domingo, 16 de junho de 2013

"A Medicina do Brasil é bem vista. Mas falta pesquisa"

A médica Luísa Pereira Nepomuceno, 26 anos, já dava mostras de que iniciaria uma carreira universitária desbravadora ainda no segundo grau. Ao invés de fazer intercâmbio em país de língua inglesa, o que ocorre com a maioria dos jovens, ela optou pelo alemão. Durante um ano estudou na Pulsnitz e foi na convivência com a família alemã que lhe abrigou que o desejo por fazer Medicina aumentou. Na volta ao Brasil, Luísa optou por fazer o supletivo, uma forma de apressar os estudos e compensar o ano que havia passado no exterior. Estudou em cursinho preparatório focando no vestibular de Natal, mas terminou mesmo foi aprovada no curso preparatório (o que é exigido como curso de nivelamento para o estrangeiro fazer vestibular) para ingressar em Medicina na Alemanha. 

O foco de Luísa Nepomuceno não era uma faculdade comum, buscou a secular Charité - Universitätsmedizin Berlin, de onde já saíram muitos prêmios Nobel. A médica hoje estampa o currículo de ser uma das poucas natalenses a estudar no hospital Charité, unidade com 100 clínicas. A conclusão do curso de Medicina não representa a volta para Natal. A médica agora foca na residência em Cirurgia e no doutorado na Alemanha. Jovem, de fala tranquila, arrojada no projeto de formação profissional, essa é a nossa convidada de hoje do 3 por 4.

João Maria Alves
Luísa Nepomuceno se tornou uma das poucas natalenses a cursar Medicina na Universidade de Berlim
Luísa Nepomuceno se tornou uma das poucas natalenses a cursar 
Medicina na Universidade de Berlim

Hoje você se torna uma das primeiras médicas natalenses a se formar na credenciada universidade alemã. Mas por que o seu interesse pela Alemanha, inclusive desde o início, ainda no seu intercâmbio?

Quando eu quis fazer intercâmbio eu queria muito ir para Europa na época da escola. Eu não queria ir para os Estados Unidos porque tinha feito Inglês no Brasil e eu sempre quis aprender uma língua diferente. E a Alemanha era uma das opções, foi algo meio de acaso. Não havia uma paixão pela Alemanha. Olhei na lista, pensei o quando o alemão é difícil e uma língua tão diferente e tentei. Aí quando eu soube que iria fazer o intercâmbio lá cheguei a fazer aula de alemão aqui.

Chama atenção a pressa que você teve, no retorno do seu intercâmbio na Alemanha, fazer um supletivo ao invés do curso regular.Porque quando eu fiz o intercâmbio na Alemanha eu perdi um ano na escola. Então todos os meus amigos já estavam fazendo o preparatório para o vestibular. E eu não queria perder um ano, ficar atrás. Como tinha a opção no Brasil de fazer o supletivo eu queria fazer rápido e entrar logo na universidade. Eu fiz o supletivo e fiquei estudando para o cursinho preparatório daqui para o vestibular. Mas dei entrada no processo na Alemanha, mas fiquei estudando para o vestibular daqui (de Natal). (na Alemanha são 13 anos de ensino fundamental e médio, no Brasil quando ela estava estudando eram 11 anos).

Por que a opção de fazer Medicina na Alemanha e não no Brasil?Foi mais para aproveitar. Achei que se tinha essa oportunidade. Quando eu estava lá com minha família alemã e eles começaram a me mostrar que era possível fazer Medicina na Alemanha. Eu meio que vi isso como uma oportunidade e me perguntei por que não?

É mais fácil fazer Medicina na Alemanha do que no Brasil?Depende. Se você souber a língua. O mais difícil no começo é a língua para você aprender. E esse é o requisito para entrar no preparatório (na Alemanha o estudante precisa fazer o preparatório no Studienkollege para poder fazer vestibular). E depois você faz uma prova de conhecimento, como se fosse o ENEM. A prova acho que os alunos brasileiros são bem preparados. A prova de conhecimento é como o vestibular daqui, mas tem a barreira da língua.

E o que você viu na Medicina da Alemanha que difere do Brasil?Há muitas coisas parecidas, que eu até achei interessante. Na Alemanha também há o período pré-clínico, que são os dois primeiros anos e a parte clínica que é depois. Aqui no Brasil são dois anos de internato. Na Alemanha é apenas um.  O que eu achei diferente é que os alunos de Medicina no Brasil têm muitas aulas práticas, vão para o hospital mais vezes do que a gente. A Alemanha tem um ensino mais teórico, tínhamos muita aula teórica, palestra com professor. Aqui os alunos são mais práticos. Eu cheguei a fazer um estágio em São Paulo (no último ano do curso de Medicina na Alemanha, ela fez parte do internato no Brasil). Eu achei os alunos de Medicina do Brasil muito bem preparados para atender, eles vão bem mais no hospital que a gente.

O que agrega para você estar em uma universidade que tem no currículo vários prêmios Nobel?Foi involuntário. Eu nunca pensei em querer estudar nessa universidade, nunca pensei que queria estudar em uma das melhores universidades da Europa. Acrescenta essa formação porque como eu vou continuar na Alemanha isso é muito bom porque a universidade é bem vista. Vou tentar vaga para residência agora e é bom ter essa bagagem. Por eu ter estudado em uma escola alemã, abre as portas para eu trabalhar na Europa. Lá existe a mobilidade profissional, isso abre as portas para outros países. O diploma nosso é reconhecido em toda União Européia.

O Brasil está descartado na sua atuação profissional?Não. A residência eu vou fazer por lá. Seria mais difícil voltar para o Brasil agora neste período em que estou de formação. Mas eu vou dar entrada este ano mesmo na revalidação do diploma.  Pretendo voltar ao Brasil depois da residência.

Qual a visão que o médico europeu tem da Medicina brasileira?A Medicina brasileira é bem vista. Eu acho que o que o Brasil está tentando chegar atrás é a parte de pesquisa. Fiquei em São Paulo na Unifesp por um tempo e o nível do hospital escola é comparável com os hospitais que vi na Alemanha, na Inglaterra. Eles fazem pesquisa interna. Na Europa a Medicina tem mais visibilidade pelo grande volume de pesquisas. O Brasil está indo atrás, mas vai chegar.

Quando você foi fazer intercâmbio você optou pela Alemanha, quando foi fazer Medicina optou por uma universidade com visibilidade e respaldo na Europa. Qual sua meta agora?Vou tentar vaga na residência em Cirurgia Geral e vou continuar esse tempo na Europa.  Penso em fazer doutorado. Na Alemanha eles incentivam muito a pesquisa. Eu queria juntar isso tudo, fazer pesquisa, fazer residência e conseguir voltar para o Brasil já com a formação completa. 

Qual a visão que você tem sobre a chegada do médico cubano no Brasil?Eu tenho acompanhado. É uma tendência do mundo de hoje. Na Alemanha o ministro da Saúde informou que 25% dos médicos na Alemanha são formados no exterior. Na Inglaterra é 40%. 

Mas tem o Revalida (para revalidar) lá?Todo estudante que termina Medicina precisa fazer a prova de título, que é como uma OAB daqui. Então o estudante estrangeiro que quiser trabalhar dar entrada na revalidação e tem que fazer a prova que a gente faz. É esse o caminho porque fica algo justo. Houve muita discussão dos médicos cubanos porque supostamente não teriam formação adequada para suprir as necessidades brasileiras, mas a Medicina é uma ciência universal. Mas acho que todos os médicos estrangeiros são qualificados, mas deve ter uma prova para nivelar. Nos Estados Unidos é a mesma prova para todos. O problema do Brasil  é que está fazendo um processo muito burocrático. 

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