sábado, 30 de novembro de 2013

Vegetarianismo: prós e contras (2)

 jorge boucinhas » médico e professor da UFRN - boucinhas_jc@hotmail.com

Tendo-se, no Artigo passado, iniciado uma revisão sobre o Vegetarianismo, no desta semana revêem-se os aspectos positivos da referida abordagem alimentar.

Um fator relevante para a avaliação dos mesmos é a idade quando da adesão ao regime alimentar. De acordo com Fonnebo (1994), as pessoas que se tornaram Adventistas do Sétimo Dia durante a adolescência apresentaram aproximadamente a metade do risco de mortalidade geral do restante da população.  Já entre aquelas que iniciaram as recomendações vegetarianas da religião a partir dos 35 anos não se verificou associação positiva com o aumento da expectativa de vida, quiçá porque as mudanças tardias não ofereceram tempo suficiente para surgirem resultados benéficos.

Doenças que modernamente afligem tanto países desenvolvidos quanto países em desenvolvimento, quais a Obesidade e o Diabetes Mellitus, estão profundamente ligadas uma à outra e à forma de alimentação, podendo-se até afirmar que a primeira é o fator ambiental mais importante para o aparecimento da segunda. Snowdon, em 1988, detectou e publicou que, entre vegetarianos, a prevalência destas doenças é inferior à verificada na população em geral. Logo antes da passagem do milênio o mesmo autor verificou que 10% dos Adventistas do Sétimo-Dia e 25% dos não Adventistas consumiam regularmente carnes e ovos, e constatou que a taxa de mortalidade por doença coronariana e câncer de cólon esteve positivamente associada ao consumo destes alimentos.   Embora as recomendações para diminuir o risco de doenças crônicas sugiram a moderação dos hábitos dietéticos e não a eliminação total do consumo de carnes e outros alimentos de origem animal, um outro estudo, este prospectivo e de 12 anos de duração, incluindo 4.671 vegetarianos e 6.225 não vegetarianos ingleses de ambos sexos, evidenciou que a mortalidade por doença coronariana isquêmica foi estatisticamente menor entre vegetarianos, porém os autores não chegaram a esclarecer se este fato foi devido exclusivamente à abstinência de carne ou o foi ao alto consumo de vegetais ricos em antioxidantes como vitaminas C e E, e bioflavonóides. 

Com relação à mortalidade devido a doenças do sistema circulatório e respiratório, incluindo câncer de pulmão, Key e colaboradores, em 1996, verificaram, em estudo de 17 anos de duração, que é menor entre os vegetarianos. Os autores ressaltaram, no entanto, que também o estilo de vida, incluindo hábito de fumar, afeta bastante o desenvolvimento dessas condições. 

Anderson e seus colaboradores, em1994, atribuíram o menor risco de surgimento ou a melhora das enfermidades crônicas entre vegetarianos às propriedades das fibras alimentares, defendendo a idéia de que ao ingerirem mais deste componente que os onívoros, ficam menos propensos à Hiperlipidemia e à Aterosclerose.   Obviamente não descartaram a contribuição de outros fatores dietéticos, quais os níveis de consumo de gorduras saturadas e calorias totais na definição do perfil de saúde. 

No mesmo ano Vuoristo e Miettinen relataram que a ingestão e a absorção do colesterol são significativamente menores em indivíduos ovo-lacto-vegetarianos do que em onívoros, o que baixa as concentrações séricas de colesterol total e LDL, por si só já conferindo certa proteção contra as doenças cardiovasculares. Associado à menor absorção, vegetarianos ingerem dietas com menores quantidades de gordura saturada e colesterol, e maior teor em fibras alimentares, do que os onívoros.  Ling e Hanninen acrescentaram que a adesão a dietas vegans, nas quais só se admite alimentos vegetais (crus em sua maioria), causaria uma diminuição intestinal de enzimas bacterianas e de produtos tóxicos relacionáveis ao desenvolvimento do câncer de cólon. 

Há poucos anos Kris-Etherton e auxiliares salientaram que a ingestão de frutos oleaginosos conferia efeito protetor adicional contra degeneração arterial, de vez que o seu conteúdo em ácidos graxos monoinsaturados e compostos bioativos diminui o colesterol plasmático.   Fraser, no mesmo período, relatou que, no referente ao infarto agudo do miocárdio, indivíduos que consumiam frutos oleaginosos 1 a 4 a vezes por semana reduziram em 22% seu risco de acometimento, e aqueles que as ingeriam 5 ou mais vezes reduziram-no em 51%. 

Alguns estudos epidemiológicos mais recentes, de há um lustro atrás, como o de Barr, vêm sugerindo que o Ovo-lacto-vegetarianismo exerce um efeito positivo contra a osteoporose em mulheres, e Hunt e Reed evidenciaram que, em média, a densidade óssea média de vegetarianas pós-menopausadas nunca caia abaixo da de onívoras.  

Como nada é perfeito (à exceção de Deus!), ficam para o próximo Artigo observações sobre os possíveis efeitos nefastos do Vegetarianismo.  Até lá!

0 comentários:

Blog do Prof. Ozamir Lima - Designer: Segundo Freitas