do comércio potiguar aguarda o termômetro do Dia das Mães para confirmar a continuidade dos bons resultados. Aguardando o comportamento das vendas na primeira grande data do ano para o setor, o superintendente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL Natal), Adelmo Freire, espera um clima positivo para o consumo na capital. Entretanto, há pouco mais de um ano da Copa do Mundo de 2014, Freire enxerga deficiências na qualificação de mão de obra e investimentos públicos da cidade. Na entrevista a seguir, o superintendente da CDL Natal fala ainda sobre inovação, uso de tecnologias no comércio potiguar e dos fatores que vão pesar para o setor manter o bom crescimento do começo do ano no estado.
Adelmo Freire explica que investimento público na qualidade de vida da população afeta diretamente o comércio. (Foto: Wellington Rocha)

No Ar: Em janeiro e fevereiro o RN apresentou índices de crescimento entre os melhores do país. O que influenciou essa alta?
Adelmo Freire: 
Fizemos uma avaliação de 2012 e 2011 não favorável ao comércio. A situação econômica nacional e internacional estavam atreladas, pois afetam diretamente a economia local. Assim passamos por 2012 com percentuais bem menores do que o ano anterior. O governo tentou incentivar consumo com a redução de impostos, mas mesmo assim não se chegou ao patamar de 2010. Em janeiro e fevereiro temos características muito próprias em relação à movimentação turística da cidade. Quando a temporada é boa, o comércio varejista. Não é que as pessoas compram muito quando visitam Natal. É uma movimentação em cadeia, o hotel enche, o restaurante enche, precisam comprar para manter a rede, e isso afeta tanto o comércio, quanto as pessoas que atuam no setor. Esse é o diferencial do começo do ano.

E a previsão para o restante de 2013?
A expectativa é que se mantenha esse crescimento, apesar de a maioria das medidas do governo federal não ter continuado. Mas de qualquer maneira já percebemos uma certa movimentação da economia. O fantasma da inflação tem voltado a aparecer. Tudo pode refletir de forma positiva ou negativa, porque o que leva o consumidor ao consumo é o efeito psicológico. Se as notícias forem boas, ele fica mais a vontade de consumir. Se as notícias são negativas, existe preocupação. Temos agora essa situação negativa da ameaça da inflação, mas é algo que ainda não chegou a contaminar o setor. A expectativa é ter uma avaliação melhor nas datas promocionais, como o Dia das Mães, a primeira grande data do ano para o comércio. Já vai nos dar uma ideia no sentido do consumidor estar aberto à situação positiva de consumo.
Já há estimativa de crescimento para o Dia das Mães?Estamos esperando crescer 6,5% em relação ao ano passado. Logicamente em 2012 pelo fato das medidas do governo federal terem começado justamente nessa época, a data foi muito positiva. É um crescimento, mas não como ocorreu do ano passado em comparação a 2011. Ainda assim uma alta favorável, que mostra o momento quente do comércio. A questão do smartphone – o governo federal zerou os impostos do produto – também pode incrementar a data, pois é um presente que representa muito as vendas no Dia das Mães. Outro setor que pode ser diferencial é o de eletrodomésticos, na parte dos televisores. Está chegando a Copa das Confederações, realizada em junho e julho, e devem ocorrer muitas promoções. O segmento faz o link entre o evento e a data promocional. Vamos saber mais desse comportamento quando a data se aproximar, quando as pessoas começarem a consumir e o volume de mídia crescer.
Em relação ao mercado de trabalho? Como você avalia o volume de contratações no RN?
Tivemos um marco muito bom. Foram abertas mais de 1.200 vagas para comércio e serviços, um número até expressivo nos últimos anos. É o término da temporada do emprego temporário e o começo das contratações, que ocorrem nesse período de pós-carnaval e março. O número mostra que já há  necessidade. O mercado imobiliário, na área de serviços, está voltando a ficar aquecido, o que gera  contratação de mão de obra. Como já entramos na reta final de eventos voltados para a Copa, vamos sentir a movimentação nos setores. Shoppings vão reabrir e aumentar as bases. Também tem a entrada de novas redes no mercado. Estão se criando boas perspectivas futuras para o comércio local.
Qual sua avaliação sobre a preparação da cidade para receber a Copa do Mundo?O que tem animado um pouco o comércio são as decisões tomadas pela Prefeitura de Natal. O novo prefeito assumiu agora e tem mostrado algumas propostas muito imediatas para atender a Copa do Mundo. Isso é favorável para o comércio. Um problema muito grave para o setor ocorre em relação à movimentação da cidade. Quando você tem barreiras, prejudica automaticamente o processo de vendas. Natal sofreu uma transformação muito grande nos últimos dez anos não só no sentido de ter novos bairros, mas bairros que se transformaram em grandes bairros. A especulação imobiliária criou alguns nichos de comércio para atender essa demanda. É o caso da região da avenida Maria Lacerda, que hoje tem um polo comercial. Com relação ao evento em si, há toda uma movimentação de entidades para a preparação de mão de obra. Nas pesquisas, Natal é sempre vista como tendo um povo hospitaleiro, mas temos que melhorar o atender bem. Somos receptivos, mas temos que mostrar o serviço na relação do negócio, do comércio em si. Existe toda uma preocupação em capacitar melhor para isso.
O fator qualificação tem avançado?Avançou muito pouco ainda. Temos hoje uma situação clara em que há vagas e faltam pessoas para preenchê-las, e isso tem crescido muito. Tem vaga, mas não há capacitação para ocupar a vaga. Já temos isso há muito tempo e a tendência é piorar, no sentido de não atender essas vagas. A carência dessa questão ocorre devido ao crescimento rápido. A capacitação não vem no mesmo ritmo. Shoppings se ampliam rapidamente e novas redes chegam à cidade. O que antes era algo lento, acontece de uma hora para a outra. O ritmo da qualificação não acompanha e isso gera uma dependência muito forte no setor.
Essa carência tem mais a ver com a questão da oferta de capacitação ou das pessoas buscarem isso?Estamos dando oportunidade a pessoas de fora para preencherem esses espaços. Pessoas de outros mercados começam a vislumbrar mercados onde há essa carência e acontece o preenchimento dessas vagas. Isso ocorre quando se tem uma cidade bem vista em termos de qualidade de vida, pelas características da capital, e que ao mesmo tempo traz oportunidades. O que alerto é a mão de obra local enxergar isso. Temos um crescimento enorme de universidades e faculdades nos últimos dez anos e consequentemente do volume de vagas. As pessoas precisam correr atrás disso para aproveitar as oportunidades. Como falei antes, tudo acontece de forma muito rápida e as pessoas estão sendo lentas nessa movimentação. Assim o de fora vai preencher, e tem muita gente chegando para ocupar até cargos de gestão.
O comércio local tem conseguido inovar?Quando digo que novas redes estão chegando ao mercado, isso automaticamente provoca uma mudança de comportamento por parte das empresas locais a se equipararem em grau de tecnologia, de atendimento e tomada de gestão. Tem ocorrido claramente essa mexida quando entram redes de fora com processos inovadores e novos. Para competir não basta ser uma bandeira da terra. O consumidor é exigente e quer um padrão diferenciado. Na hora de comparar, ele vai observar quem pode oferecer melhor esse tipo de atendimento. Tem empresas locais que correram atrás e hoje são referência. Aquelas que não chegarem a esses padrões vão perder espaço naturalmente.
Quais são as tendências do mercado potiguar para 2013?Precisamos de uma melhora nos investimentos públicos. Aqui temos uma influência muito forte dos órgãos públicos no mercado. A mão de obra está muito ligada a esse setor e ainda não temos um processo favorável em melhorias de investimento do setor público em relação ao estado e à capital.
Em que segmentos específicos esses investimentos são necessários?
Não vou nem falar da mobilidade urbana, pois já toquei no assunto. São questões da segurança, educação e saúde. Sem investimentos nessas áreas você não melhora a qualidade de vida da população. Você não vê grandes ações nesses setores, e sim para tapar buracos, preencher necessidades imediatas. Essa situação afeta diretamente o comércio porque você tem de melhorar o poder de compra das pessoas. Sabemos que o Nordeste é a bola da vez e que estamos tendo uma grande migração de classes sociais nos últimos anos, mas tem de haver continuidade nos investimentos para que se acompanhe o processo da melhora do poder aquisitivo.
Como o comércio potiguar tem aproveitado as novas tecnologias e a internet?O e-commerce, ou comércio eletrônico, cresce cada vez mais no país. Porém ainda não é tão rápido porque a população ainda utiliza muito essas tecnologias como instrumentos de pesquisa e não de compra. Ainda há desconfiança e insegurança nesse processo e nossa região ainda não dá tanta credibilidade ao sistema, até porque as bases dessa relação são de fora. A população ainda gosta de ver o produto, pegar e sair com ele na mão. Sabemos que o acesso à ferramenta é algo comum e algumas empresas locais já estão tirando proveito disso, principalmente para fidelizar o cliente. No e-commerce já tivemos algumas tentativas locais, mas nada de forma grandiosa.
Cada vez mais surgem novos nichos de mercado. Qual sua opinião sobre essa segmentação? São novas oportunidades a serem exploradas?
Acho que o nicho é mais uma questão de dar exclusividade. Temos a migração de classes sociais e melhoria de poder aquisitivo fazendo com que a população compre coisas que antes eram um sonho. Quando você passa dessa fase, entra em outra, da exclusividade e dos produtos personalizados. Você atende uma necessidade, e agora pensa exclusividade, em comprar o produto não junto com outros, mas em uma loja específica. São sentimentos que ocorrem. Por que as classes A e B natalenses estão começando a voltar ao consumo de rua, fugindo um pouco dos shoppings? Porque no shopping há o movimento intenso, muita gente, e no comércio de rua é possível observar lojas criando modelos de atendimento com mai.s personalidade e exclusividade. É o manobrista, a ação personalizada, a loja que conhece o cliente e que vende para um público específico.
É um movimento contrário da ideia do shopping tirando o público do comércio de rua.
O comércio de rua sempre convive com essa luta se vai ou não acabar. Mas ele concentra características que os shoppings não possuem. Se você vai em busca de eletrodomésticos nos bairros de Cidade Alta ou Alecrim, encontra 15 lojas do setor. No shopping se tem no máximo duas ou três. O processo de pesquisa é muito mais amplo, além do volume de área física. Outro processo é a questão do movimento de transporte. Muitos ônibus passam nesses polos comerciais, o que gera uma circulação maior de pessoas. Pesa também o preço mais baixo das mercadorias. Agora o grande problema do comércio de rua é a infraestrutura, a segurança, o estacionamento, entre outras questões

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