segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O fim da vida visto pelas religiões

Para muitos, hoje é um dia de tristeza. Para outros um dia como outro qualquer. E ainda tem aqueles que veem o Dia de Finados como um momento para comemorar. Independente de cada religião ou prática espiritual, a questão em comum no Dia de Finados é como o homem encara a morte. Cada pessoa busca uma explicação para o fim da vida.

Todas as religiões oferecem às pessoas uma esperança de que a vida não termina. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com representantes de algumas religiões e mostra aqui como cada uma delas lida com a morte e como celebram, ou não, o Dia de Finados.

Espiritismo

Os espíritas não realizam o culto aos mortos. Para eles, o que morre é somente o corpo. O espírito permanece vivo. Eles encaram a morte como uma continuação da vida. A alma continua viva, com toda a responsabilidade e consciência que teve em vida.

“Não temos aquela visão pessimista da morte. Nós convivemos diariamente com outros espíritos que desencarnaram, por isso não paramos para fazer essa celebração”, explica o presidente da Federação Espírita do RN, Éden Lemos.

O Dia de Finados, para os espíritas, é como um dia qualquer. Por isso, eles não realizam rituais. “Para nós, todos os dias são para celebrar os que já morreram. Como nós não acreditamos na morte, não vamos ao cemitério, mas respeitamos a data”.

Catolicismo

A Igreja Católica tem a ressurreição como um de seus dogmas mais importantes. Os católicos encaram a morte como o caminho natural para a vida eterna.

“Nós estamos só de passagem nesta vida. A morte é a porta para a vida eterna. Portanto, a morte não é o fim, é passagem”, afirma o presidente da Câmara Eclesiástica da Arquidiocese de Natal, Padre Normando Pignatáro Delgado.

Segundo ele, neste contexto, Finados é visto como um dia de homenagens , é a celebração da esperança. “A morte é apenas uma etapa da caminhada para o encontro com Deus. A tristeza existe porque é uma separação, que não sabemos quanto tempo vai durar, mas sabemos que um dia vamos nos encontrar. Por isso, o Dia de Finados é a celebração da Esperança”, explica Padre Normando.

Umbanda e Candomblé

As duas religiões realizam o culto aos mortos. Para eles, as pessoas não morrem, é apenas uma passagem. No Dia de Finados, eles fazem uma mesa de conforto, celebrando a partida dos mortos. É feito um ritual com velas, areia do mar, flores brancas e reza-se a ladainha dos defuntos. “Quando o corpo se desliga da terra fazemos uma limpeza em todos os filhos, com banho de ervas. Depois, o recipiente, onde a água foi colocada é quebrado e levado para cada Oxá (orixá)”, explica a Mãe de Santo, Cremilda dos Santos. Eles também possuem o hábito de ir ao cemitério para acender velas e levar água para as almas.

Islamismo

Para os muçulmanos, Allah criou o mundo e trará de volta à vida todos os mortos no Dia do Juízo Final. As pessoas serão julgadas e uma nova vida começará, depois da avaliação divina. “Para nós, não existe um dia para cultuar os mortos. Lembramos dos nossos antepassados todos os dias, nas preces. Em nenhuma prece devemos esquecer dos mortos”, conta Salimo Abdul, vice-presidente da Associação Beneficente Muçulmana do Rio Grande do Norte (ABMRN).

É hábito dos muçulmanos lembrar dos mortos nos dias festivos que marcam o fim do Ramadan (o mês do jejum) e o Dia do Sacrifício (durante a peregrinação a Meca). Antes das celebrações, eles vão aos cemitérios para refletir sobre a morte. “Nenhuma celebração está completa se não lembramos dos antepassados. Nós visitamos os cemitérios e depois celebramos as festas, é uma forma de deixá-los mais perto de nós”, disse Salah Yusef, que também é da ABMRN.

Judaísmo

No judaísmo, não se comemora a data, já que da vida daqueles que morreram, fica somente a lembrança.

Evangélicos

Em geral, a Igreja Evangélica não celebra o Dia de Finados. Eles vão ao cemitério para evangelizar e consolar as pessoas. “Não cultuamos o corpo dos mortos, para nós nada daquilo que foi feito depois da morte poderá mudar o que fizemos durante a vida. A alma foi iluminada em vida, depois da morte, vamos esperar o encontro com Deus”, explica o pastor da I Igreja Batista de Natal, Edson Vicente do Nascimento.

Segundo o pastor, os evangélicos reconhecem em vida o valor das pessoas e “procuram seguir caminhos que levem a Deus, mas isso durante a vida”, diz Edson.

Como tudo começou

O encontro da cultura cristã com a cultura celta deu origem à comemoração do Dia de Finados. Os celtas – povo que habitava a região da atual Irlanda – tinham no seu calendário a festa conhecida como Samhain. Nesse dia, eles acreditavam que os dois mundos – o dos vivos e o dos mortos – ficavam muito próximos e eles celebravam essa comunhão.

Os cristãos rezavam pelos falecidos desde o século I, visitando os túmulos dos mártires . No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava.

O abade Cluny, santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem pelos mortos. E os papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos.

No século XIII, tal data passou a ser comemorada no dia 2 de novembro, pois no dia 1º de novembro é a festa de Todos os Santos (celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados). Atualmente as pessoas comemoram o dia dos mortos, levando flores aos túmulos e participando dos eventos ecumênicos.

Administradora de cemitério cobra atenção das famílias

“Morreu não acabou. A saudade continua, venham dar assistência aos seus mortos”. O pedido é de Lenilde Bonifácio do Nascimento, que há mais de 20 anos administra o cemitério do Alecrim, o mais antigo de Natal. Ela lamenta a falta de carinho de algumas famílias, que não lembram de homenagear os entes queridos.

“Se você anda por aqui vai ver como muitos dos túmulos estão abandonados, sujos, vários até quebrados. As famílias só vêm no Dia de Finados e ainda tem aqueles que nem neste dia aparecem aqui”, conta Lenilde.

O folclorista Luísa da Câmara Cascudo é um dos ilustres potiguares enterrados do cemitério do Alecrim. Apesar da importância, o túmulo dele está abandonado. “Pela importância que ele teve em vida, era para ter um dos túmulos mais bonitos, mas não. Está sujo, abandonado, algumas peças foram roubadas”, conta o segurança do cemitério, Jonas Varela.

Assim como o túmulo de Cascudo, o de Pedro Velho, primeiro governador do Rio Grande do Norte também está precisando de reparos. O ex presidente do Brasil, Café Filho, Henrique Castriciano, Djalma Maranhão, o ex senador João Severiano da Câmara, Segundo Wanderley também estão enterrados no cemitério do Alecrim, que existe a 150 anos.

Outros tantos túmulos, de famosos e anônimos estão abandonados. A maioria deles pela ação dos vândalos que invadem o cemitério e roubam as esculturas e inscrições de bronze.

Mas no cemitério do Alecrim tem alguns túmulos que são sempre lembrados e bem cuidados. Um dos mais bonitos é do médico Januário Cicco. O mais visitado é o do Padre João Maria. “Todo ano a gente manda pintar, muitas vezes, são os fiéis que compram a tinta e paga a pintura. No Dia de Finados, ele é o mais visitado. Centenas de pessoas passam por aqui, acendem velas, colocam flores”, conta Varela.

Outro túmulo bastante visitado é o de José Lima dos Reis. Ele morreu em 1948, aos três anos de idade, depois de ser envenenado pelas babás. Ele é tido como santo, muita gente faz pedidos que , afirmam, são atendidos. E como forma de agradecimento deixam flores, fitas, imagens de santos.

No cemitério do Bom Pastor II, a situação da maioria dos túmulos não é muito diferente. Muitos estão quebrados, violados, sujos e abandonados.

Os mais visitados é o do cantor Carlos Alexandre, que morreu em 1987, aos 25 anos, em um acidente automobilístico. O outro é do assaltante Baracho, que depois de morto, se tornou uma espécie de santo para alguns que vão ao túmulo fazer pedidos e agradecer graças alcançadas. No local onde ele está enterrado, são colocadas garrafas com água porque, segundo a lenda, ele teria morrido de sede.

Fonte:Tribuna do norte

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