quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crack avança para fora das periferias

Especialista diz que no RN, a exemplo do restante do país, pelo menos 40% dos usuários são de classe média

Uma pedra. É através de uma que muitos usuários de crack se tornam dependentes químicos. Segundo especialistas, o crack aos poucos rompe os limites dos bairros periféricos e chega aos bairros nobres da cidade. É o que explica o psicólogo Paulo Pessoa, que coordena o Centro de Apoio Psicossocial na Zona Norte (Capes AD

Norte). Segundo ele, o consumo de crack não se restringe apenas à periferia. "Ele está penetrando cada vez mais na classe média". Pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas revela que 40% dos dependentes no Brasil são da classe média. Esta média também se aplica ao Rio Grande do Norte.

De acordo com dados do Fórum Estadual Permanente de Políticas Públicas sobre Drogas, 90% dos adolescentes envolvidos em atos infracionais têm ligação com as drogas, 85% dos homens cumprem pena por envolvimento com o tráfico e 65% das mulheres do sistema prisional estão detidas por algum crime ligado aos entorpecentes no Rio Grande do Norte. Estima-se que de dez homicídios registrados pela polícia, oito tenham alguma relação com as drogas. O que mostra que o consumo de drogas tem relação direta com a prática de assaltos, furtos e até homicídios.

Paulo Pessoa descreve esse ciclo. "Para manter o consumo, o dependente começa a vender seus pertences, depois vende os objetos de sua casa, e depois passa a vender os objetos da casa de familiares", explica. Embora, o consumo de droga esteja relacionado com a criminalidade, o número de apreensões de crack está caindo, segundo dados da Polícia Federal e da Delegacia Especializada em Narcóticos, que apreendeu nove quilos de crack até outubro de 2009. Em 2008, a quantidade de crack apreendido chegou a 15kg. Já em 2007, a Denarc conseguiu apreender 11kg. Segundo o chefe de investigação da Denarc, Lisandro Moreira, dez quilos da droga podem ser transformados em até 50 mil pedras. Já a Polícia Federal registrou redução na apreensão de crack de 63,7 kg em 2008 para 5,2 até outubro de 2009.

Devastadora

Considerada a droga mais devastadora, o crack faz dependentes em todas as faixas etárias. Paulo Pessoa explica que a média de atendimentos no Capes Norte chega a 130 por mês. Mas a demanda pelo serviço é ainda maior. Do total de dependentes atendidos, 90% são dependentes "clínicos gerais" que usam todos os tipos de droga. O restante é dependente de álcool, droga considerada lícita, mas que serve de porta de entrada para as drogas mais pesadas. Segundo Paulo Pessoa, o número de crianças que usam drogas aumenta cada dia. Em Natal, um dos Centros de Apoio Psicossocial em Natal é destinado somente a atender crianças e adolescentes entre cinco e 18 anos de idade que usam drogas

Tendo ácido sulfúrico, cocaína, amônia e até cimento - em alguns casos - em sua composição, o crack pode causar dependência em poucos meses. Em menos de um ano de consumo, o dependente pode apresentar problemas nos sistemas cardiorespiratório e digestivo. O crack, que leva apenas oito segundos para chegar até o cérebro e surtir efeito, afeta diretamente o sistema nervoso central, provocando convulsões, alucinações e até a morte. O que mostra que a droga de efeito mais rápido também é a mais nociva.

Investimentos federais

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o tratamento oferecido a usuários de crack no país é falho, mas anunciou que o governo federal vai investir R$ 110 milhões para reforçá-lo. Os recursos serão destinados a criar 2,5 mil leitos em hospitais gerais que terão capacidade de atender até 12 mil usuários.

"Reconhecemos que existem falhas, nem todas as pessoas que precisam de atendimento neste momento conseguem no tempo que gostariam, mas o plano que está sendo implementado vai trazer resultados", afirmou o ministro, que participou hoje (28) da abertura do Fórum Global em Atendimento ao Trauma, promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Temporão, no entanto, não informou detalhes sobre a liberação do dinheiro.

Ele destacou que o crescimento do uso da droga preocupa as autoridades e garantiu que o ministério está atento à questão. Para o ministro, trata-se de um problema "gravíssimo". "É um problema sério de dependência que devasta a pessoa e afeta as grandes cidades brasileiras", acrescentou.
Diário

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