sábado, 1 de março de 2014

SONETO DE CARNAVAL



Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:

Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo

Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Vinícius de Moraes



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