Estudo aponta RN líder em evasão
Fonte: Tribuna do Norte - 19 de maio de 2012
Roberto Lucena - repórter
O Rio Grande do Norte é o Estado com o maior índice
de abandono escolar do país. Ano passado, 19,3% dos alunos matriculados no
ensino médio, público e privado,
abandonaram a sala de aula antes de concluírem os estudos. Greves, falta
de professores e conteúdo programático desinteressante para a classe estudantil
são alguns dos fatores apontados por gestores e especialistas da área que podem
explicar a posição no ranking. Além do abandono escolar, o RN é destaque no
índice de reprovação. Nesse quesito, no mesmo período, o percentual foi de
apenas 8% - o quinto menor do Brasil.
Os dados fazem parte do Censo Escolar 2011 que foi
divulgado, essa semana, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O estudo é utilizado pelo Ministério da
Educação (MEC) para formulação de políticas e programas. De acordo com a
titular da secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seec), Betânia
Ramalho, o resultado servirá como norteador de futuras ações. “Uma das nossas
tarefas é ter controle e conhecimento da situação real do nosso ensino. O Censo
revela muitos detalhes que vão nos auxiliar na administração. Temos que correr
atrás do prejuízo”, colocou.
Em 2010, a taxa de abandono escolar no RN, do ensino
médio, foi de 17,3%. Para a secretária, o aumento desse percentual, no ano
passado, pode ser explicado por dois fatores: greve e currículo escolar.
“Tivemos várias greves, uma em cima da outra, que trouxeram um prejuízo
imensurável para a sociedade. O aluno simplesmente abandonou a escola porque
não havia o que fazer nela. Além disso, é preciso analisar o currículo das
escolas. Muitos alunos não se sentem atraídos pelo o que é oferecido e preferem
seguir outros rumos”.
A coordenadora pedagógica e diretora do Instituto de
Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa, afirmou que é preciso
cautela ao analisar os números. “Ainda não estudei os números do Censo. É
preciso um estudo mais aprofundado para saber quais os motivos para essa evasão
tão grande”, disse. A professora disse ainda que a estrutura do ensino médio
ofertada pelo Estado pode explicar, em partes, a evasão escolar. “Como se
interessar por uma escola sem o quadro completo dos professores? O aluno fica
em dúvidas se vale a pena estar dentro de sala”.
Com relação ao índice de reprovação, o RN é o quinto
Estado com a melhor pontuação, 8%. O ranking é liderado pelo Amazonas (6%),
seguido do Ceará (6,7%), Santa Catarina (7,5%) e Paraíba (7,7%). Para Cláudia,
é preciso cruzar os dados para deslumbrar a realidade do quadro. “Muitos alunos
abandonam a escola antes de serem reprovados. Estão num ano complicado, com
notas baixas, sem aulas, então desistem de prosseguir antes mesmo da
reprovação”. Segundo o Inep, a média de reprovação do país subiu nos últimos
anos e hoje a taxa é de 13,1%.
Para alguns, a baixa reprovação pode ser sinal de
que há uma avaliação mal feita pelos professores. Imagina-se que o docente
aprova o aluno mesmo que não haja aprendizado de fato. Betânia Ramalho discorda da ideia. “Estou
sempre do lado dos professores. Eles são responsáveis e criteriosos. Acontece
que os alunos que não desistem, que permanecem em sala de aula, têm um objetivo
de vida e lutam para isso”. No entanto, a secretária reconhece que as
avaliações nem sempre podem ser reconhecidas como parâmetro confiáveis. “O
ensino não chega a níveis de excelência. Temos as avaliações para um
diagnóstico. Não se pode supervalorizar os números”.
Na outra ponta do estudo, os Estados com os maiores
percentuais de reprovação são: Rio Grande do Sul (20,7%), Rio de Janeiro
(18,5%) e Distrito Federal (18,5%), Espírito Santo (18,4%) e Mato Grosso
(18,2%). O Censo Escolar traz ainda a taxa de aprovação. Santa Catarina, com
84,5%, Amazonas com 83,6% e Ceará com 81,8% são os Estados mais bem
posicionados. O Rio Grande do Norte, nesse quesito, tem taxa de 72,7%.
Seec aposta na volta dos alunos
Em posse dos números do último Censo Escolar, a
secretária Betânia Ramalho pretende implantar programas que revertam o quadro
de abandono das salas de aulas pelos alunos. Nos próximos dias, a Seec deve
lançar a segunda etapa do projeto “Conquista RN” realizado em parceria com a
Fundação Roberto Marinho. “É uma tentativa de chamar aqueles alunos que não
terminaram o ensino médio. Eles podem, em 18 meses, encerrar essa etapa do
ensino”, explicou.
Para Cláudia Santa Rosa, a iniciativa é um paliativo
que não resolve o problema por inteiro. Segundo a professora, há vários
incentivos em todo país para que o aluno permaneça na escola, mas , mesmo
assim, os números não são favoráveis. “A escola é pouco atrativa. É preciso
alterar o projeto pedagógico para que o jovem tenha desejo de permanecer
estudando. Só com qualidade é que mudaremos os índices. E isso deve ser feito
pelo Poder Público. O desafio é da gestão pública. Todos nós pagamos pela
educação e queremos que ela aconteça com qualidade”, pontuou.
A secretária de Educação criticou a posição dos
professores com relação à greve e acredita que os números poderiam ser
diferentes caso não houvesse tantas paralisações. “Enquanto houve um aumento na
taxa de reprovação na maioria dos Estados, o RN conquistou um bom resultado,
apesar da greve nefasta que enfrentamos no ano passado. Embora não tenha
influenciado decisivamente o número de reprovações, é preciso ressaltar que a
greve causou sérios efeitos na taxa de abandono escolar”. Até hoje, segundo
Betânia, a Seec contabiliza os prejuízos causados pela última greve.
O projeto “Conquista RN”, segundo a secretária, já é
realizado em algumas escolas, especialmente no período noturno. Nas aulas, são
utilizados material didático diferente bem como o uso de técnicas audiovisuais
de ensino. “Vamos inaugurar a segunda etapa do projeto em breve. No total,
teremos 40 salas de aula com esse projeto”.
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