quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Rui Castro: o Brasil é mesmo um país de cabeça para baixo

A obrigação de quem está sob prisão preventiva ou domiciliar é fugir; lugar de tarado é na rua; e colar em exame é legal. Tudo isso com o beneplácito da autoridade. Eis aí três histórias recentes do Brasil que, se forem contadas como piada em Portugal, provocarão boas risadas.
O suíço naturalizado Mike Niggli, por exemplo, autor de golpes no valor de US$ 80 milhões, beneficiou-se da liberalidade do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que o transferiu de uma cela da Polinter no subúrbio de Campo Grande para um apartamento de frente para o oceano Atlântico, no Leblon. Pois, não contente com a vista que tinha das janelas, Niggli escafedeu-se em agosto último, nem a Interpol sabe para onde.
Em 2000, o ministro já mandara soltar o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, autor de um rombo de US$ 1,5 bilhão nos cofres públicos, por considerar que sua culpa não estava formada. Ao se ver na rua, o ingrato Cacciola fugiu para a Itália. Mas o ministro é magnânimo: acha que, enquanto puder recorrer de uma condenação, nenhum acusado pode ser preso. Ao contrário, tem o "direito natural de fugir".
Ademir Oliveira do Rosário, suspeito de ter matado e violentado dois garotos na Cantareira, outro dia, em São Paulo, tinha autorização médica para sair de sua internação no hospital psiquiátrico, em Franco da Rocha, e visitar a família. Nas dez vezes em que gozou dessa liberdade, dedicou-se a atacar meninos -já se sabe de 21 vítimas.
E um defensor público e professor de um cursinho preparatório para exames na Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio, está sendo acusado de orientar seus alunos -futuros advogados- a colar nas provas da Ordem.
Quando Tom Jobim dizia que somos um país de cabeça para baixo, não estava brincando.

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