quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Os mais pobres se beneficiam

Inserção social em tempos difíceis
Luciano Siqueira

 
Devagar com a crítica, que a realidade fala mais alto. Não que não se deva criticar, exigir. Mudar o país é tarefa ingente, exige discernimento, determinação, coragem e habilidade política; e é sempre útil, a quem governa, manter-se sob acompanhamento crítico da oposição. No mínino, trava-se o bom debate democrático, que contribui para evolução das ideias e esclarece a população.

Mas não se pode escamotear a realidade concreta. No caso, o fato irrecusável de que, na última década, vem se forjando um modelo de desenvolvimento ainda incompleto, carente da superação de conceitos e soluções práticas defeituosos, é verdade, porém marcado pela combinação entre crescimento e inserção social.

Mesmo em tempo de crise global, que influencia negativamente a nossa economia e, em certa medida, contribui diretamente para as taxas recentes de crescimento aquém do desejável e do necessário.

É o que revela o estudo Duas Décadas de Desigualdade e Pobreza no Brasil Medidas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgado agora pelo Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: mais de 1 milhão de pessoas saíram da extrema pobreza.


Isto quer dizer que a desigualdade de renda diminuiu em 2012, mesmo com o crescimento do PIB limitado a 0,9%. Tanto que as famílias menos aquinhoadas, destacadamente, conseguiram evolução na renda maior do que a média, 14%, entre os 10% mais pobres da população. 


(Em estudo recente, João Sicsù, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e também do Ipea, demonstrou precisamente que nos últimos dez anos, a oferta de 20 milhões de novos empregos com carteira assinada (contra a perda de 12 milhões de empregos formais no período de Collor a FHC), desfez a assertiva neoliberal de que a vigência da CLT seria obstáculo instransponível à redução do desemprego e que a flexibilização das relações formais de trabalho se impunha como indispensável.).

É nesse contexto que se deve ler os números ora anunciados. O documento do Ipea assinala que a população extremamente pobre (que vive com menos de US$ 1 por dia) teve redução de 7,6 milhões de pessoas para 6,5 milhões. A população pobre (que vive com entre US$ 1 e US$ 2 por dia), de 19,1 milhões de pessoas para 15,7 milhões.

No dizer do presidente do Ipea, Marcelo Neri, "três milhões e meio de pessoas saíram da pobreza em 2012 e 1 milhão da extrema pobreza, em um ano em que o PIB cresceu pouco. Para a pobreza, o fundamental é o que acontece na base – cuja renda cresceu a ritmo chinês. O bolo aumentou com mais fermento para os mais pobres, especialmente para os mais pobres dos pobres".

São pessoas que agora conseguiram adquirir bens duráveis (televisão, fogão, telefone, geladeira e máquina de lavar) e ter acesso a serviços públicos essenciais (energia elétrica, coleta de lixo, esgotamento sanitário e acesso à rede de água). Isto pelo aumento da renda do trabalho e pelo impacto do Bolsa Família.

Alguém tem dúvida de que essa faceta da realidade social brasileira terá seu peso específico no comportamento do eleitorado no pleito geral de 2014?

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