A volta dos primos
Por Cassiano Arruda
no Novo Jornal.
A frustração da receita do Governo do Estado e a imperiosa necessidade de corte nos gastos da administração pública provocando uma guerra entre os Poderes, nos remete aos bons tempos da Rádio Nacional, primeiro veículo de comunicação capaz de cobrir todo o território brasileiro. Houve um programa humorístico que marcou época, “O Edifício Balança, mas não cai”. E nesse programa de enorme sucesso, um quadro se destacava sobre todos os outros, o “Primo Rico e o Primo Pobre”, caracterizando os desníveis de vida entre pessoas que tinham a mesma origem. Um sucesso tão grande que os mesmo criadores no rádio, Paulo Gracindo (o primo rico) e Brandão Filho (o primo pobre) recriaram os personagens depois de trinta anos para a televisão, num dos grandes sucessos da Rede Globo.
De forma bastante caricata, o quadro provocou risadas em diferentes gerações pelos desníveis no volume de recursos, e nas demandas, entre os dois personagens que marcavam o enunciado de cada esquete com o bordão “Primo, você é ótimo” e a resposta “Primo, você também é ótimo…”. Quem buscar na administração pública do Rio Grande do Norte uma analogia para representar o desnível entre diferentes órgãos de um mesmo organismo governamental não terá nada melhor do que o que era oferecido pelos dois saudosos humoristas.
Sem questionar a legalidade, nem buscar explicações para o fenômeno, a verdade é que no governo do Rio Grande do Norte existem Primos Ricos, que dispõem de um orçamento capaz de atender a todas as suas justas demandas (para o cumprimento de sua missão constitucional), mas com sobras para gastar em itens que nem podem passar pela imaginação de nenhum dos primos pobres do Governo.
Com a independência financeira, nosso Ministério Público é emblemático desta situação. A instituição vem conseguindo, a partir de uma generosa destinação de recursos orçamentários (garantidos pela maioria da Assembléia Legislativa), ter tantos recursos que lhe permite cuidar da blindagem dos seus carros de representação, montar uma rede de sedes em diferentes municípios (de fazer inveja a qualquer outra repartição), frota de motocicletas e motoqueiros para agilizar suas entregas de documentos, contratação de garçons, serventes e jardineiros. Uma capacidade de gastos supérfluos que só tem paralelo na nossa história nos gastos de Raul Capitão, quando descobriu uma mina de xelita e comprou até uma onça de circo…
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